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Meu pesadelo começou com o toque de um telefone.

Eu estava vestindo um pijama do Aquaman que eu tinha quando era mais nova. Estava sentada na poltrona da sala da casa do meu avô. Um abajur amarelo suave iluminava o cômodo, além da luz da TV, que exibia algum desenho infantil, que eu não reconheci. Eu estava quase dormindo, quando o toque do telefone fixo que ficava na mesa ao lado da poltrona me despertou.

-Vô? -Chamei, com a minha voz de garotinha de oito anos. -O telefone tá tocando!

Meu avô entrou na sala, o cheiro de cigarro e menta tomando conta do cômodo. Ele sorriu pra mim e acariciou meu rosto, antes de atender o telefone:

-Alô? Sim, sou eu, quem fala?

Naquele momento, a expressão dele mudou. Sua respiração acelerou, e ele começou a dizer palavras emboladas, o que despertou uma ansiedade em mim, que ajustei minha postura na poltrona e tentei escutar algo que estava sendo dito no telefone.

-Não, não, não, eu... Sim, eu vou estar aí em dez minutos, eu... -Meu avô dizia repetidamente, enquanto andava pela pequena sala, pegando as chaves do carro e as chaves da casa.

Depois de alguns segundos, ele retirou o telefone do ouvido, e com um olhar tão cheio de medo que embrulhou meu estômago, ele disse:

-Hilary, pega um casaco, a gente precisa sair. Agora.

Duas coisas nessa frase me deixaram ainda mais ansiosa do que eu já estava. A primeira, era que meu avô estava falando que nós precisávamos sair às onze da noite. A segunda, foi que ele me mandou pegar um casaco. Era uma noite de verão.

Meu avô saiu andando rápido da sala, e eu, sem saber o que fazer, desci da poltrona, e fui atrás.

Mas, quando passei pela porta, eu não parei no corredor da casa do meu avô. Eu estava de pé na frente do carro, a alguns passos de distância de uma casa em chamas.

-Fica aqui. -Meu avô disse com urgência, indo o mais rápido que podia na direção de uma ambulância, que estava estacionada próxima ao carro dele.

Só naquele momento eu parei para perceber tudo. Os gritos de pessoas próximas à casa, a luz forte do fogo mesclada com as luzes da sirene da ambulância, que também fazia um som estridente, a densidade no ar que pesava meus pulmões, o calor escaldante que pairava no ar, mesmo que eu não estivesse tão próxima da casa. Tudo era simplesmente demais.

Até que eu ouvi um grito do meu avô.

Eu não lembro o quê ele gritou. Não lembro se ele ao menos gritou alguma coisa.

Mas eu me lembro que foi um grito horrível, doloroso. Um grito que assombraria meus sonhos pelos próximos anos.

Depois daquilo, tudo ficou silencioso.

Então eu acordei, no meio da noite, com o vento frio entrando pela janela aberta.

Demorei alguns segundos (talvez até minutos) para voltar aos meus sentidos e recuperar o fôlego. Comecei a tatear a cama em volta de mim, até que voltasse totalmente para essa realidade.

Uma vez que minha respiração havia se estabilizado, me levantei da cama para fechar a janela, e percebi a tela da TV pausada nos créditos do filme.

Olhei de relance para a beliche do outro lado do quarto. Estava vazia. Procurei meu celular entre os cobertores quando voltei para a cama. Quatro e meia da manhã.

Tomando cuidado pra não fazer barulho, desci as escadas. Eu ia fazer o caminho até a cozinha... Até eu perceber que a luz da varanda, lá fora, estava acesa.

Lightning Before The Thunder (Shazam)Onde histórias criam vida. Descubra agora