Prólogo

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01/03/2023 – Quarta-feira

Cheguei na entrada do meu prédio com fúria nos olhos segurando uma caixa de papelão contendo meus pertences que ficavam no escritório, depois de cinco anos dedicados aquela porcaria de lugar meu detestável ex-chefe havia me demitido por não ter aceitado sair com ele.

Passo às pressas bufando pela portaria e só percebo que o Sr Juvenal está ali quando ele me cumprimenta.

— Boa tarde, Juliette! Nunca a vi chegar em casa tão cedo!

— Boa tarde só se for pra tu, visse? – respondi passando direto e me arrependendo assim que cheguei na frente do elevador, apertei o número do meu andar e voltei para pedir desculpas – Peço perdão, Sr Juvenal! – solto um longo suspiro – Estou em um dia péssimo, acabo de ser demitida, mas isso não justifica a forma que eu o tratei. O Sr pode me desculpar?

— Claro, filha! Você é sempre educada comigo, imaginei que havia acontecido alguma coisa, fique tranquila! – ele sorri para mim e completa – Quer ajuda pra subir com a caixa?

— Precisa não, ela tá leve, mas obrigada! – sorri para ele de volta e me virei assim que escutei o aviso da chegada do elevador – Agora vou me indo, me desculpa de novo! Xêro!

— Tchau, filha!

Entrei no elevador me apoiando no espelho após apertar o botão do meu andar, fechei meus olhos sentindo vontade chorar. As lágrimas começaram a escorrer em meu rosto assim que cheguei na porta do meu apartamento. Aos prantos, larguei a caixa na frente da minha porta e bati com desespero na porta da minha melhor amiga, e também vizinha de porta, que me atendeu prontamente.

— Que foi, Ju? – ela me pergunta com os olhos arregalados e eu a abraço antes de responder.

— Aquele filho da puta me demitiu, Josi! Tu acredita? – desabafei em prantos.

— Aquele teu chefe que te assediava? – ela pergunta levando-me para dentro e fechando a porta atrás de si.

— Sim! – sento em seu sofá e Josi me entrega um copo com água – Depois de todo sangue que dei por aquele escritório!

— Eu não entendo muito disso, mas tu é advogada, tem como tu processar ele não? – perguntou-me enquanto sentava ao meu lado.

— Ele é um dos maiores advogados desse país, tem vários amigos juízes e desembargadores. Eu fui muito burra, não tenho provas contra ele também e essa não é a pior parte!

— Oxente! O que é pior?

— Ele prometeu acabar com meu nome em todos os escritórios do país e que eu nunca conseguirei advogar, nem trabalhar com algo ligado à justiça.

— E ele tem esse poder todo?

— Tem sim! Tô muito fodida, amiga! Tenho poucas economias, não vão durar muito tempo!

Josi me olhou com pena antes de tentar me acalmar.

— Fique calma, minha amiga! As coisas vão melhorar, visse?

Não consegui dizer mais nada, eu sabia que ela não havia feito por maldade, mas eu odiava que sentissem pena de mim. Enxuguei minhas lágrimas com a manga da minha camisa social e me levantei para ir embora.

— Obrigada, por me escutar! Agora eu vou tomar um banho e ver alguma coisa pra comer!

— Por nada! Tu pode contar comigo sempre que precisar, visse? – disse ela me abraçando antes de abrir a porta para eu sair.

Peguei as chaves em minha bolsa para abrir a porta e chutei a caixa para dentro, fui direto para o banheiro e antes de entrar no banho olho meu reflexo no espelho, eu estava horrível com a maquiagem toda borrada, tirei minhas roupas e respirei profundamente tentando me acalmar entrando completamente debaixo do chuveiro sentindo a água escorrer pelos meus cabelos, lavá-los sempre me ajudava a esfriar a cabeça.

Apliquei o shampoo em meus cabelos massageando o coro cabeludo com a ponta dos dedos sentindo o relaxamento chegar.

Decidi que Dr Carlos Henrique Vargas era passado e só o futuro me importa agora.

