33. PARK JIMIN

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Pimentinha era o apelido dele. Não era um herói de capa esvoaçante, muito menos um vilão de gibi popular, mas ainda assim, ele era cercado por admiração, medo, e curiosidade. Todos da escola sabiam seu nome, sua fisionomia e seus gostos peculiares.

Os olhos pequenos eram adoráveis, e as bochechas gordas e rosadas lhe davam um ar fofo e saudável. Uma pequena criança digna de um belo retrato.

Aos sete anos, onde era popular como nunca; mais batia nos outros do que tirava boas notas na escola. Após ser pego brincando de boneca com uma de suas colegas, sua vida se tornara um verdadeiro inferno.

― Eu não tenho medo de você, pimentinha ― o pequeno Seungmin mostrou a língua, rodeado de seus fiéis súditos de mesma idade ― Não me importa você ter dito pra professora que eu te chamei de bichinha. Se quer saber, ela nem brigou comigo.

Jimin apertou as mãozinhas, tentando controlar a raiva. Uma lágrima grossa escorregou por seu rosto, fazendo os meninos apontarem e rirem ainda mais. Foi então que ali, no pátio da escola, Jimin se tornou o Pimentinha mais uma vez. Ninguém passava por cima dele. Quem atacasse, seria igualmente atacado.

O pequeno passou a se defender com as próprias mãos, e não entendia o porquê de ser tão repreendido por isso.

― Hoje ele bateu no coleguinha até o nariz dele sangrar. Jimin anda muito violento, mãe ― explicou a professora para a Sra. Park, que assentia envergonhada.

― Eles me atacam primeiro! — tentou se defender, mesmo que nunca parecesse surtir efeito. — Eu falei pra você, professora! Falei que eles estavam me enchendo! Falando coisas ruins...

Ela o ignorou completamente. Na volta pra casa, o pequeno Pimentinha ficou de castigo e passou longe da televisão por uma semana. Isso só o enfurecia mais. Aos poucos ele foi aprendendo o quanto a vida era injusta consigo, ele ainda só não entendia o porquê.


Tudo mudou aos dezesseis anos.

Jimin não entendia, mas quando entrou para o início de sua adolescência, começou a entender. Tudo fez sentido. Enquanto os meninos viam e compartilhavam vídeos inapropriados na internet, Jimin suspirava pelo lobisomem da saga Crepúsculo. Soube desde cedo que não sentia atração por mulheres, e nem mesmo as broncas e os xingões de seu pai sobre o seu jeito afeminado faziam efeito.

Não queria ser outra pessoa. Queria ser ele, e apenas ele, e gostava de Taehyung por isso. Jimin via no primo algo semelhante a si, coisa que não via em outros garotos. Os dois eram muito próximos, e toda vez que o Kim sofria comentários maldosos na escola, o Park o defendia com unhas e dentes.

O temível Pimentinha se importava com o que os outros achavam, mas não o suficiente para mudá-lo. Era um garoto de personalidade forte.

― Sabe o que eu vi num filme?

Perguntou ele, olhando de soslaio para a mãe e a tia que conversavam na cozinha cheia de parentes enquanto preparavam o almoço de domingo.

― Que quando você achar um menino que goste, tem que fazer ele lavar roupa contigo ― cochichou no ouvido do primo, que se afastou chocado ― Quando você se declarar pro Minhyung faz isso com ele.

 ― Eu não gosto do Min! ― revidou Taehyung, emburrado com a insistência de Jimin. No mesmo minuto que — dias atrás, — confessou a ele que simpatizava com o aluno de sua classe, se arrependeu. O pequeno Pimentinha não conseguia disfarçar os segredos alheios muito bem.

Os dois estavam sentados no chão da sala, assistindo um filme qualquer que os adultos não pareciam muito interessados pela temática infantil. Mal sabiam que seus filhos não estavam muito dispostos a assistir também. Afinal, um tinha dezesseis e o outro quinze. Não queriam mais ser tratados como crianças.

Perfect Lullaby | vhopeOnde histórias criam vida. Descubra agora