HIPERVIOLETA

SETOR 7: UMBRELLA

Vinte e cinco anos atrás...

Haidian, um movimentado centro urbano, pertencente à composição administrativa de Pequim, tinha uma importante população que a época concentrava quase quatro milhões de mentes pensantes, girando a economia de uma das maiores e prósperas províncias constitutivas da zona administrativa da capital. Mesmo cortada por grandes rios, banhada por um manancial tecnológico, transbordando o suficiente para nutrir cidades adjacentes, a vida noturna era um dos pontos mais elevados, que assim como na megalópole atraíam diversos investidores do ramo do entretenimento onde o pudor era um elemento altamente descartável e a vitrine de corpos humanos um dos objetos mais cobiçados por quem frequentava as badaladas noites. Entretanto, após a grande catástrofe, o cenário de prosperidade do mercado adulto fora varrido como poeira para debaixo do tapete do atual setor 9, todavia, em suas noites brilhantes e libidinosas, o jovem Zurich completamente embriagado, capengava por entre as calçadas sinuosas e escuras da província, sem um rumo certo, completamente afogado pelos problemas que rodeavam sua família, um passado que o conturbava sem trégua, misturado a um sentimento caótico em relação a Polaris e tudo que veio sendo fragmentado acerca da sua existência, fatos estes transformados em barris de álcool. Contudo, nas mesmas ruas em que haviam os bares, casas noturnas e vielas lotadas de um prazer comprável e descartável, também existiam os sobreviventes abastardos vulgarmente chamados de ''garotos de programa'', e por mais que seus corpos transparecessem uma vitalidade completamente encantadora, sua mente viciada no compromisso monetário do prazer não enxergavam os limites para alcançar seu objetivo da noite: o dinheiro. Observando a confusão alcoólica que quase causava seguidas quedas no jovem rico, os rapazes enxergavam que várias portas da sorte fora abertas com uma luz dourada e resplandecentes que resolveria toda a agonia de um vida miserável. Assim que o ouro começa a ser disputado pelos piratas do prazer que começam a se jogar rapidamente na frente de Zurich, uma rápida mão fecha o baú das tentações, trazendo uma imensa revolta aos exploradores assim que veem sua mercadoria de troca ser pega pelos braços pela concorrência pesada, até que o garoto adormece sem saber o que acontecera logo em seguida com a aproximação de dois dos garotos que tinha encontrado o ''mapa do tesouro'':

— Ei Carina! Ele tava vagando na nossa calçada... — vociferou.

— Ai você vem pra cortar a graça da noite? Acha isso justo? Está querendo trazer uma guerra para as calçadas, é? Faz o seguinte: deixa esse garotinho com a gente, e puxa teu bloco, pode ser ou é pedir demais? — intimidando.

Carina, que estava vestido com uma jaqueta com detalhes no ombros remetendo o estilo aviador, calça de couro em vermelho fúcsia e um sapato social no tom preto com fivelas prateadas, expondo seu peitoral e abdômen de maneira nua, o que chamava atenção coletiva de vários rapazes por onde passava. O charme do sorriso envolvente do jovem garoto, era um mar escarlate e misterioso para os que não conheciam sua fama, entretanto, alguns desavisados ainda se atreviam a confrontá-lo.

— Ah! Desculpa gente! Ele não sabia onde era o prédio, então eu desci pra procurá-lo... mais obrigado por cuidar dele pra mim! — soltando uma piscadinha, seguida de um sorriso cativante, virando de costas entrando na rua principal, segurando Zurich nos braços.

— Eu não sabia que a UMBRELLA tinha serviço de fast-foda, Carina, devem estar te pagando bem né? — debochou, saindo lentamente do meio dos rapazes.

Ao ouvir a graça soltada no ar, solta um riso malicioso, virando lentamente para responder, até que alguém toma a vez:

— E isso te interessa, Brígida? Quem foi demitido do emprego foi você...

— Ora, ora! Olha quem chegou! Se não é Millenium Pryces! — ironizou. — Veio defender a injustiça que foi cometida agora contra seu amiguinho, foi?