cárcere

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     A torre onde cresci ficou para trás depois que os dragões de fora resolveram invadir. Um motim tortuoso, onde me fizeram assistir todas as minhas falhas e os melhores momentos com requintes de estupidez. Foi como passar por um cemitério e descobrir partes diferentes de meu corpo em túmulos diferentes. Se minha vida toda até aqui foi uma mentira, o que difere ela da morte?
     Eu tive que morrer de novo. Sabia que ia chegar, só não esperava que fosse tão cedo ou desse jeito... Existem formas mais suaves de descobrir que nada é real, é claro. Porém, provavelmente tenho recebido recados mais sutis ao longo dos anos e nada nunca pareceu me acordar.
    
     Para acordar eu precisei de bem mais que um monstro, e eles batiam nas portas da torre como se realmente quisessem entrar. De uma educação exemplar, os monstros entravam de fininho e por lá ficavam até finalmente algo destruir. E então eu ia lá, sozinha, arrumar tudo mais uma vez.
     Até o dia que aquele me acordou. Ele adormecia enrolado ao pé de minha cama todas as noites, mas o que eu não sabia, era que ele se transformava pela madrugada. Quando percebi, já era tarde demais.

     O fogo estava por todo lugar. As chamas conseguiram atacar tudo que eu havia construído com muitos anos de dor e isolamento. Eu achei que estivesse melhor, mais segura. Achei que nada mais chegaria até mim daquela forma. Eu vi histórias parecidas acontecerem vezes demais para acreditar nisso, e mesmo assim, acreditei.
     O cheiro me nauseava. Os sons, santo Deus, eram os piores barulhos que eu já ouvi! A destruição física junto com as palavras que ele repetia incansavelmente. Não importava o quanto eu fugisse, ele era incapaz de se calar. Me prendia em suas histórias, com a promessa velada de que se eu concordasse tudo estaria bem. Mais uma vez, eu acreditei. Concordei e obedeci até que minhas forças acabaram, e então eu morri.

    
    
    

votos secretos da identidade do ventoOnde histórias criam vida. Descubra agora