⚖️ ¤ 👠

01/03/2023 – Quarta-feira

Meu telefone toca e ao olhar para tela leio pela décima vez a palavra 'mãe' que tentou me ligar várias vezes no decorrer do dia. Como eu estava na empresa preferi ignorá-la, mas já era tarde e eu não tinha como continuar usando a desculpa de que estava trabalhando.

Sorvi todo Whisky que restava no copo que eu bebia após um dia estressante de trabalho antes de atender a ligação.

— Oi, mamãe!

— Rodolffo Matthaus! É assim que 'ocê trata sua mãe? – diz ela me advertindo, não julgo, pois faria o mesmo no lugar dela – Tentei te ligar o dia inteiro!

— Me desculpa, eu tive várias reuniões hoje, não consegui olhar meu celular.

— Sei bem! Eu te conheço, meu filho, sei o quanto 'ocê é custoso!

— Uai! Tô falando a verdade, mamãe, acredita em mim! – respondo apelando para o amor dela por mim.

— 'Ocê conseguiu ao menos comer? – sinto meu estômago roncar com a pergunta me lembrando que havia apenas tomado um café pela manhã.

— Não tive tempo hoje, mas prometo que vou jantar bem, tá certo?

— Nada certo! Tem nada que ficar sem se alimentar só vivendo pra trabalho! A vida é mais que isso. Sabe do que 'ocê precisa?

— Do que? – perguntei mesmo sabendo bem a resposta.

— De uma esposa, filhos, de uma família...

— E o que isso tem a ver com o fato de eu não ter almoçado?

— Se 'ocê fosse casado não ia viver só pra trabalho, sabe? Em falar nisso...

— Huuum? – revirei meus olhos imaginando novamente o que ela ia falar.

— Eu quero te apresentar a Emily, filha da minha amiga Eloísa. Ela vai vir na festa em maio.

— Quer me empurrar outra filha de amiga, mãe? Sério?

— Ela é bem bonita e inteligente, filho, acho que 'cê vai gostar dela!

— Não precisa disso, mãe! – fechei meus olhos assim que uma ideia absurda surgiu em minha mente e falo sem ao menos pensar – Eu já tenho uma namorada! – menti descaradamente, após ter passado o dia sem comer e ter ingerido bebida alcoólica eu já não raciocinava direito.

— COMO ASSIM NAMORADA? – gritou ela em meu ouvido – QUANDO 'OCÊ PRETENDIA ME CONTAR ISSO?

— Não precisa gritar, mãe, tô contando agora, uai. – sirvo mais um copo de Whisky e bebo de uma vez para ter coragem de continuar mentindo – Ia ser surpresa, ela vai comigo pra Goiânia.

— E qual é nome dela?

— Não vou falar, 'cê vai conhecê-la em maio.

— E por que resolveu falar agora? – perguntou ela desconfiada.

— Porque te conheço e sei que 'cê ia encher a cabeça da filha da sua amiga de bobagem e ia decepcionar a moça quando eu chegasse aí com outra mulher.

— Sei... – disse ainda com tom de desconfiança na voz – 'Ocê promete que vai vir pra passar a semana aqui igual sua irmã? E sua namorada também? – completou com ênfase na palavra 'namorada'.

— Prometo, mãe! Nós passaremos a semana com 'ocês!

— Espero que não esteja mentindo pra sua mãe, Rodolffo!

— Não tô, agora deixa eu ir porquê preciso comer alguma coisa, tá! Beijo!

— Tchau, filho, beijo!

Desliguei o telefone e sentei novamente na cadeira pensando na loucura que fiz, sem ter a mínima ideia de onde eu vou tirar uma "namorada fake".

Olhei a garrafa de Whisky, mas desisti de continuar bebendo quando meu estômago roncou novamente.

Decidi que mereço jantar em meu restaurante favorito essa noite, afinal havia prometido a minha mãe que jantaria bem e não queria que essa fosse mais uma das mentiras que contei para ela hoje.

Meu perfeito parOnde histórias criam vida. Descubra agora