Capítulo 05

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27/04/2023 – Quinta-feira

Parei de comer e fiquei encarando a metade da torrada no prato enquanto refletia, eu não imaginava que ele perguntaria tanto sobre a minha vida.

Estava tudo muito estranho, mas o mais esquisito era a aparência dele. Era um homem jovem, alto, com barba e cabelos cortados simetricamente... apenas o homem mais lindo que eu já vi em toda a minha vida na minha frente enquanto eu esperava um velho broxa ou...

— Tu é gay? – levantei minha cabeça para encará-lo e perguntei sem pensar me arrependendo logo em seguida, para minha surpresa ele apenas sorriu achando graça.

— Não sou. – ele esfregou os olhos e insistiu querendo saber meu nome – Me diga seu nome e eu te explico tudo!

Encarei novamente o bonito rosto dele e concluí que lhe dizer meu primeiro nome não traria problema algum, afinal, existiam muitas Juliettes por aí.

Solto um suspiro de redenção e respondo.

— Juliette, e é a única coisa que vou falar, visse? – declaro com veemência.

— Bonito nome, combina muito mais com você. – percebo o alívio em suas palavras, mas trato de cobrar a promessa que ele fez.

— Pois agora desembuche e me conte todo esse moído aí.

— Certo! Sei que pedi o pacote de um mês, mas somente para me precaver de alguma eventualidade. A priori eu vou precisar de 'ocê por uma semana, na verdade já na próxima semana. – ele dá uma pausa e eu gesticulo pra que ele continue – Meus pais vão fazer uma festa de bodas de esmeralda, em comemoração aos 40 anos de casados no sábado da semana que vem. Eu não tenho como negar o convite e todas as vezes que vou pra lá minha mãe tenta me empurrar as filhas das amigas dela...

— Oxi! Tu disse que não é gay. – interrompi e logo me arrependi – Desculpa! Pode continuar!

— Eu não sou gay, só não tenho a mínima pretensão de casar. – ele parou para dar um longo suspiro – Continuando, eu menti dizendo que tinha uma namorada e que a levaria para passar a semana em Goiânia e a comemoração.

— Aaaaah! Então tu quer que eu finja que sou sua namorada pra enganar tua família? – ele confirma com a cabeça – E não era mais fácil achar uma de verdade?

— Não tenho tempo pra namorar e também não quero me relacionar com alguém, Juliette! – senti os cabelinhos da minha nuca arrepiarem quando ele disse meu nome, peguei meu suco e bebi um bom gole para disfarçar e continuei ouvindo atentamente ao que ele falava – Então... viajaremos agora no domingo pro Goiás e voltaremos no domingo seguinte, ficaremos na casa dos meus pais e eu juro pra 'ocê que só precisaremos fazer coisinhas sutis de gente apaixonada na frente das pessoas e nada mais.

Tento organizar minha mente depois de tanta informação e não resisto em pensar que não seria ruim dar uns beijinhos naquele homem. Logo reprimo meus pensamentos e resolvo aceitar o plano, ele pagaria por um mês o que ele precisa por apenas uma semana, isso é melhor do que imaginei.

— Tá certo! Eu aceito sua propo... – paro no meio da palavra lembrando de um grande empecilho.

— O que foi? – ele me pergunta preocupado.

— Eu... eu não tenho roupas pra esse tipo de coisa, tenho coisas básicas e roupas que usava para trabalhar. Sinto muito, mas terei que recu...

— Isso não é um problema, Juliette! – disse ele ao me interromper – Eu compro roupas novas pra 'ocê, bolsa e tudo mais que 'cê precisar.

— Mas se tu me der essas coisas eu não vou receber nada, e eu preciso é do dinheiro, visse?!

— Vai sim! Eu vou te dar tudo à parte da contratação. 'Cê aceita?

"Pensa no dinheiro que tu precisa, Juliette! No dinheiro!" – fico repetindo esse pensamento como um mantra e respondo:

— Sim, aceito!

— Ótimo! – ele solta um suspiro de alívio e pede que o garçom traga a conta – Só um momento, Juliette. – ele pega seu telefone discando rapidamente e colocando em sua orelha – Bom dia, Lurdes! Cancele todos os meus compromissos de hoje, diga que preciso resolver uma questão particular, ok? Tchau.

— Pronto, aqui está Sr Matthaus. – disse o garçom ao chegar com a conta e a maquininha de pagamento.

Nós levantamos assim que ele terminou de pagar a conta e não passou despercebido por mim a maneira que o garçom o chamou.

— Matthaus? – perguntei assim que saímos da cafeteria – Não foi o nome que me disse.

— Sim, é meu sobrenome, Rodolffo Matthaus. – esse sobrenome não era estranho para mim, varri minha mente na tentativa de lembrar de onde conhecia e não consegui lembrar – Agora vamos, entre no carro! – estava distraída pensando no sobrenome e não percebi que ele havia me levado até seu carro.

— Vamos pra onde? – perguntei sem entender o que ele pretendia.

— Pro shopping comprar tudo que 'ocê precisa. – respondeu ele com impaciência segurando para mim a porta da sua luxuosa BMW preta.

— Mas agora? – perguntei entrando obedientemente no carro.

— Uai! Vamos esperar pra quê? – ele deu a volta e sentou no banco ao meu lado – Preciso de 'ocê pronta no domingo já, temos pouco tempo. – olhou para mim – Põe o sinto, Juliette!

— Eita! – coloquei rapidamente o cinto – Qual shopping nós vamos?

— VillageMall.

— E fica onde?

— Na Barra da Tijuca. – ele me olha com espanto – Não conhece?

— Não! Por que não vamos em um mais perto daqui? – estávamos no centro do Rio de Janeiro eu não entendia a necessidade de ir para a Barra da Tijuca.

— Porque é o único shopping que eu tenho loja aqui.

— Tu tem uma loja em um shopping da Barra? – perguntei com a voz alterada.

— Sim. – respondeu ele dando uma risadinha.

— É uma loja de que?

— Sapatos femininos, vamos passar lá pra pegar alguns pra 'ocê.

O homem era dono ou herdeiro da grife de sapatos femininos Matthaus.

Será que era daí que eu lembrava do sobrenome?

Provavelmente sim, não me lembrei de cara porque nunca tive a oportunidade de ter algo de grife e logo me perdoei por não ter conseguindo lembrar no início.

Isso significava que ele podia comprar meu prédio e a rua inteira que eu morava, caso ele quisesse. Senti o medo crescer dentro de mim e voltei a repetir meu mantra:

"Pensa no dinheiro que tu precisa, Juliette! No dinheiro!"

Meu perfeito parOnde histórias criam vida. Descubra agora