carcomido

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     Às vezes eu sou uma bosta de ser humano, o pecado me consome. Ser egoísta e ambicioso é tão fácil, não medir consequências, não confiar — ou talvez seja pior confiar — nos semelhantes.

     Semelhantes estes que meramente me aturam. Eu sou um lixo de ser humano, mas, não é sempre. E quando eu sou o que existe de mais bonito em nossa humanidade — uma unidade — por quê ninguém mais vê?

     Ser social uma ova. Ser dependente. Ser viscoso, asqueroso, parasita. Eu sou um parasita de alguém, alguém há de ser um parasita meu. E o que faço com isso?

     O que faço, sinceramente, com qualquer coisa e sobre qualquer coisa? A mente e o corpo já processam informações desses e outros mundos de forma a fazer-me sentir em decomposição. A lua enche, eu sangro, a lua brilha, eu morro.

     Morro de novo, morro pelo que eu espero ser a última vez no ano — não que estejamos considerando a existência do tempo de verdade, mas deixo o humano eu meio racional usar o calendário obscuro e manipulado para contar alguma coisa.

     Tão feio seria eu se me visse no espelho agora. Tantos machucados e vermes estariam dispostos em meu corpo. Não como algo fora de mim, mas como meu reflexo de imundices reviradoras de estômago. Eu sou também o monstro que já quis matar. Eu sou também o ódio que mata os que amo. Eu sou também luz, mas agora encaro a escuridão.

     Já fui borboleta em casulo e casulo sem borboleta, agora não sei o quê mais. Me agarro aos ventos fingindo não me importar  com meu destino ou segurança. Nem sempre é fingimento, entretanto...

     Há os seres que me desprezam e os que precisam de mim, talvez alguns dos que me desprezem precisam também. E digo que, não é remota a possibilidade de eu precisar também de seu desprezo. A terra é uma escola e não posso reprovar. De novo não. Preciso aprender, por favor me deixe aprender.

     Aceito ser feio e imundo mas me mostre como ser feio e imundo integrado ao belo e luminoso que vive no âmago de meu ser. Acerte a dose dos ponteiros — estou falando maluquices novamente —, cure minhas feridas, ou me mostre como curar. Não me importuna mais a dor, me importuna ser ferido. A dor é quase sempre a mesma, a ferida, entretanto, tem mais formas de me pegar.

     Ela me pegou agora na gula, no egoísmo, na luxúria... Me pegou na mente, no corpo e na alma. As feridas crescem, aumentam e se sobrepõe, deixando-me quase apenas feridas e cicatrizes, feridas e cicatrizes. Se a pele ficar mais grossa, não adianta, apenas permitirá que as próximas cicatrizes sejam ainda mais elegantes e pompozas. Como uma cabeça arrancada em guerra, disposta na frente do castelo do rei vencedor. Inumano, irreconhecivel, inanimado, humilhado.

     Sim eu sou horrivel, ou estou horrivel. Não precisa me olhar se não quiser. Mas, estou aqui e peço para ser visto, sentido, tocado. Peço que me entenda, peço para que se veja em mim até que doa... Ou não. Não precisa doer, mas ultimamente toda vez que abro a boca, acho que vai.

     Honestamente, tudo me dói. A dor tem me tornado agressivo por vezes, e é essa raiva que me compele a seguir sendo um bosta. Nunca dá certo. Nunca provo ponto nenhum. Eu deveria estar calado, parado, nem mesmo pensando. Eu deveria estar enterrado, carcomido, mas aqui estou, decompondo-me aos poucos em frente à mim mesmo. Eu e apenas eu, a não ser que alguém mais, sem meu conhecimento, se aproveite e entretenha com o show que é minha miséria.

     Será que há mais alguém aqui?

votos secretos da identidade do ventoOnde histórias criam vida. Descubra agora