Perfect Lullaby | vhope

27. discoveries.

Não é como se nunca tivesse sido paquerado por um homem antes. Era um bartender numa boate gay, sabia muito bem o que aqueles olhares e aqueles sorrisos que apenas tentam ser discretos queriam dizer. Em todo caso, sabia driblar os flertes muito bem, mas tinha algo ali que definitivamente não estava certo. Enquanto Jimin tagarelava, Namjoon deixou seus olhos presos em Jungkook.

Por já estar de noite não optaram por uma cafeteria, e o Park parecia mais que animado com a ideia de jantarem juntos. Ele não conseguia esconder seu interesse, umedecia os lábios com sua língua audaciosa, e passava os dedos finos pelo cabelo acastanhado. Nem ao menos tocou na comida que pediu, sendo o completo oposto de Jeon, que sentado ao lado do namorado, praticamente devorou sua comida coberta por carnes e vegetais. Ele estava calado, não fazia muita troca de olhares. Foi quando avisou ir ao banheiro que Namjoon viu a tatuagem de uma cruz em sua nuca.

ㅡ Então… ㅡ pigarreou. ㅡ Você é religioso, Jungkook?

Jungkook ergueu o olhar, havia acabado de voltar do banheiro.

ㅡ Praticamente cresci na igreja.

ㅡ Ah, eu também... ㅡ contou em um tom exaurido e arrastado. ㅡ Mas chegou uma hora que ficou cansativo pra mim, você deve saber...

ㅡ Na verdade, não. Não sei. Pra isso acontecer contigo provavelmente foi porque você não teve fé o suficiente.

ㅡ Jungkook! ㅡ censurou Jimin, deixando seus pequenos olhos maiores com a surpresa em ouvi-lo dizer tal coisa.

ㅡ Tudo bem, Jimin. Eu não me importo, de uma maneira ou outra, ele tem razão.

ㅡ Você não acredita mais?

ㅡ Eu sou ateu, então, não. Não consigo mais acreditar em um livro que foi feito a mais de mil anos atrás, majoritariamente escrito por homens.

ㅡ Bom… Eu também não acredito muito ㅡ revelou com certo receio. ㅡ A verdade é que já sofri muito nas mãos desses conservadores de merda.

Um silêncio meio constrangedor entre os três se instalou, sendo possível escutar as conversas paralelas que preenchiam aquele restaurante. Segurando seus hashis e mexendo com o resto de comida em seu prato, Jungkook pensou se deveria comentar algo.

ㅡ Eu entendo que você tenha sofrido, Jimin. ㅡ resolveu fazê-lo, contrapondo-se. ㅡ Eu vi isso de perto. Mas vocês poderiam pelo menos respeitar, estão generalizando como se todo mundo que acredita em Deus fosse problemático, e não é bem assim.

ㅡ Eu sei disso ㅡ Namjoon concordou. ㅡ Meus pais são um exemplo disso. Na verdade eu nem quis insinuar uma coisa dessas, se falei algo que não te deixou confortável, me desculpe. De verdade.

ㅡ Que seja. 

Jungkook sentiu um beliscão na sua coxa e teve um sobressalto ainda na cadeira, desmanchando sua postura marrenta. 

ㅡ Que porra?

ㅡ Eu posso conversar com você um instante, Jungkook? ㅡ questionou Jimin, e com a troca de olhares intensa e incisiva que tiveram, achou melhor não recusar.

Os dois partiram para o banheiro do restaurante, deixando um Kim completamente sozinho naquela mesa com três cadeiras. Ficou brincando com os hashis, depois bebeu um copo inteiro de refrigerante, fazendo careta com o gelo que subiu diretamente em seu cérebro. Nesses minutos que se passaram, ficou um pouco pensativo com a situação de Jungkook. A discussão sobre religião e afins ficara pra trás. O que não saía de sua cabeça era o fato de que os dois aparentemente tinham um relacionamento aberto, certo? Mas será que era um desejo de ambas as partes? Será que Jimin não via o desconforto dele?