Dia 15 - Jeg kan lide dig

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Lee Naomi (segunda)

Com a insônia da madrugada, me levantei na vasta casa do Miya até a cozinha em busca de um copo d'água. Não sei quantas vezes eu já me levantei desse quarto de hóspedes e fui lá, ou ao banheiro, ou a sala.

Deveria eu ter recusado o convite apenas por não conseguir dormir em lugares diferentes? Não, eu não deveria.

Mas quando eu sai do quarto de novo, vi Miya sair do seu.

— Arau, por que você tá nesse entra e sai? — ele pergunta.

— N-não consigo dormir. — admito envergonhada. — É que... eu não consigo dormir em lugares novos.

Tentei me explicar, ele sorriu.

— Podemos passar noite conversando, eu fico acordado com você, o que acha?

Já sentia meu coração esquentar novamente. Por que ele tinha que me tratar tão bem?!

— Pode dormir, eu não quero você com olheiras. — dou um riso.

— Você não quer a minha companhia? — ele ergue as Sobrancelhas.

— Q-quero, eu amo sua companhia, mas eu quero que você descanse. — explico.

— Você não quer dormir comigo, então? — sua cabeça pende pro lado.

Me senti encurralada, não queria falar a verdade.

— E-eu q-quero. — gaguejo.

— Então vem.

Não pude recusar.

Entrei no quarto de Miya junto com ele e logo ele acendeu a luz, me dirigiu até a cama e se sentou na minha frente.

— Quer fazer uma brincadeira? – ele pergunta.

— Hm... quero.

— É eu nunca, eu já. — ele diz.

— Uma brincadeira Brasileira! — me animo.

— Tá, eu nunca bebi algo alcoólico.

— Eu já. Eu nunca me arrependi de nada.

— Eu já. Eu nunca tive um relacionamento sério.

— Eu nunca. Eu nunca fui em um encontro.

Miya ficou em silêncio.

— Eu nunca...

O jogo seguiu até eu dormir.

Eu me lembro vagamente do momento que nos deitamos, mas não lembro nada depois. Quando eu acordei, flashes de luz vinham de encontro com meus olhos, então eu vi Miya tirando fotos de mim.

— Ei, apaga... — eu brigo ainda com os olhos fechados. — Pra que me acordar tão cedo?

— Oh, eu não queria te acordar. — ele lamenta observando as fotos com um sorriso de lado.

— Apaga, Neko. — eu brigo me jogando na cama.

— É hora de ir na escola. — ele diz, eu bufo.

Considerei várias possibilidades ali naquele momento, mas a mais racional, não perigosa e que não envolvia um assassinato ou um crime grave, foi a que eu disse:

— Vamos faltar aula. — resmunguei me virando de lado.

— A bonita poderia sair da minha cama? Eu senti falta dela essa noite. — ele colocou a mão no peito.

— Sentiu falta? — eu questiono confusa.

— É, eu dormi no quarto de hóspedes.

Só agora eu me dei conta de que ele ja estava pronto pra ir a escola, com uniforme e tudo. E eu senti meu rosto esquentar de forma violenta quando percebi que eu estava descabelada e provavelmente babada.

— Cruzes, Arau. – ele me olhou com a sobrancelha arqueada.

— O que?! – eu perguntei alheia.

— Um tomate teria inveja, lembrou de algo?

Eu passei as mãos no meu rosto.

— Ah, sabe, eu tô feia — por fim, digo. — Descabelada, com o rosto amassado — reclamo. — Além das olheiras e minha aparência nada agradável.

Me sentei na cama.

— Araumi — ele ditou, parecia indignado —, você não está feia, sua beleza é tão natural que nem em mil anos você ficaria feia.

Dei mais um dos meus sorrisos derretidos que eu só ofereci a ele até hoje, mesmo que em pouco mais de uma quinzena, esse garoto me fez tão feliz quanto alguém poderia me fazer em um ano.

— Você é tão gentil — eu quis abraçar ele, mas percebi algo antes.

Me levantei e aproximei dele, cheguei perto do seu rosto e passei a mão pelas suas bochechas, ele corou, mas não se afastou, fitei seus olhos atentamente de forma que eu conseguisse ver sua alma.

Fechei os olhos e colei minha testa na sua, no mesmo momento, abracei ele e afundei meu rosto no seu pescoço.

— Seus olhos estão mais brilhantes hoje... – sussurrei agarrada a ele que contribuiu colocando as mãos nas minhas costas. — Eu gosto disso, de te ver feliz.

Pensei sentir ele fechar os olhos e me apertar um pouco mais, senti ele arrepiar por completo, quando ele rapidamente disse:

— Me pelqen ti.

Eu o apertei.

— Eu entendi, eu também, muito muito!

Eu reclamei, ele levantou a cabeça aparentando estar surpreso, mas logo me abraçou de novo e suspirou.

Mas nosso momento foi interrompido por um flash que fez com que nós olhássemos pra porta onde Reki e uma mulher de cabelos castanhos tiravam fotos da gente.

— M-mãe?! Reki?! O que é isso?! — o outro se tornou de um tom vermelho que eu desconhecia, então eu ri.

— Ah, sabe, você demorou, daí viemos ver o que tinha acontecido. — a mãe dele diz.

— Mas eu coloquei o flash sem querer, voltem ao momento fofo de vocês. — Reki disse ligeiramente virando o celular pra nós.

— Me manda essas fotos? — pedi.

— Certo. Mas o que significa "me pelqen ti"?

Senti meu rosto ficar quente, olhei para Kuro Neko e expliquei rapidamente.

— É o mesmo que jeg kan lide dig. — eu desviei o assunto. — Neko, jeg kan lide dig.

Ele ficou mais vermelho ainda. A mãe dele arqueeou as sobrancelhas.

Decidimos ao fim que ficaríamos em casa mesmo, por isso, a senhora e o Sr. Chinen foram até um restaurante depois de prepararem nosso café alegando que poderíamos querer privacidade.

Langa ainda dormia, por sorte dele, ele estuda a tarde, então não teria de se preocupar em levantar cedo já que tinha folga do trabalho hoje.

— O que vocês falavam?! – Reki choraminga pela milionésima vez depois que saímos do quarto.

— Nada de mais Reki, relaxa. — Koneko buscava manter a paciência.

— O que era?!~ — ele insistiu, vi Miya perder a paciência e dizer, totalmente sem paciência.

— “Me pelqen ti” quer dizer “eu gosto de você”, eu gosto de você, Reki! – ele surtou.

Eu ri.

— É uma forma de demonstrar que gosta da pessoa, só isso, e "jeg kan lide dig" também quer dizer eu gosto de você. — completo.

Parecendo satisfeito com a nossa confissão, Reki foi atrás de Langa pra que pudéssemos passar o dia em uma maratona de séries. E assim foi feito até a hora de ir embora. Miya e eu faltamos na escola.

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