4 - Qual dos dois H você quer ser?

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Hanna Bensson

- Vou te levar nesse restaurante, todos os famosos que vem pra Argentina passam lá.

- Julia, você é tão insistente. - a olhei rapidamente e ela apontou o dedo pra mim

- Vamos logo, por favor...vai que eu encontro a TINI la, sou a maior fã e ainda posso te pedir um feat.

- Tudo bem, vamos nessa. Só vou me arrumar e te encontro la em baixo - ela deu pulinhos de alegria e saiu

*

Meu Deus é muito grande! E não da para ver nada que está dentro, o vidro não deixa. É interessante.

Assim que entrei, logo reconheci alguns rostos, cantores, atores, jornalistas famosos e políticos. Que farofa é essa?

Todos pareciam calmos e sem se importar com a presença de outros, acho que é o momento que eles tem paz.

- Hey Hanna! - uma voz feminina falou e me virei

- Hey! Oi sumida. - era a Karol, uma cantora mexicana, havíamos feito uma música juntas

- Julia, oi! - cumprimentou minha amiga que respondeu rápido indo em direção a uma mesa vazia, ela não era tão fã da Karol - Sim, muitos projetos, trabalhos...você me entende né? - ela voltou a falar

- Claro que sim, passo por isso também- dei um sorriso de lado

- Tenho te acompanhado, parabéns pelo prêmio e pela turnê, você merece todo o sucesso do mundo - sorriu e me deu um abraço, retribui - bom, foi legal te encontrar mas preciso pegar num avião daqui a pouco, a gente se fala

- Sim, boa viagem! - ela agradeceu e saiu, fui em direção a mesa que a Julia escolheu

- Nem está tão cheio aqui! - bufou

- Hoje é segunda querida, é claro que não vai estar cheio.

- Devemos voltar aqui depois.

- Claro, quem sabe na próxima turnê - sorri e ela revirou os olhos

- Isso vai demorar tanto...

- Vai mesmo, agora vai, escolhe algo pra gente comer que vou ao banheiro. É satisfatório nao ter ninguem tirando fotos minhas enquanto almoço- ela riu olhando o cardapio e fui em direção ao banheiro que ficava no final do corredor.

Entrei e encontrei a pessoa que eu menos queria ver no momento. Danía estava retocando o batom no espelho. Percebi que só havia ela no banheiro.

Te encarei com ódio e ela virou o rosto me olhando com indiferença.

- Perdeu alguma coisa aqui? - perguntou e suspirei

- Você é uma filha da puta.  - Percebi sua cara de surpresa diante tal ofensa

- Sabe Hanna, nem sempre ganhamos aquilo que queremos, tem que aprender perder. - disse debochada e cruzou os braços

- Isso não é uma questão de saber perder, é de ter compaixão pelo próximo. 

Ela suspirou e abaixou o olhar mas logo focou em mim de novo.

- Você nem Argetina é, não deveria estar dando pitaco sobre a política daqui. 

- Não sou argentina mas faço parte das pessoas que você por algum motivo, odeia. E dói Danía, dói ver vocês falando aquilo. Se referindo a nós como se fôssemos bichos e não pessoas de verdade.

Senti meus olhos encherem de água e por um momento ela vacilou o olhar, surgindo um de arrependimento. Mas como eu disse, foi por um momento e seu olhar frio e sério apareceu de novo.

Ela virou de frente pra mim e cruzou os braços me analisando de cima a baixo e focou no meu olhar.

- Eu não odeio vocês. - soltei uma riso sem graça e ergui as sombracelhas - é complicado Hanna, você não entenderia. Isso é assunto de gente grande ok?

- Você acha que ta falando com quem? Porra, eu sou adulta também, trabalho e lido com problemas.

- Tudo bem, olha...eu não posso desfazer o que já está feito. Me desculpa mas eu tinha que fazer aquilo, talvez não fosse algo que eu queria mas veio de uma força maior. A política é cheia de joguinhos e se você não participa, você é eliminado como ninguém.

- Você ta rodeando tanto para amenizar sua homofobia descarada. Eu não preciso ouvir isso, é dolorido demais saber que você nunca vai mudar de verdade.

- Desde quando você se importa com o meu posicionamento? sempre fui assim, deixei claro para todos e agora do nada você aparece me cobrando coisas que eu não sou capaz de fazer. Então entenda, eu não posso mudar o que já esta feito.

Revirei os olhos, ela é tão idiota.

- Vai se fuder Danía. - falei e entrei dentro da cabine do banheiro, eu não escutei a porta abrindo, então imaginei que ela ainda estava ali.

Sai da cabine e ela permanecia parada no mesmo lugar me encarando de braços cruzados.

Me aproximei dela sentindo meus batimentos acelerar e seus olhos arregalaram, ela estava confusa e com medo do que eu ia fazer.

Cheguei mais perto sentindo a respiração pesada dela bater no meu rosto e sorri quando seu olhar desceu rapidamente pra minha boca.

Passei minhas mãos do lado do seu corpo e peguei o sabonete líquido que estava atras dela. Me afastei rápido e vi ela suspirar.

- Você tem que decidir, qual dos dois H você quer ser. - me encarou confusa- se quer ser homofóbica ou homossexual. - dei um sorriso largo e ela revirou os olhos.

- Você não sabe o que está falando, deveria parar de ser tão idiota.

Dei um sorriso e me aproximei de novo, ela não se afastou e pude encarar seus olhos com um brilho diferente. Passei a mão no seu rosto sentindo sua pele macia e fechei os olhos por alguns segundos aproveitando esse momento, quero guardar pra sempre.

Abri e vi que ela estava me encarando apreensiva.

- Quando você quiser ajudar pra resolver esss confusão dentro de você, pode me chamar - dei um sorriso reconfortante e um beijo perto da sua boca. Sua respiração acelerou igual meus batimentos cardíacos.

Me afastei com calma e sai do banheiro, respirando normal de novo.

- Caralho, já estava levantando aqui pra ver se você tinha caido no vaso. - Julia disse e soltei uma risada baixa

- Desculpa, encontrei alguem no banheiro. Conversamos um pouco

Ela ergueu as sombrancelhas.

- Sei bem quem você encontrou. - segui seu olhar e vi a Danía pagando a conta e saindo rapidamente do restaurante

- Julia...eu posso explicar.

- Querida, você já é adulta, sabe o que está fazendo e não me deve explicações nenhuma. A única coisa que quero saber é sobre o que vocês conversarem.

Respirei fundo e antes de começar a falar, nosso almoço chegou.

Contei tudo pra Julia.

- Porra, você quase matou a hétero.

- Ela não se afastou em nenhum momento, se eu quisesse podia ter beijado ela ali mesmo, porque ela queria. Estava encarando muito minha boca

- Todo mundo quer te beijar Hanna. - ela riu - eu só não entendo porque ela é tao horrível com os lgbt's. Possivelmente ela não é hétero e fica se fingindo - dei de ombros pensando sobre

- Eu também não entendo. - falei por fim e mudamos de assunto

A cantora e a deputada conservadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora