1. magnet.

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Uma das circunstâncias mais peculiares e difíceis que a vida pode nos reservar consiste na transição de um espaço cômodo para outro totalmente estranho.

E era por isso, que bem lá no fundo, Taehyung estava odiando a exposição de sua presença diante daquele monte de adolescentes que teria que aturar até o final do ano letivo.

Perscrutando o ambiente em busca de um lugar desocupado, ele esforçou-se ao máximo para evitar contato visual com os estudantes curiosos, cujo os olhares permaneciam fixos nele desde o momento em que ele adentrara a sala de aula.

Como o bairro da cidade de Gwangju era pequena, dificilmente apareciam ares frescos naquele colégio. Kim Taehyung era praticamente uma novidade no meio de um museu.

Completamente envergonhado e sem jeito, ele caminhou por um dos curtos corredores que tinha entre as fileiras de carteiras escolares, escolhendo a penúltima encostada na parede que estava vazia. A única, por sinal. Ele notou os olhares contínuos e tentou esconder o rosto ao virá-lo rumo à parede, passando a mão nos fios acastanhados rapidamente.

Taehyung ficava inquieto quando sentia-se desconfortável e, odiava sua personalidade naturalmente tímida por isso. Percebendo esse desconforto, o professor pigarreou e fez um comentário que por mais que tivesse carregado de boas intenções, não ajudou muito:

― Eu sei que não é normal ver pessoas novas por aqui, mas eu agradeceria muito se a atenção estivesse voltada pra mim. Não intimidem o garoto desse jeito ou ele vai acabar fugindo.

Os risos ecoaram pela turma enquanto Taehyung, com um sorriso meio forçado, expressava seu constrangimento, evitando contato visual com aquele aglomerado de puberdade e sotaque de Gwangju. E mesmo que de início, por sua timidez, preferisse a distância, no intervalo, cadeiras foram arrastadas e colegas se acomodaram ao seu redor, lançando-lhe uma série de perguntas.

De onde ele tinha vindo, o porquê de ele ter parado logo naquela cidade tão sem graça e pacata, e algumas garotas perguntavam se ele era solteiro.

Referente a última pergunta, Taehyung murmurou timidamente um sim de um modo que exibiu certa indiferença à questão. Todos ficaram chocados. Como um rapaz tão bonito estava solteiro?

Em uma semana estudando no colégio, já um pouco acostumado com os olhares dos alunos de outras turmas também, o mais próximo que chegou de realmente fazer amizade foi quando pediu uma caneta emprestada a Yoongi e este lhe deu várias opções de escolha. Azul, preta, verde, rosa, roxo, e sua favorita: cinza com glitter.

Depois disso, para a surpresa do novato, os dois puxaram conversa e não pararam mais. Falavam tediosamente desde o tempo que ameaçava nevar a qualquer momento, até a animação surgir em compartilhar os seus gostos musicais.

Yoongi era um amante do rock e da música melancólica, tinha uma irmã mais nova, e uma coleção nenhum pouco máscula de canetas coloridas. Taehyung, por sua vez, era mais eclético, porém preferia sons mais animados. Filho único, nascido em um ambiente altamente religioso e desprovido de qualquer entusiasmo pela prática de colecionar canetas.

E por mais que sentisse falta de Busan, Taehyung estava gradativamente se adaptando. Enfim, tudo era igual para todos. Nada de novidades.

Até que um certo dia, a rotina de Taehyung sofreu um pequeno revés.

Na quinta-feira ele conheceu mais um aluno que todos já conheciam.

Não era novo, mas o apelidavam carinhosamente de turista.

― Olha, parece que o turista resolveu aparecer?! ― zombou o professor Im Dakho, se afastando do quadro e cruzando os braços sobre o peito ao ver o aluno encostado no patente da porta. ― E ainda por cima atrasado.

Perfect Lullaby | vhopeOnde histórias criam vida. Descubra agora