O cheiro daquele cigarro era tão familiar, que só de sentir aquela fumaça intoxicando seus pulmões a lembrança de seu pai voltava a tona, o desestabilizando na hora. Decidiu levantar-se do banco e ceder lugar para outros que estavam em pé.
Ficou um pouco distante da parada de ônibus, pensando no quanto era um fracassado por estar mais uma vez voltando pra casa depois de vários currículos entregues e nenhum pingo de esperança de alguma hora ser finalmente contratado. Por quanto tempo passaria por isso? Esse ano faria 22 anos e não tinha aquela liberdade de um adulto, nem mesmo a sua independência.
Seokjin estava farto.
Já dentro do ônibus, optou pelo último banco, bem isolado, e conectou seus fones, curtindo uma playlist daquelas que fazem você se questionar o porquê de ainda estar vivo. Era exatamente assim que estava se sentindo. Vazio, estando no mundo apenas para dar gastos e desgosto a sua mãe.
Fazia pouco tempo que decidiu trancar a faculdade de cinema por não ter dinheiro suficiente pra pagar as mensalidades, já que todo o seu luxo caiu por terra quando um belo dia seu pai decidiu fugir de casa. Sempre se culpou por ele ter os abandonado, e por mais estranho que pareça, às vezes Seokjin sentia até mesmo falta do cigarro barato que o velho Kim costumava fumar diante a janela, pensativo.
A lembrança dele continuava intacta, mas o ódio e a amargura que ele deixou quando partiu sempre falava mais alto.
ㅡ Mãe? ㅡ chamou, assim que abriu a porta de casa. ㅡ Mãe, eu cheguei.
ㅡ Filho! Venha, eu estou aqui com um amigo seu!
Amigo? Faz tempo que não ouvia uma dessas.
Jogou a pasta e o celular que tinha em mãos no sofá e foi direto para a cozinha, onde quase deu um pulo para trás com o susto que levou ao ver quem estava sentado na mesa junto com ela.
Esperava qualquer pessoa, menos ele.
ㅡ Yoongi?
[♡]
ㅡ Então ele vai ficar bem?
ㅡ Sim, não se preocupe. A lesão não é exposta e a batida não foi tão grande, a patinha dele será enfaixada e talvez ele tenha que usar um colar elizabetano, mas fora isso ele está bem.
ㅡ Ah... Que alívio. Viu, Jimin, você não precisa mais ficar chorando ㅡ abrandou Hoseok, tocando o ombro deste ao lado, que continuava choramingando.
ㅡ Eu posso ver ele, Taehyung? ㅡ fungou, limpando os olhos molhados pelas lágrimas.
ㅡ Claro. Vai lá.
ㅡ Obrigado. Eu volto já, Hobi.
ㅡ Sem pressa.
Agora, a sós com Taehyung, Hoseok sentiu-se desconfortável. Seus braços estavam apoiados na grande bancada que tinha uma mulher trabalhando atrás, bem em frente ao computador, como recepcionista. Ao redor, colado na parede se tinha fotos de vários animais, e as almofadas que tinham em cima dos bancos de espera eram caracterizadas com patinhas de gato. O lugar parecia bem amigável mesmo que se tratasse de uma clínica. E parecia se tratar de um ambiente bem caro também.
ㅡ Então... Quanto eu te devo?
ㅡ Você não me deve nada, Hoseok. Hoje era o meu dia de folga, eu quis ajudar. Eu estou fazendo estágio, essa clínica não é exatamente minha, e sim da minha mãe. Normalmente eu faço de tudo aqui. Auxilio no que posso até conseguir me formar.
Ao saber disso, Hoseok se empertigou imediatamente, parando de se apoiar na bancada da recepção e no mesmo instante, querendo fugir dali. Não tinha medo dela, nunca esqueceu das vezes em que ela visitou e até mesmo ajudou sua vó, mas mesmo assim, não sabia o real caráter daquela mulher. Ela poderia facilmente ter concordado com todas as loucuras de seu marido, e isso incluía deixar o próprio filho trancado dentro de casa por anos. Isso era nojento, ao ponto de deixá-lo enojado.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Perfect Lullaby | vhope
Fiksi PenggemarEm meio ao preconceito banhado por uma exarcebada hipocrisia, Kim Taehyung se vê perdido num tremendo caos quando aos poucos seus desejos começam a aflorar e ficar mais "perigosos" por seu mais novo amigo Jung Hoseok, descobrindo-se então, o seu ver...