Dia 7 - Futebol

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Lee Naomi. (Domingo)

Acordei no hospital com rosas ao meu lado, um buquê lindo, a enfermeira que me chamou viu o sorriso genuíno e natural que eu abri quando vi a beleza delas, as minhas favoritas eram violetas, mas as rosas tem uma beleza incrível.

— Um dos garotos da sua turma trouxe ontem, mas você já estava dormindo então ele só deixou as flores.

— Da minha turma? Não foi um loiro? Pelo amor de Deus me fala que não foi um loiro! – minha feição se torna de desespero.

— Foi um moreno dos olhos verdes, e ele estava com um skate. – ela me tranqüiliza. Abri um sorriso enorme.

— Ah! Foi ele. – olho pro cobertor. — Ele é muito gentil e amigável, e a gente só se conhece a uma semana.

— Isso é raro, ou acontece com frequência?

— Na verdade, é épico, além do meu motorista e minha família, é a primeira pessoa que me trata bem. – sinto meu sorriso enorme. — Mas, skate? Eu nunca vi ele com skate.

— Bom, ele trouxe um, talvez fosse de um amigo.

Tomei o meu café da manhã e os remédios, a enfermeira – Que eu descobri que também era brasileira e se chamava Vanessa – trocou o meu soro enquanto conversávamos.

Acabei recebendo alta as 06:50 depois de um Checape geral, então fui pra casa me arrumar pra passar o dia atoa, já que no domingo não tinha aula.

Ah, mas como funciona essa bagaça?

Bom, as aulas são das 08:30 até as 14:00, aos sábados tem aula na parte da manhã, mas são só aulas complementares, ninguém ganha falta ou é obrigado a ir, mas é mais ensinamento.

Hayato foi me buscar em casa, me deu um sermão por ter ficado sem o aparelho e por ter preocupado ele, pedi desculpas e expliquei meus motivos, ele me entendeu.

Cheguei em casa, e adivinha, meu pai não estava lá mais uma vez, por isso, fui pro meu quarto e coloquei meu oxigênio portátil de volta.

Peguei meu celular e desliguei deixando ele no carregador, me dirigi ao computador e me sentei, eu novamente fui ver jogos de futebol.

— Que gol bonito... – sussurro fascinada. — O Neymar é muito bom mesmo, nem acredito que é tão reconhecido e famoso, sendo que é brasileiro – tossi. Continuei minha maratona por bastante tempo.

Ah, se eu também pudesse correr atrás dessa bola, escapa nos meus pensamentos.

Senti meu peito apertar quando vi um vídeo com a legenda "Mais um talento Brasileiro, a pequenina Naomi Lee de apenas dois anos é uma jogadora rápida e inteligente, será uma prodígio no futuro? Acompanharemos a caminhada dessa garotinha promissora"

— Já fazem tantos anos, nem sei por que manteram esse vídeo na internet. – dei play no pequeno vídeo que tinha.

A plimeira coisa que eu apendi no Futebol, é que devemos manter o olho nos pés do adversário. – Eu chuto a bola e começo a fazer várias embaixadinhas. — Mas isso só é importante nos jogos, nos treinos é melhor focar em você mesmo.

Vi que eu explicava tudo com maestria e confiança, falava algumas palavras erradas e acabava chutando a bola com certa força em alguns moleques que me chamavam de iniciante.

Quando o vídeo acabou, dei um sorriso, mas logo ele sumiu, pensei, me senti angustiada, olhei para o chão, fechei a tela e observei a cor vermelha. Soltei um gemido baixo e choroso, meu peito apertou, eu comecei a chorar.

Caminhei até minha cama e puxei meu ursinho me sentei no canto do quarto e me dei o direito de berrar e chorar agarrada a ele, Bilu era o meu melhor amigo, e melhor companheiro em noites ruins.

— Aí que raiva! – comecei a desabafar com o urso. — Além de não poder respirar direito, não tenho mais o direito de fazer o que eu gosto. – reclamo. — A AN além de me fazer usar esse aparelho horrível, e de ser o motivo de todos os meus problemas com socialização, ainda me tira o futebol. – Choro por vários segundos. — Sabe, Bilu, eu queria ser normal como as outras garotas, eu queria ser aceita e ser bem-tratada. – apertei meu braço com as unhas. — A AN me tirou a maioria das pessoas que me amavam, e a maioria das que eu amo.

Eu comecei a pensar na minha mãe, ela sim era alguém que estaria comigo nesse momento.

— E-eu queria minha mãe, Bilu. – tossi. — Eu queria ela comigo... – solto um gemido arrastado.

Doia pensar nela, doía ficar sem ela, eu a queria de volta, agora, eu sempre quis ela de volta.

— É pedir demais, Bilu? É pedir demais pra ter uma mãe?! É?! – reclamo. — Meu pai nem olha pra mim direito, ele passa o dia todo naquela porcaria de laboratório procurando uma cura pra essa porcaria de doença.

Olhei para a minha gaveta, os milhares de comprimidos que tinham lá dentro, comecei a cogitar outra tentativa de suicídio. Mas me lembrei dos rostos preocupados dos meus colegas, do quanto Hayato parecia exausto, com olheiras e aparentemente com sono.

Desisti da ideia.

Peguei a gilete dentro da gaveta que estava atrás de mim, olhei pras minhas pernas que ainda nem tinham se recuperado da última crise, suspirei irritada, ergui o casaco e encarei meu braço.

Péssima ideia

Olhei para minhas pernas e procurei um lugar eu pudesse usar de papel. Em geral, só a minha cintura estava em estado de poder receber essas minhas mágoas.

Não perdoei uma parte daquela região.

Senti a ardência me fazer acalmar pouco a pouco, isso era realmente bem... aliviante?

Me joguei na cama agarrada com o Bilu, meus olhos doíam e meu peito ainda estava acelerado, me segurei pra não ter uma crise de tosse naquele momento.

Acordei já tarde, comi qualquer coisa e fui em busca de algodão pra limpar o sangue já seco que escorreu enquanto eu dormia, ainda estava com sono, entao apenas me limpei e tomei um banho, vesti meu pijama com estampa de lua e me deitei, apaguei completamente e só acordei no dia seguinte.

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