Capítulo 9 - Descobertas

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Naquele dia, Yibo e Zhan terminaram o trabalho mais cedo. Era sexta-feira e o mais novo iria ao bar da cidade. Tinha se tornado um hábito a essa altura, mas essa noite seria especial, visto que era o aniversário de Haikuan, dono do bar.

Saindo do estábulo para tomar um banho e se arrumar, Yibo percebe que o chão próximo a uma árvore está repleto de pequenos frutos roxos. Ele pega alguns e descobre que são amoras. Yibo lembra que sua mãe costumava fazer geléia quando ele era criança, sendo a de amora sua preferida.

Zhan se aproxima dele e coloca as mãos na cintura antes de falar.

– Você vai comer todas elas? Cuidado hein, elas são bastante digestivas.

Yibo balança a cabeça de um lado para o outro em negação. Ele não lembra de ter nenhum piriri por causa de amoras antes, mas ele agradece o conselho do primo balançando a cabeça.

Mais tarde, enquanto Yibo ajeita a gola da jaqueta jeans em seu quarto, ele nota Zhan entrando pelo reflexo no espelho. Ele se vira completamente surpreso.

Esse cara não vai fazer o que eu acho que ele vai fazer...Ou vai?

– Ok, pirralho insistente. Você venceu, eu vou com você hoje. Eu só não vou beber porque quero voltar dirigindo.

Yibo e Zhan descem da camionete em frente ao bar e se dão conta que a comemoração é maior do que imaginaram. Além do espaço do saloon, que já é amplo, um tipo de tenda contínua foi preparada do lado de fora, aumentando ainda mais a área da celebração. A música rola solta e vários casais estão dançando na área externa e interna. Garçons andam de um lado para o outro, contornando as mesas e levando pedidos.

– Uau, eu não esperava que seria assim. – Yibo sorri e olha para Zhan que está com um rosto de "O que é que eu vim fazer aqui?".

– Eu escolhi o melhor dia.

A ironia óbvia na voz do mais velho faz Yibo bater nas suas costas como um incentivo para que eles entrem. Dessa vez, ele sabe que Zhan não ficará bêbado e nem em um milhão de anos seu primo ficará sozinho por muito tempo. Prova disso são os olhares que são lançados para ambos assim que eles entram no bar e são recebidos pelo aniversariante.

Haikuan é um homem alto, tem mais ou menos a mesma idade de Zhan, mas é infinitamente mais bem humorado. Algo nele fazia Yibo se sentir sempre bem-vindo, talvez fosse um dom nato do empresário que desde a inauguração, tem casa cheia todos os fins de semana.

Yibo encontra rostos conhecidos desde que começou a frequentar o bar, alguns também são conhecidos de Zhan.

Mais tarde, Zhan está com a mão envolta na cintura de uma moça de sorriso amplo e cabelos longos ondulados. Eles tinham dançado bastante juntos. O fazendeiro ainda estava com o coração partido, mas sentia que era bom conversar e conhecer novas pessoas. Também era bom perceber que a mulher à sua frente nesse momento não tinha intenção nenhuma de sair de seus braços. Há muito tempo que ele não fazia isso e a ideia de passar a noite com ela, ou melhor, em cima dela, não pareceu ruim.

Foi quando Yibo surgiu com as bochechas super coradas e lábios brilhantes. Ele tinha perdido contato com o primo um par de horas atrás.

– Zhan, é... Uh....

– Cuspa, Yibo!

Para sua surpresa, Yibo realmente cuspiu ao lado antes de falar.

– Eu vou ficar por aqui essa noite. Você pode ir, eu, bom... Eu dou meu jeito amanhã.

Zhan sorriu ladino. Era óbvio que esse cara estava tendo pensamentos bem parecidos com os dele. E quem seria ele para cortar isso? Eles eram homens solteiros, porra. Sair para foder de vez em quando era bom, afinal de contas. Zhan apenas acenou em concordância.

–Yibo?!

– Hm?

– Certifique-se de deixá-la muito satisfeita.

– Digo o mesmo pra você. – Uma piscadela final e os dois se despediram sorridentes com o desfecho da noite.

