Caio
O telefone vibra ao meu lado na cama, e ao atender, escuto a voz firme de Eduardo, meu advogado.
— Caio, conseguimos o Habeas Corpus. Heaven vai sair ainda hoje — a voz dele me traz um alívio que imediatamente acende algo dentro de mim. É como se uma pedra finalmente tivesse sido retirada do meu peito, mas a tensão ainda pulsa em cada fibra do meu corpo.
Desligo antes mesmo de responder, meus dedos mal têm tempo de soltar o telefone antes de eu já estar de pé. É como se uma força maior me empurrasse. Heaven. Heaven precisa de mim, agora. Sinto meu coração disparar enquanto corro para o carro, e em um segundo estou ao volante, virando a chave, com o motor rugindo para a vida.
Não há tempo para hesitar. Minhas mãos apertam o volante com uma intensidade que deixa os nós dos dedos brancos. Cada segundo se estende como uma eternidade, mas a cada batida do meu coração, sei que estou mais perto dela. "Estou chegando, Heaven", murmuro, como uma prece desesperada, enquanto piso fundo no acelerador. O carro responde com um ronco profundo, a cidade se desfazendo em borrões de luzes e sombras ao meu redor.
Minha mente é um turbilhão, mas ao mesmo tempo, tudo se concentra nela. Heaven, presa naquela cela, sozinha, vulnerável. Lembro do desespero nos olhos dela quando estava sendo levada pelos policiais. Passo a mão pelos cabelos, puxando-os para trás como se isso pudesse tirar de mim o peso da culpa, mas é inútil. Meus punhos se fecham no volante, um nó de raiva e impotência crescendo em meu peito. Como permiti que isso acontecesse?
Quando chego à delegacia, salto do carro e atravesso correndo, ansioso para levá-la para casa. Ao cruzar a porta, vejo Eduardo de pé ao fundo do corredor, com a pasta de documentos em mãos, o rosto carregado por uma expressão séria e, algo a mais. Ele vem na minha direção, mas seu olhar vacila, e uma sensação gelada percorre meu corpo.
— Eduardo? — chamo, minha voz quase rouca. — Heaven está vindo?
Ele respira fundo e me encara com um semblante carregado, os olhos parecendo carregar algo mais profundo, algo que ele hesita em me contar.
— Caio... há outra coisa.
Um frio gelado percorre minha espinha. — O que aconteceu?
Eduardo parece buscar as palavras, e sua expressão endurece. — Heaven... Heaven foi atacada, está no hospital agora. Está em cirurgia, Caio. O estado dela é grave.
É como se o mundo desmoronasse em câmera lenta ao meu redor. As palavras dele ecoam como um pesadelo, reverberando até que tudo ao meu redor desapareça, deixando apenas um vazio aterrador. Heaven... Em cirurgia. Gravemente ferida. Um peso esmagador toma conta do meu peito, e sinto minhas pernas falharem. Passo a mão pelos cabelos novamente, puxando com força, enquanto meus lábios se movem em silêncio, tentando entender o que acabei de ouvir.
— Como... Como isso aconteceu? Quem fez isso? — pergunto, a voz trêmula, como se eu mesmo mal acreditasse no que estava ouvindo.
Eduardo baixa o olhar, parecendo tão devastado quanto eu. — Ela foi esfaqueada, ainda estamos tentando entender todos os detalhes, mas o mais importante agora é que ela está sendo atendida... Você precisa manter a calma.
— Calma? — repito, minha voz quase um rugido, enquanto uma fúria misturada com pânico consome cada fibra do meu ser. — Como quer que eu fique calmo, Eduardo? Heaven... a minha Heaven foi esfaqueada!
Não espero uma resposta. Me viro e saio em disparada para fora da delegacia, ouvindo Eduardo chamar meu nome, mas tudo se torna apenas um ruído distante. Cada passo parece me aproximar de um abismo sem fim, e tudo o que vejo diante de mim é o rosto dela, o som de sua risada, e a sensação sufocante de impotência que me rasga por dentro. Como deixei isso acontecer? Eu deveria estar lá, deveria ter protegido ela. Cada batida do meu coração ecoa o medo insuportável de perdê-la.
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Heaven
RomanceHeaven viu seus pais morrerem em um trágico acidente de carro aos dez anos, e desde então, sua vida nunca mais foi a mesma. Ela cresceu no Orfanato Esperança e carrega traumas profundos que moldaram sua vida. Aos dezoito anos, ao deixar o orfanato...