Dia 16 - Pontada

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Chinen Miya (terça)

Em um dia de terça, me dirigi novamente até a escola, eu já estava me sentindo besta por ter colocado uma foto da Araumi dormindo de tela de fundo, imagina como eu fiquei quando percebi o cheiro dela na minha cama?

Eu só conheço ela a alguns dias, pelo amor!, pensei indignado comigo mesmo.

Vinte e e três dias não são o suficiente pra eu me apaixonar.

Ou são?

Ainda insatisfeito, resolvi sair mais cedo de casa, ficar parado estava me fazendo pensar de mais.

Demorou um pouco até a Araumi chegar, mas hoje ela estava com um sorriso mais cintilante e acompanhada do garoto de cabelos brancos que veio com ela.

Franzi a sobrancelha.

Ela e ele vieram na minha direção com ela pulando e saltitando, as vezes ela parava um pouco e respirava fundo, depois voltava a saltitar.

Quando ela chegou perto de mim, me abraçou e eu retribui levemente, quando ela se separou, me olhou nos olhos e disse:

— Lembra que o Ymitsu tá doente? Então, ele veio pessoalmente te pedir pra me buscar em casa pra trazer na escola, já que o pai dele vai ter que cuidar dele o dia todo.

— Ah... — eu murmurei.

— Pode fazer isso? — ele fungou.

— Posso — eu disse simplista.

Ele se virou acenando.

— Obrigada, você é uma boa pessoa. — e saiu andando livremente.

Araumi e eu nos viramos pra dentro da escola, ela parecia chateada ou incomodada com algo, não que o seu rosto mostrasse isso, mas eu sentia sua alma me dizer isso.

— O que foi, Arau? — ela me olhou e bufou. Insatisfeita por não ter conseguido esconder.

— Eu ando muito inchada. — ela disse.

Eu a olhei de cima a baixo.

— E daí? Cai bem em você.

Ela corou.

— Só você... — resmungou seguindo caminho.

Quando finalmente chegamos a nossa sala, fizemos o de costume sem muita cerimônia e nos sentamos no canto da sala, juntos, e começamos a discutir sobre algo sem importância.

— Miya, independente de tudo, promete me ouvir e acreditar em mim? — ela subitamente me interrompeu, preocupada.

— Prometo, desde que não me chame de Miya nunca mais. — ela concordou comigo, se levantou, e me abraçou afundando o rosto no meu pescoço, com ternura.

Senti meus pelos arrepiarem, mas não me movi, abracei ela de volta, esperei alguns segundos e finalmente reuni forças para sussurrar:

— O que te preocupa, Araumi?

Ela afundou o rosto mais ainda.

— Aquele homem, aquele dia, e eu mesma — ela disse abafada. — E-eu — sua voz tremeu. — Não consigo falar disso.

Senti que ela iria chorar.

— Araumi, independente de tudo, eu não vou duvidar de você em nenhum momento.

Fiz uma promessa mais pra mim do que pra ela, então ela me largou e olhou nos meus olhos.

— Por uma mecha de cabelo? — ela estendeu a mão.

Fiquei confuso, mas sorri, Araumi sempre foi a melhor pessoa a criar formas e jeitos estranhos, não que eu a conhecesse a muito.

— Por duas mechas de cabelo. — eu apertei sua mão, ela sorriu encantada.

Quando ela relaxou, mandou uma mensagem à Hayato avisando que iria passar a tarde comigo, já que combinamos de eu te ensinar a andar com skate de dedo.

Sim, ele já sabia que ela estaria comigo, mas quisemos evitar que ele ficasse preocupado. Eu e a Arau pegamos um trabalho de matemática pra fazermos juntos, mas isso não foi possível, já que ambos éramos nerds e com notas altas, não deixaram a gente fazer junto por conta do "Equilíbrio de Ki".

— Ah, vai ser muito ruim. — digo carrancudo.

— Olha, a gente pode fazer assim, você e seu grupo vão pra minha casa fazer o trabalho, daí eu fico junto com você. Depois, você vai pra minha casa junto com o meu grupo e fica comigo. — Araumi deu uma conclusão simples. — Caso esteja preocupado, é só pedir pra entregar sua parte separada.

— Não é só isso — olhei pro chão. — Quer dizer, e se eles te tratarem mal?

— Relaxa, eu vou manter minha concentração só no trabalho. — ela disse convicta. Mas dava pra ver a preocupação estampada na sua voz.

— Você quer que eu vá pra sua casa ficar com você? — questionei. Eu me sentia mais seguro e confortável assim, mas não poderia deixar de perguntar o que ela prefiria.

— Bom, se isso não te incomodar — ela suspirou aliviada.

— Nunca incomodaria.

Vi ela sorrir daquele jeito único. Parece ser em momentos aleatórios, mas ela me mostra que cada coisa que eu digo deixa ela mais feliz a cada dia.

Depois das aulas, fomos até minha casa, pegamos minha miniatura de uma pista de skate e eu comecei a explicar como aquilo funcionava, ela tentou fazer várias vezes, mas não funcionou muito bem, então eu expliquei de outra forma, assistimos vídeos e pedimos lanche, maratonamos um canal de YouTube pra ver se ela entendia e voltamos a tentar.

— Faz assim com o dedo — mostrei o movimento fazendo um Ollie com o skate de dedo.

— Assim? — ela tentou fazer e desastrosamente fez com que o skate caísse.

Eu soltei outro riso, mas sua expressão irritada me fez achar fofo, ela tinha inflado as bochechas e estava encarando o skate com revolta nos olhos.

— Calma, Arau — peguei a mão dela e percebi o problema. — Suas unhas são muito curtas, desse jeito não vai conseguir fazer nada.

Ela bufou.

— Deixa as unhas crescerem. — eu disse descontraído.

Seu rosto ficou com uma cara mais irritada ainda.

— Eu não consigo!

De repente ela colocou as mãos na barriga e cambaleou pra trás. Me encarou e arregalou os olhos. Me preocupei e me aproximei dela com cuidado, a segurei.

— Neko, eu senti alguma coisa! — ela disse apavorada. — Eu não sei o que é, mas eu senti!

Respirei fundo e apoiei ela contra mim, segurei seu corpo e perguntei se estava tudo bem.

— Tem certeza?

— Pareceu com a cólica, só que mais forte, mais dolorosa, mais real — ela disse. — Não é nada demais, foi só uma pontada.

Relaxei por um momento, olhei pra ela que sorriu.

Depois de muito comer, vi que nada demais aconteceu depois daquela dor repentina que ela sentiu, então relaxei.

Nota:

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