Capítulo 8

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Hoje era um daqueles dias que não desejava pisar fora da cama, principalmente após saber que iria voltar em São Paulo após praticamente quatro anos longe dali. Não querendo dizer que odiava minha terra natal, não, lá era meu lar, onde nasci e cresci, onde minhas primas, tias, tios e avós moravam,
e inclusive, a minha mãe. Mas eu não sei se minha mente está preparada psicologicamente para voltar ali, para inspirar aquele ar... sem falar que não sabia se podia o ver. E claro que sei que São Paulo é composto por várias cidades, inclusive, iríamos para Campos do Jordão, e eu morava na capital, a
chance era bem pouca, eu sei, mas não podia descartar essa hipótese de forma alguma. Afinal, coincidências acontecem, não é?

Se existe alguém capaz de descobrir o que se passa por minha mente, esse alguém é Dinah. Ela sempre sabia o que eu estava sentindo: raiva, felicidade, tensão ou nervosismo. Ela,
além de advogada, era perita em descobrir o que se passa na cabeça de Camila, e acredite, ela era boa.

Não quis tocar no assunto com ela, mas bastou apenas ter seus olhos nos meus para ela se sentar em minha frente no balcão e me examinar já lançando suas perguntas:

─ O que aconteceu? Foi algo no trabalho? Algo com a delicia da Lauren? ─ me questionou e soltei um sorriso nervoso bebericando meu café.

─ Nada demais...

─ Fala logo, tu sabe que odeio insistir... e quero detalhes, sabe que sou advogada e trabalho com detalhes.

Resfôlego a olhando sem ânimo para falar sobre aquilo, não era o melhor assunto para se trazer à tona, só eu entendia o quanto era difícil voltar ali, mas precisava dividir com ela minha angústia, sempre fiz isso, e ela me ajudava muito em tudo.

O "radar Dinah" nunca falha.

─ Vou na quarta à São Paulo, Lauren irá realizar um trabalho jurídico lá e levará as crianças... Ficaremos em Campos do Jordão, e por voltar lá fiquei meio nervosa, sei lá, não consigo explicar direito.

Dinah me analisa, seu olhar parece me penetrar de forma profunda. Em seguida segurou em minha mão e a apertou.

─ Não tem porque ter medo, acha que ele vai te achar? ─ Arqueia a sobrancelha.

─ Não. ─ olho para o lado. ─ Só não sei se estou pronta para voltar para lá, já fazem quase quatro anos, Dinah.

─ Para de ficar assim, você é mais forte do que pensa e sabe muito bem disso, eu sei que você não pensa em voltar lá porque foi onde tudo aconteceu, mas já passou, Camila. Você não pode deixar de fazer algo só porque te trás lembranças ruins, quando pensar nessas lembranças pense no quanto é forte e no quanto consegue, você pode, garota!

─ Eu sei ─ suspiro. ─ Não penso mais no pior, não como pensava antes.

─ Pois é ─ Ela se levanta e vem me abraçar. ─ Vai para São Paulo com as crianças e perca seu medo, nada vai te acontecer lá, o pior já passou e não irá vim à tona, nunca mais. Você acha que algo vai te acontecer lá? Nem pense sobre isso, e além do mais, são apenas dois dias.

─ Você fica com Pietro para mim?

─ Sabe que sim, amo esse garotinho como se fosse meu filho, não vejo problema algum em ficar com ele por dois dias ─ ela ri.

─ Tudo bem então ─ me levanto e me espreguiço. ─ Vou voltar para cama e descansar mais um pouco, afinal amanhã é
segunda! Dia de trabalhar.

─ Eu que o diga, to quase louca aqui ─ a observo colocar café em um copo.

─ Você não tá quase louca, você já é louca!- digo e volto pro meu quarto minúsculo me aninhando com meu bebê que dormia e pensando bastante sobre essa viagem.

A Juíza •Intersexual•Onde histórias criam vida. Descubra agora