Capítulo 06

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27/04/2023 - Quinta-feira

O trânsito estava péssimo no percurso do Centro para a Barra e demoramos quase o dobro do tempo normal para chegar, quase não conversamos mais, já que Juliette, que graças a Deus tinha um nome bonito, parecia bem nervosa e eu preferi deixá-la acostumar-se com a ideia.

Quando finalmente chegamos ao shopping eu percebi que Juliette não estava à vontade naquele ambiente.

— Ei! Relaxa, Juliette! – falei enquanto andávamos lado a lado.

— Desculpa! É que nunca entrei em nada tão chique, visse? – respondeu-me.

— Mas não tem nada demais aqui, uai! Ninguém vai reparar que é sua primeira vez.

— Tem um monte de gente bem-vestida, olha só tu, tava de terno aí tirou o paletó e a gravata e tá combinando com tudo, já eu tô destoando.

A olhei de cima abaixo reparando sua roupa, ela usava uma calça jeans clara básica, uma camisa preta com estampa dos Rolling Stones, um sapato Oxford de couro preto sem salto e uma bolsa a tira colo, era uma roupa normal de alguém que ia ao um shopping à tarde.

— Na verdade nós dois estamos destoando um do outro, mas não vejo problema algum com sua roupa. – tentei tranquilizá-la – Aqui, chegamos! – disse assim que chegamos na loja.

Ela olhou para a fachada da loja e deu uma parada com a boca aberta.

— Eita gota, essa loja é sua? – perguntou.

— É da minha família, eu sou só o CEO...

— E tem outras?

— Sim! Prometo te contar tudo depois, mas agora vamos entrar. – disse estendendo uma mão para ela que pegou com relutância.

Entramos juntos na loja, sentia que suas mãos estavam um pouco suadas de nervoso e apertei levemente tentando acalmá-la.

— Boa tarde, Sr Matthaus, não sabíamos que viria. Está tudo bem? – disse Paola, a gerente da loja.

— Boa tarde! Tudo ótimo Paola, vou precisar de um favor seu!

— Claro! Em que posso ajudá-lo?

Olhei para Juliette que encarava o chão sem saber o que fazer, ela havia soltado minha mão e cruzado os braços para frente.

— Preciso de alguns pares de sapato para minha amiga aqui número... quanto 'cê calça mesmo, Juliette? – perguntei virando-me em sua direção.

— Como? – perguntou ela me encarando com expressão confusa.

— Qual número 'ocê calça? – repeti.

— Ah, tá! 37.

— Pronto. – voltei minha atenção para Paola – Traga os da última coleção número 37, por favor.

— Ok. Venham comigo! – Paola nos guiou até as cadeiras para que Juliette provasse os sapatos – Sentem-se aqui, por favor e fiquem à vontade! Vou pedir para que tragam os sapatos e champagne para vocês, só um momento. – disse antes de afastar-se.

— Champagne? – perguntou-me Juliette baixinho.

— Sim! Os nossos clientes merecem o melhor! – respondi.

Meu telefone tocou e vi que meu pai me ligava ao olhar para a tela.

— Oi, pai! Só um momento! – coloquei meu celular no mudo – Juliette, vou atender essa ligação, 'ocê pode ficar à vontade aí. – ela apenas concordou com a cabeça e levantei indo para um canto da loja.

— Deixe-a à vontade enquanto eu atendo essa ligação. – pedi ao passar por Paola.

— Sim, senhor!

Retirei o celular do mudo quando cheguei a um ponto particular da loja.

— Oi, desculpa, pai! Tá tudo bem?

— Tudo, filho! E você tá como?

— Bem também! Me ligou por quê? A mamãe tá bem? – perguntei com preocupação na voz.

— Tá bem, filho! Só... na verdade foi por isso que te liguei. – respondeu ele com o tom de voz mais sério que ele tinha.

— Qual motivo?

— Sua mãe tá sonhando que você vai trazer uma namorada pra cá e eu sei que você tá mentindo pra ela.

— Não tô mentindo, papai! Eu tenho uma namorada e nós vamos no domingo pra ver 'ocês.

— Você quer que eu acredite nisso? Você que só sai com modelos e nunca repete a mesma mulher desde que terminou com a Rafa?

Meu pai realmente acreditava que eu ainda era apaixonado pela minha primeira namorada, Rafa, na época não terminamos bem, mas agora nós éramos grandes amigos e ela já estava noiva de um cara que combinava bem mais com ela do que eu.

— Esquece a Rafa, papai! Nós somos amigos, ela tá noiva... e eu tô namorando firme mesmo.

— Sei bem! Você vai é chegar aqui sozinho dizendo que terminou, vai inventar uma historinha pra sua mãe e ela vai sofrer. Acho melhor me contar a verdade agora, que eu falo com ela e corto as expectativas dela com jeitinho.

— Que merda, pai! – passei as mãos pelos meus cabelos – Eu tô dizendo a verdade pra 'ocês! Eu tenho uma namorada e ela vai comigo.

— Olha, se 'ocê fizer sua mãe sofrer, eu nem sei do que sou capaz de fazer! – disse ele claramente me ameaçando.

— Pode deixar! Era só isso? Porque eu tô muito ocupado hoje.

— Era só isso mesmo, mas olha! Eu tô de olho.

— Tá bão, pai, tchau!

— Tchau.

Desliguei meu telefone sentindo as minhas costas tensas, regulei minha postura e olhei em direção a Juliette. Ela parecia muito mais à vontade agora, havia prendido os cabelos em um coque alto e deixado alguns fios soltos caindo levemente em seu rosto.

Paola e Larissa a ajudavam a provar os sapatos e ela sorria para elas, um sorriso involuntário brotou em meus lábios antes de me juntar a elas novamente.

— E aí, Juliette, gostou? – perguntei-a animadamente.

— Sim! – respondeu ela com empolgação – Eu nem sei qual deles escolher, visse? É um mais lindo que o outro!

— 'Ocê não precisa escolher, são todos seus! – as três pararam o que faziam e olharam em minha direção boquiabertas.

— Que? – perguntou Juliette com os olhos arregalados.

— Isso que 'cê escutou! São todos seus! – Juliette corou olhando para baixo, olhei de canto de olhos e as meninas entreolharam-se reprimindo um sorriso – Podem empacotar tudo.

— Enviamos para algum lugar? – questionou Paola.

— Não, nós vamos levar agora!

— Certo, vamos Larissa!

As duas trabalharam rapidamente recolhendo tudo e levando ao balcão para colocar as caixas nas sacolas enquanto Juliette calçava os sapatos dela.

— Ei, Rodolffo, tem certeza? Tem uns 10 pares aí e devem custar uma fortuna! – perguntou Juliette assim que as meninas saíram.

Foi a primeira vez que ela disse meu nome, não sei explicar o que senti na hora, mas a sensação era boa. Sorri para ela antes de responder.

— Tenho! São todos seus!

— Mai eu acho que nem vou precisar usar isso tudo... – ela olhou para os dois lados antes de continuar baixinho – é uma semana só, esquecesse?

Meu perfeito parOnde histórias criam vida. Descubra agora