Capítulo 03

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26/04/2023 – Quarta-feira

Acabei de chegar de outra entrevista de emprego que não passei para ser vendedora na farmácia do bairro. Deram o feedback de que eu não tinha o perfil necessário para a vaga e me descartaram.

Josi e eu estávamos desoladas levando em consideração o fato do vinho que sobrou ser ruim e a ressaca que teríamos no dia seguinte ser ainda pior, mas no final das contas resolvemos abri-lo na tentativa de esquecer os problemas mesmo que momentaneamente.

— Isso não é possível, Ju! Como assim não tem perfil? – perguntou Josi sentada ao meu lado no sofá.

— Dificilmente contratam advogados para outros trabalhos. – respondi sem conseguir parar de encarar o teto.

— Mas por quê?

— Porque nós conhecemos as leis, medo de processo... essas coisas.

— Que pena, amiga! — diz Josi com tom de frustração na voz.

— Eu sei, mas vai melhorar, amiga, tenho fé!

— Assim que fala uma mulher arretada!

Sorrio para ela mesmo que essa expressão nada tem a ver com a maneira que me sinto por dentro: um lixo descartado em qualquer lugar e chutado por qualquer um.

Perco-me em meus pensamentos ruins quando meu celular começa a tocar e ao olhar a tela vejo que o número é restrito. Resolvo não atender, já que após estar com as contas atrasadas tenho certeza que é cobrança.

— Tu não vai atender? – Josi me questiona.

— Não, é um número restrito, deve ser cobrança. – suspiro alto – Não quero me sentir pior do que tô agora, visse?

— Atende, mulher! Pode ser a Luxury, eles ligam de número restrito. Se não for tu desliga!

— Tááá! — atendo a chamada seguindo seu conselho — Alô.

— Olá, Brigitte, aqui é da Luxury Company, tudo bem? — virei em direção a Josi com meus olhos arregalados e vejo ela gesticular me perguntando quem é.

— Tudo! — respondo colocando o celular no viva voz.

— Ótimo! Um cliente entrou em contato interessado em contratar seus serviços. Primeiro quer te encontrar amanhã pela manhã para tomar um café no centro do Rio, este serviço custa R$ 500,00 e você receberá 30%.

— Vou receber R$ 150,00 pra tomar café com ele? – perguntei após fazer a conta rapidamente em minha cabeça.

— Sim, e isso não é tudo. Ele quer te conhecer porque tem interesse em contratar você pelo pacote premium diamante. Você tem interesse?

— Ah... – é a única coisa que consigo dizer até ver Josi com a boca aberta de surpresa me deixando curiosa para saber o motivo dessa reação – Só um momento. – digo antes de colocar o celular no mudo – Que cara é essa, mulher?

— Esse é o pacote mais caro da agência, nem sei se alguma menina já foi contratada por ele... – responde ela ainda incrédula.

— E o que eu faço? – pergunto me sentindo ainda mais nervosa.

— Aceita agora! Tu precisa!

Faço o movimento de sim com a cabeça meio que automaticamente e tiro o celular do mudo.

— Oi! Eu vou querer sim!

— Ótimo! Vou mandar o local e o horário que ele marcou pra te encontrar por SMS.

— Tá bom! Tchau.

— Tchau!

Tampo meu rosto com as duas mãos sem saber se havia feito a coisa certa quando Josi pula em cima de mim me abraçando.

— Nem acredito, Ju! Esse dinheiro vai te ajudar por um bom tempo!

— O que tu sabe sobre esse pacote? – perguntei com curiosidade.

— É o de mais tempo, parece que esse cliente vai precisar de tu por um mês, se não me engano o pacote é de R$ 30.000,00 e tu recebe 30% disso.

— Então vou ganhar R$ 150,00 por um café e... – faço a conta mentalmente de novo – R$ 9.000,00 pra... – entro em desespero com medo de terem se enganado e me colocado como garota de programa – O que eu vou ter que fazer pra ganhar esse dinheiro, Joseane? – perguntei com a voz alterada.

— Calma, Ju! Os pacotes são separados e esse é exclusivo para acompanhantes mesmo, deve ser só um velho broxa que quer desfilar com uma mulher bonita ou algum gay que precisa fingir ser hetero. – ela sorri para mim com uma expressão divertida – Tu vai em festa chique, vai comer bem, e melhor ainda, beber vinhos de boa qualidade, visse?

— Acho bom que seja isso, porque não achei meu priquito no lixo pra dar pra qualquer um! Sem querer te ofender, visse?

— Não me ofendeu, só relaxe.

— Eita gota! Ela não disse o nome do cabra, como eu vou achar ele?

— Ele viu sua foto, então ele vai te achar, Ju! — ela responde na tentativa de me tranquilizar.

— E se ele não gostar de mim?

— Não fica pensando nisso agora, só seja você mesma, tá?

— Tá!

Fico em silêncio encarando a parede do apartamento enquanto reflito sobre a situação mais louca em que eu já fui parar e estou disposta a tentar mesmo estando com medo.

Fecho os olhos e me concentro em pensar que não estou fazendo nada de errado. Eu preciso desse dinheiro!

— Acho que vou parar com o vinho, preciso estar bem amanhã... – comento distraidamente.

— Também acho, Ju! Já sabe qual roupa vai usar?

— Sei não, mulher! Minhas roupas pra trabalhar são todas discretas demais, terninhos, saias até os joelhos, camisas sociais... e acho que não tenho nada sexy. Preciso usar algo sexy?

— Claro que não, mulher! Como acompanhante o ideal é ir discreta, roupas normais como se... como se tu fosse num cinema, visse?

— Acho que sei... tu me ajuda? – peço fazendo voz doce.

— Claro!

Após escolhermos um look, Josi precisou ir se arrumar, pois tinha um compromisso com um cliente e eu tive que ficar sozinha com meu nervosismo.

Ainda não conseguia entender de onde eu tirei coragem para entrar de cabeça nessa loucura e agora já estava feito.

Não vou me acovardar e desistir agora, pelo menos ir ao encontro no dia seguinte me serviria para pagar a conta de água que estava atrasada e se ele não gostasse de mim, paciência, pelo menos eu teria um problema a menos para pensar.

Meu perfeito parOnde histórias criam vida. Descubra agora