Capítulo 10

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Olho para mão de quem segura meu braço, e meu coração quase pula pela boca, o mundo ao meu redor parece desacelerar. Um frio gélido corre pela minha espinha, e meu coração começa a bater tão forte que ecoa nos meus ouvidos. Um arrepio percorre minha pele, e o pavor começa a me consumir. Minha respiração falha, e, por um instante, a única coisa que consigo ouvir é o zumbido do medo, como se o ar ao meu redor tivesse sido sugado para dentro de um vácuo invisível. Tento me soltar, mas a mão me puxa de volta, me imobilizando. Engulo em seco, meu olhar corre desesperado em busca de algo, qualquer coisa que me tire daquela situação. Quando finalmente giro minha cabeça, meu olhar se encontra com... um sorriso travesso.

— Cristiana do céu! — exclamo, batendo de leve no ombro dela, a adrenalina ainda corre em minhas veias — Eu quase infartei agora, criatura! Se eu tivesse um marca-passo, tu ia acabar com a minha bateria!

Cris solta uma gargalhada enquanto tento recuperar o fôlego, meu coração ainda disparado. Respiro fundo, tentando trazer um pouco de calma para meus nervos.

— Eu sabia que a jararaca da Natascha não guardaria segredo por muito tempo — digo, cruzando os braços e assumindo uma pose de autoridade, mas o sorriso de Cris é contagiante demais para eu manter qualquer traço de severidade no rosto.

Cris franze o cenho por um segundo, como se estivesse tentando entender onde quero chegar, mas logo o sorriso volta, aquele sorriso esperto que sempre a acompanha.

— A Natascha? — Ela ri mais um pouco, suas sobrancelhas arqueando em pura diversão. — O que a cobra tem a ver com a tua transa com o nosso chefe?

Meu queixo praticamente despenca. Levo um segundo para processar o que ela acabou de dizer.

— Que trans...? Cristiana, te controla, mulher! Não aconteceu nada disso! — Minha voz sai um pouco mais alta do que o necessário, como se eu estivesse tentando me convencer também. — E se não foi a lambisgóia que te contou, quem foi?

Cris solta outro riso, um daqueles que parece impossível parar uma vez que começa, balançando a cabeça em descrença.

— Foi o próprio senhor Caio — ela responde, com os olhos brilhando como se estivesse se divertindo com cada palavra. — Ele mandou uma mensagem ontem à noite para eu não me preocupar, avisando que estava trazendo você para cá. Eu só fiz as contas, né? Daí pensei: se passou a noite aqui, provavelmente rolou alguma coisa, né? — Ela dá de ombros, o sorriso malicioso não deixando seu rosto, claramente satisfeita com a própria conclusão.

Minha boca se abre em descrença, e por um segundo tento formular uma resposta que faça algum sentido, mas o riso que brota no fundo da minha garganta é mais rápido.

— Ah, pelo amor de Deus, Cristiana! — digo, sacudindo a cabeça e tentando não parecer tão afetada. — A noite realmente foi uma bagunça, mas não nesse sentido! Eu estava com febre, você sabe, ele só me ajudou... até a Natascha aparecer e transformar tudo em uma grande novela mexicana.

Cris ri mais alto ainda, seus olhos apertados de tanto rir.

— Conta essa história direito! — Ela insiste, cruzando os braços e me olhando como se estivesse pronta para ouvir o maior drama da década.

Enquanto caminhamos em direção ao segundo andar, onde estou levando-a propositalmente para me ajudar a limpar a bagunça que sobrou de ontem, começo a relatar os eventos desta manhã. Cris me segue de perto, cheia de curiosidade.

— Tudo começou com aquela febre horrível, né?! — começo, dramatizando cada palavra para dar mais ênfase ao absurdo da situação. — O senhor Caio me emprestou uma roupa dele pra eu dormir. Só que, de manhã, a Natascha apareceu do nada e me pegou lá, no quarto dele, com a roupa dele! — Deixo de fora a parte em que eu estava sentada no colo dele, na cama dele. Não preciso falar todos os detalhes, afinal. — Aí você já imagina o drama, né? Eu, no meio daquilo, sem saber onde enfiar a cara...

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