Zhan chegou em casa pouco antes do nascer do Sol. Ele e a mulher de cabelos escuros tinham passado a noite transando no motel da cidade. Ele tinha dado carona a ela e recusado seu convite para entrar. Ele estava satisfeito, ou melhor, seu corpo estava satisfeito. Embora sua mente e coração ainda não estivessem tão "regenerados" quanto ele gostaria, era agradável ter novas sensações depois de tanto tempo. Era nisso que ele pensava enquanto tomava um copo de água na cozinha e olhava os primeiros raios solares.

Foi quando uma camionete de luxo parou em frente à porteira. Zhan sabia que era um modelo novo e bastante potente, ele sempre quis comprar uma, mas nunca teve dinheiro suficiente. De dentro do carro, saiu um cara de cabelos castanhos desalinhados. Era Yibo. Ele bateu a porta, mas antes que pudesse se afastar do carro, o motorista saltou também e...

Caralho!

Prensou seu primo contra a porta e moeu seu corpo contra o dele, uma, duas, três vezes. As bocas dançavam uma na outra e Zhan preferiu fechar a cortina, deixar seu copo na pia e subir logo as escadas. Era um momento íntimo e ele nem deveria ter visto nada. O pirralho era jovem e estava vivendo. Mas eles... Definitivamente precisavam conversar. Zhan já havia adiado demais esse momento.

Perto do meio dia, Yibo finalmente desceu as escadas. Ele estava com cara de sono, mas parecia relaxado. Zhan tinha levantado e esquentado as sobras do almoço de sexta. Nenhum dos dois estava com muito ânimo para cozinhar.

Eles sentaram à mesa para comer e Zhan tomou coragem para puxar o assunto que ele queria.

– Então, como foi a noite ontem?

– Foi muito... Boa. – o sorriso final de Yibo disse muitas coisas além do "boa" e qualquer homem seria capaz de entender. – E a sua?

Zhan não pode deixar de sorrir também.

– Posso dizer que foi tão boa quanto a sua.

– Nããão. Acho que a sua foi um pouco diferente.

A frase toda foi dita tão baixa por Yibo que Zhan poderia ter ignorado, mas ele sabia exatamente o quão diferente ela tinha sido.

– Você fala por causa do cara que te trouxe hoje de manhã?

Yibo engasgou tão forte que Zhan ficou com medo que ele realmente fosse ficar sem ar. Com alguns goles de água depois, eles voltaram a se encarar. Yibo com uma expressão que exalava tensão.

– O que você viu, Xiao Zhan? – o tom ríspido pegou Zhan desprevenido.

– Ei! Eu não fiquei espiando ninguém...Eu só esperei você vir para abrir a porta e, enfim. Você sabe como foi a despedida.

– E então? Quer que eu faça as malas até o final do dia?

Zhan largou o garfo na mesma hora e olhou para Yibo com a testa franzida.

Esse garoto acha que eu vou expulsá-lo? Por quê?!

– Não, Yibo. Eu nunca faria isso sem motivo. Mas ok, já que eu imagino qual é o seu medo, eu preciso ser sincero e dizer que nem todo mundo pensa assim por aqui. Essa cidade é pequena e a maioria das pessoas tem uma mentalidade muito atrasada em relação à sexualidade. Eu não sou uma delas, mas aconselharia você a tomar cuidado.

– Agora você vai dizer que não tem nada contra e até tem amigos que são, mas que pessoas como eu não precisam ser tão óbvias, em outras palavras, não têm o mesmo direito dos outros de ser quem são... Acertei?!

– Jesus! Yibo, não! Não é isso que eu quero que você entenda, eu... Ok, vamos começar de novo. – Zhan respirou fundo e fixou os olhos nos do primo – Você lembra quando eu disse que o... O nosso pai teve alguém, mas o relacionamento não foi pra frente?

Yibo estava ficando mais inquieto. Além disso, Zhan nunca tinha se referido a Wang Zhou como nosso pai, isso o acalmou de alguma forma, mas não o suficiente. Se Zhan resolvesse fazer uma analogia heteronormativa ridícula, ele iria jogar o prato de comida na cabeça dele.

– Ele namorava um homem, Yibo.  

Lentamente - YizhanOnde histórias criam vida. Descubra agora