Capítulo 4

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Agora, já deitada na minha cama, viro-me de um lado para o outro, sentindo o peso esmagador das lembranças sob meu peito. O colchão, que deveria ser um refúgio, transforma-se em um campo de batalha, onde meu corpo cansado trava uma guerra desesperada contra a mente incansável. Desde os meus dez anos, dormir deixou de ser um conforto e tornou-se um tormento. Cada vez que fecho os olhos, sou tragada de volta ao dia em que meus pais morreram. É como um filme de terror que nunca termina, uma ferida aberta que nunca cicatriza. Sinto a dor dilacerante como se fosse ontem. As imagens daquele dia são vívidas e cruéis, assombrando cada recanto da minha mente. O rosto deles, a dor, o desespero, tudo se mistura em um redemoinho de agonia que parece sufocar-me. Amar dói, sentir falta dói, perder dói. Cada uma dessas emoções é uma lâmina afiada que corta minha alma. Por isso, tomei uma decisão: vou seguir minha vida sozinha, protegendo-me de qualquer faísca de amor que possa surgir. Vou blindar meu coração contra qualquer chama que não possa ser apagada.

Depois de mais uma noite mal dormida, desço as escadas com os olhos pesados e encontro Cris na cozinha. Ela está se preparando para sair, com seu sorriso habitual que ilumina a manhã.

— Bom dia, Heaven! — exclama ela com um entusiasmo que só ela consegue ter tão cedo.

— Bom dia, Cris! — respondo, tentando corresponder ao seu bom humor com um sorriso meio sonolento.

Após cumprimentarmo-nos, caminhamos até ao ponto de ônibus. O ar da manhã é fresco, e o sol começa a despontar no horizonte, tingindo o céu de laranja e rosa. É o nosso momento de paz antes do turbilhão do dia começar.

— Então, Heaven, como têm sido esses seus primeiros dias de trabalho? — pergunta Cris, com um brilho curioso nos olhos.

— Tem sido cansativo, mas não posso reclamar. Tirando o fato de que a Natascha parece não gostar de mim, está tudo bem — respondo, tentando soar positiva.

— Natascha não gosta de ninguém, não se preocupe, não é algo pessoal — diz Cris, dando de ombros e sorrindo de forma tranquilizadora.

— Ela é insuportável, vive pegando no meu pé e tudo isso só porque desmaiei e o senhor Caio me carregou até a cama dele. Ah, e porque eu arranquei a toalha do nosso chefe, deixando ele completamente sem roupa, com todos aqueles músculos aparecendo... — nesse momento, ouço uma gargalhada de Cris.

— O que foi? — pergunto, confusa.

— Como você conseguiu fazer isso? E você ainda acha isso pouco? — ela me pergunta, indignada, mas com um tom de diversão. — Heaven, na entrevista, você o acariciou por cima da calça e no primeiro dia o deixou nu? — ela ri sem conseguir se conter. — Você é inacreditável!

— Juro que não faço de propósito, mas parece que os problemas me perseguem — digo, suspirando enquanto Cris continua rindo durante todo o trajeto.

Chegamos ao trabalho, e a mansão do senhor Lafaiete se ergue diante de nós, como sempre. O jardim está impecável, com flores coloridas que exalam um perfume suave. Sigo direto para o segundo andar, onde limpo os quartos, banheiros e a sala de jogos. A rotina é pesada, mas tento me concentrar no trabalho para evitar pensar demais.

Às 17h, estou terminando de limpar o escritório do senhor Caio. O dia foi longo, e meus pensamentos estão um caos, mas tento me concentrar no trabalho. De repente, ouço a porta da frente se abrir. Meu coração dá um salto e sinto um frio na barriga. Caio Lafaiete chegou. A simples ideia de vê-lo provoca um turbilhão de emoções dentro de mim. Respiro fundo, tentando acalmar meus nervos, mas é inútil. Seus olhos intensos e penetrantes aparecem em minha mente, e meu coração dispara.

Continuo limpando, mas meus pensamentos estão longe. O som dos passos de Caio se aproximando faz meu coração bater ainda mais rápido. Levanto o olhar e lá está ele, parado na porta, observando-me com uma intensidade que me faz esquecer de respirar por um segundo. Seus olhos parecem atravessar minha alma, como se pudessem ver cada pensamento, cada emoção que tento esconder. A sala parece encolher, o ar torna-se pesado e quase palpável.

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