30. the prince and the frog

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Yoongi continuou encarando aquela mensagem como se ela partisse de algum alienígena avisando de seu poderoso plano para invadir o planeta Terra. Toda vez que ia digitar uma resposta continha o movimento de seus dedos, não sabendo como deveria de fato enviá-la. Não descartou a possibilidade de apenas ignorar ou tratar aquilo com indiferença, mas como explicaria o fato de ter mandado aquela mensagem a ele? Estaria sendo incoerente se o tratasse de forma grosseira quando a primeira mensagem, incontestavelmente, partiu de seu desastrado celular mesmo não sendo intencional. No entanto, também não queria ficar de papinho com Seokjin depois da briga que tiveram.

Era uma questão difícil. Seu coração estava dividido em tentar odiá-lo, e tentar não querê-lo por perto. As duas coisas pareciam impossíveis.

― Celular de merda ― resmungou, jogando o aparelho pro outro lado da cama. ― Que porra eu vou fazer agora?

Desnorteado, Yoongi passou as mãos pelo rosto e ficou encarando por um bom tempo o aparelho deitado sobre o cobreleito cor vinho mal esticado no colchão. Ele sabia que o correto era afastar todas as pessoas que lhe faziam mal, mas por que era tão difícil se afastar do ex namorado? Passaram literalmente sete anos sem olhar um pra cara do outro. Por que era tão difícil agora?

"Você precisa esquecê-lo. Ele não gosta de você." era o que dizia a si mesmo.

Como depois de tudo o que passaram, ainda não havia mentalizado isso?

Yoongi:
Só queria desejar uma boa viagem amanhã.

Foi o que disse, tentando passar frieza nas palavras. Não queria transparecer que se importava.

Seokjin:
eu imaginei... obrigado

Yoongi:
boa noite

Seokjin:
vou sentir sua falta

A resposta despedaçou o coração de Yoongi, feito as migalhas de pão de milho que sua irmã mais nova tanto gostava. Até digitou algo, mas acabou apagando no fim. Já não queria manter essa conversa, não estava lhe fazendo bem. Tudo o que Yoongi não precisava era de mais um na sua vida discursando que o que fazia era um temível e abominável pecado. Já não bastava o desgosto de sua mãe, ou até mesmo o inferno que passava todos os dias por viver num país tão homofóbico e preconceituoso. Ter alguém como o Seokjin em sua vida não condizia com o que pregava para aqueles que eram iguais a si. Seu lado Yoonie lutava constantemente para acabar com essa opressão.

Então, não fazia sentido insistir tanto num opressor. Porque sim, Seokjin era exatamente isso, mesmo que muito doesse admitir e aceitar o que ele havia se tornado. Desde que insistiu no ex namorado pela segunda vez, guardou uma pequena esperança de ele ter mudado, de notar alguma coisa do antigo Seokjin vivo dentro dele, mas não tinha.

Eram sempre ofensas seguidas de desculpas. E do que adiantava se desculpar, se iria cometer o mesmo erro mais uma, duas, várias vezes?

A verdade é que se deve tirar de nossas vidas tudo aquilo que nos fere e nos faz mal. Era o que seu falecido pai costumava dizer. Só em pensar na voz dele lhe dizendo o que cairia tão bem em sua vida alguns anos depois, sentia um aperto no peito. Yoongi na época, tão inocente e pequeno, não entendia muito bem as frases filosóficas e aleatórias que seu pai costumava soltar de vez em quando. Se pudesse, hoje, sendo o adulto que se tornou, perguntaria o que se deve fazer para esquecer uma pessoa, mesmo sabendo que ele não daria a resposta prática que lhe apetecia.

Perfect Lullaby | vhopeOnde histórias criam vida. Descubra agora