Capítulo 08

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29/04/2023 – Sábado

Acordei com meu celular tocando insistentemente, olhei espraguejando para o relógio me dando conta que ainda eram 08h00m da manhã.

— Quem liga em um sábado essa hora? – sento na cama e pego o celular olhando o nome na tela – Izabella! – suspiro e resolvo aceitar a chamada – Fala, Bella!

Ciao, fratello! É assim que 'ocê atende sua irmãzinha amada? – perguntou ela com ironia na voz.

— Uma irmã que liga uma hora dessas, sim! Por que 'cê tá me ligando?

Scusa! É culpa do jet lag, cheguei agora aqui em São Paulo pra resolver algumas coisinhas e mais tarde vou pro Rio, claro que pra sua casa!

— E por que 'ocê num vai direto pra Goiânia? – pergunto fazendo uma careta.

— Porque eu tenho um quarto aí e não aguento mais dormir em hotéis, caro! Tem algum problema eu ir pra sua casa?

— Não, 'ocê é mais que bem-vinda, mas... – tento pensar em uma desculpa para dar quando Bella interrompe.

— Eu sabia! – pude ouvir sua risada no outro lado linha – Essa história de namorada é tutti mentono! 'Ocê mentiu pra mama!

— Menti coisa nenhuma... – comecei a mentir descaradamente – Ela tá dormindo na minha cama, vai no salão fazer uns trens e depois vai ficar aqui comigo pra gente ir amanhã pela manhã pra Goiânia.

— Sei! E qual é problema de eu ir pra aí? – ela me pergunta com sua desconfiada insistência.

— Nenhum, só achei que era mais fácil ir direto pro Goiás, mas já que quer vir, a Ju tá doida pra te conhecer!

— Ju? Julia? Juliana? Jussara?

— Juliette!

— Que lindo! Mama não disse o nome della tua principessa.

— Eu não contei pra ela, quero que seja surpresa pra ela amanhã. Não fala nada, tá?

— Falo não, pode deixar! Vou chegar aí por volta das 21h00m, tá?

— Tá bom! Beijo, tchau!

Arrivederci, bacio!

Joguei os lençóis para o lado para ir ao banheiro, voltei ao meu quarto após terminar de escovar os dentes e refletir sobre o que fazer, a resposta era óbvia, a Juliette precisava vir para cá hoje e parecer estar aqui desde sempre.

Peguei meu telefone e liguei para ela.

— Alô, bom dia! Tu já tá vindo? – perguntou-me assim que atendeu.

— Ainda não, te liguei para dizer que vou precisar que venha pra minha casa hoje.

— Oxi! Por quê?

— Minha irmã chegou de Milão hoje e vai vir pra cá, vai com a gente amanhã pra Goiânia e ela precisa achar que 'ocê fica aqui comigo, sabe?

— Entendi... não tem problema, já tá tudo pronto aqui e eu já tava me arrumando.

— Ótimo, tô indo aí te buscar e já pegar as malas, chego daqui a pouco!

O transito do sábado era bem tranquilo e eu rapidamente cheguei ao prédio da Juliette que me esperava na portaria com duas malas grandes, buzinei assim que estacionei e logo saí do carro para ajudar.

— Bom dia, Ju! – falei saudando-a.

— Ju? – ela riu achando graça – Bom dia!

— A gente precisa fingir intimidade, uai! Daqui a pouco vou te chamar de amor também, já se acostuma com a ideia. – informei puxando as malas das mãos dela após abrir o porta-malas do carro.

— Eu tenho que te chamar como?

— Amor também.

— Posso te chamar de Rod?

Soltei uma risada indo abrir a porta do carro para ela que entrou no carro confusa.

— Ninguém me chama assim. – disse enquanto fechava a porta e dei a volta para sentar no meu lugar.

— Mas pense só, já que ninguém te chama assim fica mais "íntimo" – disse fazendo o sinal de aspas com os dedos – para um casal. Tu não acha?

— 'Ocê tem razão! Pode me chamar de Rod então!

— Ótimo! – ela deu um sorriso de triunfo antes de continuar – Eu tava pensando, é importante eu saber o nome das pessoas da sua família, sabe? E alguma coisa importante, pra parecer que tu me fala deles.

— Bem pensado... o nome do meu pai é Juarez, ele me ensinou tudo o que eu sei! Minha mãe se chama Vera, ela é a mulher mais doce que existe nesse mundo! Minha irmã caçula é a Izabella, nós a chamamos de Bella, ela se formou em Design de moda em Milão, sempre ia para lá nas semanas de moda, e já tem quase um ano que ela tá morando lá.

— E ela trabalha? – perguntou-me com verdadeira curiosidade.

— Sim, na empresa ela desenha alguns modelos de sapatos, alguns dos que te dei são criações dela, mas agora ela está em um projeto todo secreto de roupas, que são sua verdadeira paixão.

— Sua família é incrível, visse? – olhei em sua direção e para minha surpresa vi carinho em seus olhos, seu sorriso era muito sincero.

— Acho que eu também tenho que saber sobre a sua família, visse? – brinquei imitando-a.

— Minha história é bem mais simples que a sua!

— Mas eu quero escutar, por favor!

— Tá bom! Minha mãe, Fátima, era cabeleireira e tinha uma barbearia pequena na frente da nossa casa, meu pai, Lourival, era mecânico e só quando eu já era adulta ele teve uma oficina própria. – ela abaixou os olhos e percebi que a tristeza começou a abatê-la – Eles morreram em junho de 2018, seis meses depois que eu consegui me formar na Universidade Federal da Paraíba, como eu não tinha mais ninguém lá, vendi a casinha que morávamos e usei o dinheiro para Josi e eu virmos pro Rio.

— 'Ocê não tem irmãos?

— Tive uma irmã, Julienne... – seus olhos marejaram – Era dois anos mais nova que eu, com 17 anos ela teve um AVC e faleceu.

— Nossa, Ju! – peguei um lenço em meu bolso e entreguei a ela – Eu não queria fazer 'ocê sofrer... desculpa.

— Tudo bem, tu não sabia e não tem culpa de nada.

— Chegamos, Ju! 'Cê tá bem pra entrar? – perguntei assim que estacionei o carro no estacionamento do shopping.

— Tô sim. Oxi! Não era salão que a gente ia? Por que estamos no shopping de novo?

— Porque eu marquei hora para 'ocê no salão da amiga da minha irmã que fica aqui, quero que ela nos veja e reforce pra Bella.

Tentei animá-la durante o caminho até o salão e aos poucos ela foi ficando com uma aparência melhor de novo, assim que nos aproximamos do salão eu peguei sua mão entrelaçando meus dedos aos dela que me olhou confusa.

— O salão é ali, melhor entrarmos assim. – ela apenas assentiu e nós entramos no salão sorrindo parecendo dois pombinhos apaixonados.

Meu perfeito parOnde histórias criam vida. Descubra agora