Capítulo 19

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Assim que a viatura estaciona na delegacia, meu corpo está tão tenso que mal consigo respirar. Sinto as algemas apertando meus pulsos como garras de aço, frias, pesadas. Cada movimento faz a dor se intensificar e o metal gélido parece cortar a pele. Respiro, mas o ar não chega aos pulmões. Cada passo ecoa como um golpe na minha sanidade, quase insuportável. Os policiais continuam me arrastando com a mesma brutalidade, e meus pés quase não tocam o chão. O barulho ao redor parece abafado, distante, e tudo que consigo pensar é no quão surreal isso tudo está sendo. Eu nunca imaginei que acabaria aqui.

Entramos na delegacia e sou levada por corredores cheios de gente. Policiais passando, pessoas sentadas, algumas gritando... mas nada disso me parece real. O som dos passos, das portas se fechando, tudo se mistura num borrão de caos. E quando me colocam em uma pequena sala, o ambiente gélido e cinzento parece aumentar ainda mais o peso das algemas em meus pulsos.

— Senta aí — diz um dos policiais, empurrando a cadeira de metal à minha frente.

Eu me sento, as algemas machucando meus pulsos ainda mais com o movimento. Tento respirar fundo, mas o ar parece preso na garganta. Dois policiais estão na sala, um sentado do outro lado da mesa, o outro encostado na porta, como se eu fosse tentar fugir a qualquer momento.

— Sabe por que você está aqui, não é? — a voz do policial à minha frente é firme, quase indiferente. Ele não me olha diretamente, ajeitando uns papéis na mesa com uma calma exasperante.

Engulo em seco, tentando encontrar minha voz, mas ela falha. Faço que sim com a cabeça, mesmo não sabendo o que dizer.

— Antes de começarmos, preciso te informar seus direitos — ele continua, sem nem levantar os olhos dos papéis. — Heaven da Silva, você tem o direito de permanecer em silêncio. Qualquer coisa que você disser pode e será usado contra você no tribunal. Tem o direito a um advogado. Se não puder pagar por um, o Estado lhe designará um. Entendido?

Assinto outra vez, o pânico subindo em ondas. Eu não sei como sair desse pesadelo. Minha cabeça está girando, e a única coisa que consigo pensar é: "Eu não fiz nada."

— Eu não fiz nada, vocês têm que acreditar em mim! — minha voz sai mais alta do que eu pretendia, e os dois policiais se olham, impassíveis, como se estivessem lidando com isso todos os dias. Meu corpo estremece de raiva e medo. — Eu nunca roubaria nada! Isso é uma armação! Vocês estão errados, por favor, me escutem!

O policial me olha finalmente, uma expressão vaga de cansaço em seus olhos. Ele começa a anotar algo, sua caneta riscando o papel de forma monótona.

— O relógio que foi relatado como roubado estava com você. Pode nos dizer como isso aconteceu?

Minha mente entra em colapso por um momento. Eu tento juntar os pedaços, explicar de forma clara, mas as lembranças vêm de forma caótica. As palavras saem em um fluxo desorganizado, quase desesperado.

— Eu estava trabalhando no quarto do senhor Caio. Eu limpei, fiz o que sempre faço. Mas eu não toquei no relógio dele! Na hora do almoço, Natascha apareceu e começou a me acusar. Ela armou isso... Ela quer me incriminar, eu sei que quer. Eu nunca pegaria nada que não fosse meu!

Minha voz vai ficando mais alta à medida que falo, a urgência tomando conta. Mas o policial mantém a mesma expressão impassível, anotando tudo sem demonstrar nenhuma reação. Ele me faz algumas perguntas, pressionando, tentando encontrar falhas no que digo, mas eu só tenho a verdade. Só tenho isso para me defender.

De repente, a porta se abre, e eu me viro rapidamente, um homem alto, de terno impecável, entra na sala com uma presença que faz todos pararem por um momento. Ele aparenta ter a mesma idade de Caio, ou por volta disso. Seus olhos são afiados, mas sua postura é calma, quase serena.

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