"Ele é lindo, mas 'lindo' não é a palavra certa para descrever tamanha beleza", penso, tentando ignorar a ansiedade que me domina enquanto aguardo o início da entrevista. Será que ele realmente disse o que eu pensei ter ouvido?
– O que o senhor disse? – pergunto, surpresa, e imediatamente desejo poder desfazer a pergunta. Ele me observa e permanece sem falar por longos minutos.
Finalmente, após uma espera interminável, ele quebra o silêncio.
– Nada que lhe diga respeito, senhorita. Por favor, tome assento. Tenho outras entrevistas agendadas e o tempo urge – sua voz era firme. Com certeza ouvi errado, um homem como ele jamais olharia duas vezes em minha direção.
Deslizo na cadeira, tentando parecer confiante, mas sentindo-me como uma criança no cantinho do castigo. A tensão no ar era palpável, e tento desesperadamente encontrar uma maneira de rompê-la. Diante de mim, o senhor Caio me observa com os olhos azuis profundos, como se estivesse tentando decifrar um enigma.
Os minutos arrastavam-se enquanto ele continua a me fitar em silêncio. O relógio na parede parece rir da minha agonia, marcando cada segundo com uma lentidão torturante, como se estivesse debochando da minha impaciência.
"Será que ele está esperando que eu comece? O que eu devo falar? Me apresentar? Não, ele que deveria começar. Ele disse que está com pressa, mas por que não começa? Que pressa é essa afinal?", minha mente gira como um carrossel descontrolado, enquanto eu luto para manter a compostura.
– Para alguém tão ocupado, o senhor parece ter bastante tempo – deixo escapar, rapidamente levo minhas mãos à boca na tentativa de me conter. A expressão atônita no rosto do senhor Caio me diz que eu estou encrencada.
– O que a senhorita acabou de dizer? – sua incredulidade era palpável, mas há algo intrigante em sua expressão.
– Além de folgado, o senhor é surdo também? – ainda com as mãos na boca, falo em um murmúrio sem controle, enquanto eu me encolho na cadeira, desejando que o chão se abra e me engula.
Um sorriso divertido brinca nos lábios do senhor Caio, mas antes que eu possa respirar aliviada, o desastre acontece. Meu cotovelo acidentalmente derruba sua xícara de café, criando um caos imediato enquanto o líquido se espalha sobre suas calças imaculadas.
– AI MEU DEUS! – minha bochecha arde de vergonha enquanto eu luto para me desculpar, minhas mãos tremem descontroladamente. – Senhor, me desculpe, sou uma desastrada mesmo, me perdoe - em um ato de desespero, pego lenços de papel que encontro em cima de sua mesa e começo a esfregar sua virilha tentando limpar o café.
O senhor Caio suspira, seus olhos brilham com uma mistura de surpresa e diversão.
– Senhor Caio, eu não sei como posso ser tão desajeitada. Céus, parece que minha missão na vida é me desculpar com o senhor. Não sei cozinhar, nem fritar um ovo eu sei. Não sou boa em nenhum esporte. Se pelo menos eu soubesse cantar, podia ganhar a vida cantando no metrô, ou se eu fosse boa em desenhar, podia viver da minha arte, mas não, a única coisa que aparentemente sou boa é em falar sem parar, mas isso não conta, não é? – Minhas palavras saem em um turbilhão, uma confissão desordenada de minhas falhas enquanto eu continuo firmemente em minha missão de esfregar sua virilha. – Oh céus, por que estou falando isso para um futuro chefe? Quem vai contratar alguém que não é boa em nada? – Continuo divagando enquanto esfrego freneticamente sua calça.
– Menina, pare!
– Eu nunca soube qual era minha missão nessa vida. Agora descobri que é me desculpar com o senhor enquanto esfrego a sua virilha.
– Senhorita, por favor, pare... – sua voz está agora mais rouca, mas há um traço de diversão em seu tom. Mesmo assim, continuo limpando sua calça. – HEAVEN! – ele exclama, fazendo-me parar abruptamente, seus olhos brilham com uma luz travessa. – Eu definitivamente acho que você é boa em uma coisa – ele diz em um sussurro. Sigo o seu olhar e percebo uma grande protuberância embaixo de minhas mãos.
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Heaven
RomanceHeaven viu seus pais morrerem em um trágico acidente de carro aos dez anos, e desde então, sua vida nunca mais foi a mesma. Ela cresceu no Orfanato Esperança e carrega traumas profundos que moldaram sua vida. Aos dezoito anos, ao deixar o orfanato...