Capítulo 8

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Quando estou quase sendo vencida pelo sono, um grito agudo corta o silêncio da noite e me arranca da sonolência como um choque. Com um pulo, sento na cama, meu coração disparado, enquanto tento entender o que está acontecendo. O grito, cheio de dor e desespero, ecoa novamente, fazendo meu corpo inteiro se arrepiar e meus pensamentos ficarem turvos.

NÃO, por favor, nãooo...

Levanto-me rapidamente, sentindo minhas pernas trêmulas e instáveis enquanto sigo o som angustiante. Ao sair do quarto de hóspedes, percebo que os gritos vêm do quarto do meu chefe. Meu coração martela no peito, e uma mistura de medo e adrenalina toma conta de mim. Minha respiração está rápida, e minhas mãos suam enquanto giro a maçaneta lentamente, quase hesitando em descobrir o que há por trás daquela porta.

Quando entro, o quarto é envolto em sombras profundas, iluminado apenas pela luz suave da lua que entra pelas frestas das cortinas. Meus olhos levam um momento para se ajustar à escuridão, e logo percebo que ele está sozinho, deitado na cama. O alívio que sinto ao ver que ele não está em perigo, é quase esmagador, mas não suficiente para dissipar a preocupação.

Me perdoa, por favor... — Ele murmura, a voz quebrada, quase inaudível, como se estivesse implorando em seu sono. Meu coração se aperta ao ouvi-lo, e a necessidade de ajudá-lo me faz agir rapidamente.

Sento-me ao lado da cama, e chamo-o suavemente, tentando não perturbá-lo demais.

— Senhor, acorde — minha voz é baixa, quase um sussurro, enquanto coloco minha mão em seu ombro. A pele dele está quente e úmida de suor, e sinto os músculos tensos sob meus dedos. Ele continua se debatendo, murmurando palavras desconexas, ainda preso na tortura de seu pesadelo.

— Senhor Caio, está tudo bem, é só um pesadelo, acorde... — Repito, desta vez com mais firmeza, enquanto o balanço levemente.

— NÃOOOO!

De repente, ele grita, um som cortante que ecoa pelo quarto e faz meu coração pular uma batida. Ele desperta abruptamente, sentando-se na cama com tanta rapidez que quase me faz recuar. Seus olhos estão arregalados, a expressão no rosto dele é de puro terror, como se ele ainda estivesse preso nas imagens horríveis que seu subconsciente criou.

— Eu destruí uma família, a culpa é minha... Ela era apenas uma criança, uma criança... — As palavras saem rasgadas de sua garganta, carregadas de uma dor tão profunda que mal consigo suportar ouvi-las. Antes que eu possa processar completamente o que ele disse, ele finalmente percebe minha presença.

Por um momento, ele fica imóvel, os olhos encontrando os meus, como se não acreditasse que estou realmente ali. Há um silêncio espesso, onde posso quase ouvir nossos corações batendo em descompasso. Então, sem qualquer aviso, ele me puxa para perto, seus braços me envolvendo com uma força desesperada que me tira o fôlego.

O calor de seu corpo envolve o meu, e eu me vejo deitada contra seu peito, sentindo o ritmo frenético de seu coração como se fosse meu. Sua respiração é irregular, os suspiros pesados e entrecortados enquanto ele me segura como se eu fosse a última âncora que o impede de se afogar.

Você está aqui... — Ele murmura, a voz rouca e trêmula, carregada de uma vulnerabilidade que nunca imaginei ver nele.

— Estou aqui — respondo suavemente, tentando acalmá-lo. Meu peito se aperta com a necessidade de fazê-lo se sentir seguro. Passo minhas mãos pelas costas dele, sentindo a tensão nos músculos rígidos enquanto tento transmitir algum conforto através do toque. — Foi apenas um pesadelo, estou aqui.

Ele solta um suspiro profundo, e o alívio é quase tangível, mas a tensão ainda persiste, incrustada na rigidez de seus braços que permanecem firmes ao meu redor. Seu coração, que antes batia freneticamente, começa a desacelerar, mas seus braços não mostram sinais de me soltar.

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