a arte imita a dor

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     As lágrimas caem e secam-se sozinhas, como folhas mortas de uma árvore já quase sem vida. O medo vem e vai, como quem não quer nada, como quem não sabe pedir. E eu não sei, não sei o que ele quer de mim.

     Eu deveria esperar pelo pior? Não, isso nunca resolveu nada. Mas se quase todas as vezes que eu esperei pelo melhor ele não aconteceu, por que devo continuar agora? Parece que meu otimismo nunca desiste, mesmo quando é extremamente sensato desistir.

     Eu já morri uma vez. Ou melhor, diversas vezes. E todas elas me obrigaram a renascer, não necessariamente mais forte. A dor que eu carrego não me fortaleceu, mas a consciência de que eu preciso tirar algo de proveitoso dela para não me sentir um fracasso me forçou a insistir. Talvez não esteja mais forte ou mais inteligente, mas não tenho outra forma de me redimir. Preciso usá-la. Preciso transformá-la em algo melhor para poder sentir que a vida não se esvaiu de mim completamente. E porra, às vezes isso é tão difícil!

     Todas as vezes que eu morri pensei que não poderia ser pior, que aquela seria a última vez, a última gota de um poço de tragédias que tinha que se esgotar. O sofrimento não pode ser para sempre, certo? Bem... Eu me enganei sobre não poder ser pior, acho que sempre pode. Assim como também sempre pode ser melhor, mas isso é assunto para outra história. Essa aqui é o seguinte:

     Eu morri. Morri e morri de novo, centenas de milhares de vezes. Pequenas e grandes mortes, e não digo pequenas como as dos franceses — apesar dessa poder se aplicar também —, e grandes como ondas gigantes que destroem cidades inteiras antes que se possa respirar por uma última vez. Todas as vezes eu sobrevivi, em todas as vezes eu precisei lutar com ou sem forças para sair do túmulo. Nisso eu nunca tive escolha.

     A morte carnal não me quer, já percebi isso. Ela vem me rejeitado por anos à fio, eu já me cansei de procurar ou esperar por ela. Toda morte é um renascimento, mas de vez em quando, eu só queria que a morte fosse morte, e parasse de me obrigar a renascer.

     Claro que não é um pensamento contínuo, as coisas não estão tão difíceis assim — é mentira, elas estão difíceis pra caralho —, mas agora eu consigo ver mais claramenre alguns pontinhos de luz. Droga! Isso também é mentira.

     A realidade é que eu não sei quanto tempo nada disso vai durar, ou o quanto mais de tanta merda eu aguento. Provavelmente muito, já que todas as vezes que eu disse entre lágrimas que não aguentava mais me vi sendo obrigada a aguentar. Então que seja! Não sei se me importo mais.

     Outra mentira. Eu me importo sim. Estou me esforçando para transformar minhas tragédias em arte, resiliência e beleza, mas gostaria que apenas uma vez eu tivesse tais coisas sem precisar me esvair. É, talvez seja a hora de parar de esperar por coisas melhores e começar a criar elas do mais absoluto nada. Será que eu consigo?

votos secretos da identidade do ventoOnde histórias criam vida. Descubra agora