A Juíza •Intersexual•

Capítulo 15

Lauren Jauregui Point Of View

Gosto de tudo nela, não é como as outras cujo meu único objetivo é uma noite, não vou mentir em dizer que o cheiro dela me entorpece e faz meu corpo todo ficar elétrico. Camila não era qualquer uma, ela tinha seu jeito único. Tudo para ela era muito, até mesmo o mais simples, ela sabia ser feliz com
o pouco e seu filho possuía exatamente o mesmo jeito que o dela. Era notável que era uma criança saudável e feliz.

Eu não sabia levar uma vida como a dela, eu precisava de poder, precisava mandar, precisava que as pessoas me obedecessem, queria tudo prontificado para mim e já.

Eu sabia que não era uma boa pessoa, muito menos uma boa mãe, mas após a perda de Martina a outra mãe dos trigêmeos tudo pareceu escurecer, e, o seu último desejo não
pude realizar. Não fui uma boa mãe, e não sou uma boa mãe pros meus filhos, simplesmente os rejeitei, colocando a culpa de ter pedido a única mulher da minha vida neles.

Ela não conseguiu por conta deles e isso ficou em minha cabeça durante muito tempo, e só depois fui perceber que estava cega de raiva por estar sozinha no mundo de novo. Eu
estava enganada, não estava sozinha, eu tinha meus filhos comigo.

Depois de Martina nunca quis mais ninguém,
simplesmente me fechei para relacionamentos e pro mundo, todas as mulheres que passavam por mim não ficavam, apenas me satisfaziam. Eu nunca mais fiquei iluminada por dentro, impressionada, eu ficava apenas mais e mais escura por dentro, como um túnel sem fim.

Mas após reparar em Camila eu pude ter uma faísca acesa dentro de mim, ela era diferente, era verdadeira e não parecia interessada em tudo que possuía em minhas mãos. Ela jamais
se insinuou para mim, e em três meses conquistou algo que ninguém jamais havia conquistado: minha atenção e meus filhos.

Gostava de reparar nela, no seu sorriso certinho e embranquecido, seus olhos castanho, os cabelos castanhos escuros e lisos com pequenas ondas nas pontas, seu corpo
repleto de curvas cujo minhas mãos amariam explorar e seu jeito, simples, modesto e sincero.

Somente uma pessoa teve minha atenção nessa vida, e realmente me intrigou, essa pessoa foi a outra mãe dos meus filhos, ela sabia de todas minha cicatrizes, minhas dores e angústias.

E agora era Camila. Um verdadeiro enigma na minha vida.

Tantos segredos, tanta dor, tanta inocência, um olhar tão puro... não conseguia ler seus olhos, mas eu sabia que ali dentro existia dor.

Caminho por meu escritório e olho pela enorme janela de vidro a paisagem que me é proporcionada, o mar lambendo a areia num ritmo lento, o céu azul e o sol escaldante, como costume. Deslizo meu olhar até a piscina, vejo ela suja e abandonada, um dia, essa mansão já teve cor, mas a medida
que me fechei ela também se fechou.

Mas estava cansada disso, lembrei-me então das palavras de Camila, eu precisava limpar esse rancor do meu peito, parar de enxergar as coisas da maneira que enxergo, eu sei
que posso ser feliz de novo, eu só preciso tentar.

Saio do escritório e caminho por aquela casa enorme em passos lentos, sentia falta da alegria que um dia já existiu dentro dela.

Subo até o quarto das minhas filhas, mas quando coloco a mão na maçaneta posso ouvir elas conversando.

─ Espero que chegue logo amanhã... estou com saudades da Mila ─ ouço a voz de Isabela.

─ Ela devia vim nos finais de semana também, não concorda? ─ Grace se pronuncia.

─ Eu queria que ela fosse nossa mãe também... ─ é possível notar tristeza em sua voz.

─ Algo impossível, não é mesmo? Pra falar a verdade, eu também queria, ela parece nos entender de verdade.