1 - O primeiro contato

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Danía Lim

- Deputada, seria importante a sua participação nesse evento. A senhora sabe disso, não sabe? - Drew, meu assistente pessoal falava enquanto eu folheava alguns projetos. Suspirei o encarando.

- Drew, por favor. Você sabe que todo mundo me odeia né? Tipo assim, eu tô indo contra a maioria, e nessa premiação musical o público alvo são os jovens. - ergui as sombracelhas - os que menos gostam de mim.

- Eles tem motivos não é? - estreitei o olhar e ele engoliu a seco encarando algum ponto aleatório na sala - digo...a senhora não agrada eles.

‐ Se retira e veja meus compromissos, estarei presente nessa tal premiação. Se eu morrer no caminho, eu volto e puxo seu pé ‐ falei séria e ele arregalou os olhos, saindo da minha sala

Às 20:00 no evento.

Já estou sentada há 30 minutos nessa mesa ouvindo o apresentador falar baboseiras, não acredito que estou perdendo meu tempo aqui. Do meu lado esquerdo está o Drew e do direito a Rosita, uma deputada do mesmo partido que eu, ou seja, mais uma odiada.

‐ Melhora essa cara, você está sendo filmada. ‐ Drew disse disfarçadamente e forcei um sorriso bebendo um gole da bebida duvidosa na minha frente

Conversei um pouco com meus colegas até as performances começar. O primeiro foi um cantor de Cuba, que cantou um tipo de rap com reggaeton. A segunda foi uma cantora aqui da Argentina que cantou algum tipo de r&b, agradável e carismática.

‐ E agora com vocês a cantora Hanna Bensson do Brasil, que ganhou a categoria de "Música mais tocada mundialmente". Ouvi vários gritos e aplausos para a moça que eu nunca tinha visto.

Ela apareceu e engoli a seco, seu olhar cruzou com o meu e um sorriso surgiu no seu rosto. Senti minhas bochechas ficarem ruborizadas e desviei.

A mulher deveria ter uns 25 anos, bem jovem. Estava usando um tipo de macaquinho azul grudado no corpo, deixando suas curvas latinas bem marcantes. Seu cabelo curto preto e os olhos verdes a deixava mais linda. Suspirei bebendo mais um gole do líquido na minha taça.

Ela começou a cantar um funk com reggaeton e com um sotaque quase inexistente começou a caminhar entre as pessoas. Passou a mão no ombro de outro cantor que sorriu dançando junto com ela.

Continuou seus passos me deixando nervosa e chegou na minha mesa me encarando sem deixar de cantar um segundo sequer.

Deu uma piscadinha e virou de costas me dando total visão da sua bunda roçando no meu colo. O que está acontecendo?

Ela desceu e subiu me deixando nervosa mas fingi costume e mexi o corpo e sem querer passei a mão na sua coxa, tirei rapidamente. Ela saiu ainda me encarando e sorriu voltando pro palco para continuar sua performance.

Eu nunca na minha vida fiquei tão próxima e íntima de uma mulher  desconhecida assim e na frente de um monte de gente.

Respirei fundo fechando os olhos assim que ela terminou, agradeceu e se retirou do palco.

Drew me olhava curioso sem falar nada e recebi olhares das outras pessoas também.

- O que foi? - perguntei pegando água com o garçom

- Você ta bem? - perguntou e riu

- Sim, mas lembra quando eu disse que não queria vir? - ele concordou - então, eu deveria ter ficado em casa como planejado.

- Não gostou de ter uma bunda a sua mercê deputada? - perguntou pra provocar e revirei os olhos sentindo algo estranho na ponta da minha barriga

- Fica na sua se ainda quiser emprego. - ele riu me encarando- que foi? para de me encarar!!

- Nada. Só achei engraçado a senhorita colocar a mão na coxa dela.

Engoli a seco.

- Eu não sabia o que fazer. Isso nunca tinha acontecido antes! Você sabe bem disso

- Sim querida. Você participou de algo muito homossexual hoje. Como se sente? - deu um sorriso de lado e revirei os olhos pela milésima vez hoje.

- Quero ir embora, vamos. - falei sentindo minha paciência esgotar. Despedi de todos que estavam ali com o Drew na minha cola.

- Ei, espera. - escutei uma voz feminina quando passei por uma salinha pelo corredor. Me virei dando de cara com a cantora apagando o cigarro - maconha- na sola do tênis.

- Posso ajudar? - ela sorriu e olhou pro Drew e depois pra mim, parecia pensar

- É seu namorado? - O que? Fala sério!

O Drew começou a rir negando com a cabeça.

‐ Nunca, essa aqui está a um ponto de me explodir. Eu sou apenas o assistente dela. - Drew respondeu primeiro e eu permaneci quieta.

Ela suspirou e parecia aliviada? não sei bem.

- Me chamo Hanna, prazer - estendeu a mão e apertei contra minha vontade

- Eu sei, o apresentador falou. - cortei e ela ficou envergonhada.

‐ Ok...O que achou da performance? Peço desculpas se passei dos limites com você.

- Foi legal, não se preocupa. Está tudo bem. - falei seca e ela desviou o olhar pra minha boca encarando por vários segundos e desviou o olhar

- Ér...certo, obrigada...a gente se encontra por ai Danía. ‐ deu um piscadinha com um sorriso e voltou pra salinha que imaginei seu o camarim

Como ela sabe meu nome?

- Você acabou com a garota, coitada! - Drew disse assim que chegamos no carro. Entrei no banco de passageiro.

- Acabei por quê? Falei normal com ela.

- Seu normal é grossa Danía. - ele riu sem graça e suspirei retocando o batom - Ela estava tentando flertar com você

Encarei seu rosto e dei uma risada

- Não seja ridículo, ela estava sendo gentil.

- Sim, perguntou até se eu era seu namorado por educação né? - suspirei pegando meu celular e vendo a confusão que essa apresentação me causou.

- Merda...

- O que? aconteceu alguma coisa?

- Sim, meu nome está nos assuntos mais comentados no Twitter junto com o dela, as pessoas estão enlouquecidas. Que inferno! - rolei a pagina do celular vendo o que comentavam e a parte do vídeo que eu passava a mão na coxa dels estava sendo compartilhado exageradamente

- Sinto muito querida mas sabíamos que ia gerar repercussão. Semana passada você votou contra a lei dos LGBTQIA+ e hoje recebeu uma dança sensual de uma mulher. É contraditório  - me encarou por alguns segundos antes de voltar a atenção pro trânsito de novo

- Mas eu não queria que isso tivesse acontecido, tantas pessoas pra ela fazer seu show e veio em mim. Vou proibir a entrada dela no país, o que acha?

- Que é impossível e você vai estar provando mais uma vez que é homofobica.

- Todo mundo sabe disso.

Ele me encarou com uma decepção no olhar e me senti péssima, li mais alguns comentários do tipo "a hanna é a cura hetero" "homofóbica de dia e homossexual de noite" "nem a danía resistiu a hanna" "é errado shippar essa cretina com a hanna?" "cuidar do sistema de saúde ela não quer ne?"

Suspirei desligando o celular, minha cabeça vai explodir.

Eu vou matar essa brasileira.

A cantora e a deputada conservadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora