O choque paralisa meus movimentos. Meus olhos se arregalam ao ver Natascha parada na porta. Ela nos observa, passando rapidamente de mim, sentada no colo de Caio, para as roupas largas dele que cobrem meu corpo. O calor do constrangimento sobe pelas minhas bochechas, deixando-me vulnerável, como se tivesse sido pega fazendo algo "proibido". Minha mente grita: esse é o fim. Não há saída dessa situação.
Caio permanece calmo, mas vejo suas feições endurecerem enquanto lança um olhar de desgosto para Natascha. Sua voz é firme, sem deixar espaço para discussão.
— Natascha, você sabe muito bem que ninguém está autorizado a entrar no meu quarto quando estou em casa, principalmente sem bater.
Ela faz uma cara de arrependimento tão exagerada que parece saída de um teatro barato. As mãos entrelaçadas à frente do corpo, tentando parecer inocente.
— Oh, senhor, me desculpe, mas já passou das nove horas, e eu pensei que o senhor já tivesse saído para o trabalho. Só entrei aqui porque estava procurando a Heaven. — Ela se vira para mim, com um sorriso açucarado que, para qualquer um que olhasse de fora, poderia até parecer genuíno. — Queria saber se você veio trabalhar, querida. Fiquei sabendo que estava doente... Você melhorou?
A doçura forçada nas palavras dela me dá ânsia. Cada sílaba parece carregada de veneno, como se estivesse ansiosa para ver a reação que suas palavras provocam. Tento manter a compostura, endireitando os ombros, embora tudo dentro de mim queira gritar.
— Sim, estou melhor, obrigada — minha voz sai mais hesitante do que gostaria, as palavras quase tropeçando umas nas outras.
Natascha inclina a cabeça levemente, seus olhos me medindo, e a falsidade em sua voz quase me faz revirar os olhos.
— Que bom! Não queremos que alguém tão especial quanto você, fique doente ou exausta demais para suas tarefas diárias, não é mesmo?
A forma como ela me olha, cada palavra cuidadosamente colocada para desestabilizar, faz minha garganta apertar. Sei o que ela está fazendo, e, pior, sei que ela está fazendo isso na frente de Caio de propósito. Sinto o olhar dele em mim, ele está completamente alheio ao jogo que Natascha está tentando jogar.
— Já passou das 9h? — A voz de Caio soa surpresa, refletindo o que eu sinto. Faz muitos anos que eu não sei o que é dormir mais de duas ou três horas por noite. Como eu consegui dormir tanto assim hoje? Só há uma resposta: a presença dele...
— Sim, já passou... Parece que a noite foi realmente boa. Imagino que precisam descansar depois de uma"longa" noite... — as palavras dela caem como um golpe, deixando a insinuação pairando no ar. Vejo Caio apertar os punhos, a mandíbula rígida, e sei que ele está se segurando. A tensão no quarto aumenta, e eu me sinto ainda mais pequena e exposta. Tento evitar o olhar de Natascha, sabendo que qualquer reação minha só vai alimentar o jogo dela.
— Natascha, você pode, por favor, nos dar licença? Espero você daqui a 30 minutos em meu escritório. — A voz de Caio corta o ar, e vejo Natascha tremer levemente, mas ela mantém a pose. — Agora, eu gostaria de um pouco de privacidade.
Ela inclina a cabeça em um gesto de falsa submissão, mas antes de sair, seus olhos encontram os meus, e um sorriso minúsculo, quase imperceptível, surge em seus lábios, como se ela se sentisse vitoriosa.
Assim que a porta se fecha, Caio solta um suspiro longo, esfregando a mão na nuca enquanto me observa com um misto de exasperação e algo que não consigo decifrar.
— Hora de voltar à realidade — ele diz com pesar. — Está tudo bem? — A voz dele é baixa, quase um sussurro. Seu olhar é cheio de preocupação.
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Heaven
RomanceHeaven viu seus pais morrerem em um trágico acidente de carro aos dez anos, e desde então, sua vida nunca mais foi a mesma. Ela cresceu no Orfanato Esperança e carrega traumas profundos que moldaram sua vida. Aos dezoito anos, ao deixar o orfanato...