Capítulo 21

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04/05/2023 - Quinta-feira


Acordei toda dolorida e cheia de vergonha. Tive dificuldade em pegar no sono na minha cama improvisada no chão com as lembranças da noite me assombrando e depois lembrando da cena realmente dava para ver as mãos dele nos ombros da Emily tentando afastá-la.

O pior de tudo foi ter a certeza de que eu estava me apaixonando por Rodolffo, pois conclui que eu realmente tinha sentido ciúmes dele e na hora eu fiquei cega, eu nunca tinha visto um homem como ele.

Tive três namorados na época que morava em Campina, dois deles foram relacionamentos abusivos e o terceiro me traiu com a minha vizinha.

Já Rodolffo, além de ser o homem mais lindo que já vi em toda a minha vida, era gentil, educado e fazia qualquer coisa para eu me sentir confortável mesmo a gente não tendo nada de verdade.

Levantei esticando meus braços tentando dissipar a dor que sentia no corpo, vi no celular uma notificação de mensagem da Josi e entrei no banheiro para falar com ela por chamada de vídeo.

— Então tu tá viva, mulher? – disse ela ao me atender.

— Desculpa, amiga! É que eu tenho ajudado aqui com a tal festa, tô quase sem tempo.

— Ah sim! Tu quase não respondia, tava ficando preocupada já. E como tá aí?

— Tudo ótimo! – menti, não queria deixá-la preocupada comigo.

— E o gostosão? Tu tá resistindo a ele ou ele é gay mesmo?

— Ele não gay, tenho certeza! – afirmei com convicção.

— Sua safada! Tu deu pra ele! Eu sabia que tu não ia resistir, visse?

— Oxente! Não dei nada pra ele, largue de ser enxirida!

— Então como tu tem certeza? Me diga!

— Porque a gente precisou dar um beijão daqueles pra enganar a família dele. – fechei meus olhos com a lembrança – Que beijo, mulher! Não tem como esse homem não gostar da fruta, visse?

— Entendi... só cuidado tá?

— Fique tranquila, ninguém vai me matar aqui, são todos do bem! – falei da família do Rodolffo e fiz uma careta ao lembrar da Emily e sua mãe.

— Não tô falando disso! Tô falando do seu coração, dá pra ver seus olhinhos brilhando quando tu fala do gostosão.

— Nada a ver, acho que nós meio que somos amigos e ah... – falei mentindo para nós duas – ele vai me ajudar a processar o Dr Filho da Puta Vargas!

— Que incrível! Eu já gosto desse cabra, visse? Ele é arrochado!

— Rodolffo? Arrochadíssimo! – falei séria, mas logo caímos na gargalhada. – E tu, como tá?

— Tô bem, amiga! Levando, né? Mas eu sinto que nossas vidas vão mudar!

— Amém! Agora eu vou desligar, tá? Rodolffo deve tá acordando.

— Tá! Xêro!

— Xêro!

Desliguei o telefone e fiz minhas higienes devagar criando coragem para sair e chamar Rodolffo para conversar, até não ter mais com o que enrolar e o momento de sair e encará-lo chegar.

— Ei, bom dia! – falei ao sair do banheiro e encontrá-lo sentado na cama meio desorientado.

— Bom dia! – ele coçou os olhos – 'Ocê deve tá toda dolorida, né? Dormir nesse chão é paia demais.

— Dormir no chão é super ortopédico, estou me sentindo ótima, visse? – menti com ar de confiante, nunca daria o braço a torcer sobre minha pirraça da noite anterior.

— Tô sabendo disso aí não, mas se 'ocê tá dizendo que tá bem... – ele soltou um suspiro – Hoje 'ocê dorme aqui e eu no chão, me senti muito mal vendo 'ocê dormindo no chão.

— Não precisa... – ele ia começar a argumentar e eu interrompi – tudo bem nós dois dormirmos na cama hoje, se não houver problema pra tu...

— Problema nenhum, Juliette!

— Ótimo! Outra coisa... – me sentei na beira da cama olhando para ele – eu queria te pedir desculpas por ontem, não sei direito o que me deu! Eu acho... – parei no meio da frase para organizar meus pensamentos.

— O que 'cê acha?

— É que tu é tão legal comigo que eu... eu te tenho como amigo, sabe? Sei lá! Foi difícil ver um amigo beijando uma pessoa que eu não gosto. Tu me desculpa?

— Desculpo sim, Ju! Só que eu não beijei ela, foi ela que veio com papo de chamar ela pra jantar, aí eu menti dizendo que ia te pedir em casamento. – eu senti meu coração pular dentro do peito, mas segui firme – Aí ela disse que não era justo e que merecia uma chance e fez aquilo. – continuei muda e ele soltou um longo suspiro – Eu tava cansado e chateado com tudo ontem, mas isso não justifica a maneira que te tratei e as coisas que falei. 'Cê me desculpa?

— Sim! Nós dois estávamos cansados ontem e parece que a Emily consegue aflorar o que há de pior em nós dois. Por mim o assunto está encerrado!

— Por mim também! Só faz o possível pra não me deixar mais sozinho com ela, tá?

— Pode deixar!

— Outra coisa, Ju! Como 'ocê sabe eu mandei rescindir o contrato com o porco do Dr Vargas e com isso o jurídico da Matthaus vai precisar de advogado trabalhista, pensei em te oferecer o cargo...

Ai meu Deus! Essa seria a chance da minha vida de trabalhar como advogada, mas em contrapartida teria que trabalhar com Rodolffo e eu não sei se seria bom para mim conviver com o homem que poderia, ou não, estar apaixonada.

— Obrigada por pensar em mim... – iniciei sem saber o que responder – Tu me dá um tempo pra pensar?

— Precisa pensar ainda? É a chance de 'ocê largar essa vida de acompanhante que 'cê me disse que não quer pra trabalhar com o que 'cê estudou pra ser!

— Eu sei, Rodolffo, mas eu preciso pensar. Só te peço uns dias, tá?

— Olha, eu não entendo! – a expressão no rosto dele era realmente de confusão – Mas tá, se 'cê quer pensar eu espero.

Eu concordei com a cabeça ao mesmo tempo que bateram na porta.

— Quem é? – perguntou Rodolffo.

Sono io! – respondeu Bella.

— Espera! – corri e destranquei a porta – Bom dia, Bella.

Buongiorno! Desculpa incomodar 'ocês, mas é que na confusão de ontem meu celular caiu e quebrou, vou no shopping comprar outro depois do café. 'Cê vem comigo, Ju?

— Claro que sim! – respondi imediatamente – Mas o que aconteceu ontem?

— A mamãe ficou com muita raiva da Emily, por sua causa! Aí ela brigou feio com a ela e com a mãe. – Bella levou a mão a boca para segurar o riso – Bem, elas foram desconvidadas pra festa de sábado e nós nos livramos dela, per sempre!

— Que bom... é... já desço pro café pronta pra ir contigo, tá?

— Tá, tô descendo já!

Esperei Bella descer as escadas e fechei a porta antes de olhar incrédula para Rodolffo.

— Tua mãe brigou com elas por minha causa?!

— É o que parece! – Rodolffo juntou as sobrancelhas com preocupação.

— Por que essa cara, Rodolffo?

— Nada não! Vamos nos aprontar logo que eu tenho coisas pra resolver da empresa hoje! – ele disse antes de se levantar e entrar no banheiro.

Fiquei alguns segundos parada encostada na porta tentando entender a expressão dele.

Será que ele tinha ficado chateado da mãe dele ter brigado com as duas?

Meu perfeito parOnde histórias criam vida. Descubra agora