Capítulo 4

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Dobro as roupas pouco coloridas de Christian, sei que esse serviço era da doméstica mas eu gostava de fazê-lo por ela, imaginava quando meu bebê estivesse com oito anos e suas roupas ficassem maiores, era meu sonho.

Após deixar o quarto dele intocável eu desço as escadas e bebo um pouco de água na sala dos empregados, algumas empregadas me olham de rabo de olho e cara feia, não
entendo o problema delas comigo, sinceramente. A única que falo, e bem mal, é Normani. Tirando a governanta, TJ e Shawn
eu não falo com mais ninguém e a casa sempre estava cheia por ser enorme.

Ouço um barulho de saltos batendo contra o piso, o barulho se aproxima e isso me faz ficar em alerta, dentro de segundos a figura de alguém não muito desconhecida surge na sala de empregados. Ally carrega uma caixa e parece meio cansada. Me levanto em imediato e me ofereço para lhe ajudar.

─ Não precisa, Camila ─ ela ri amigavelmente. ─ Obrigada. Eu vim falar com você mesmo.

─ Aconteceu algo? ─ logo me preocupo.

─ Nada demais ─ ela procura algo na bolsa e me entrega. ─ Hoje a Sra. Jauregui comparecerá em um jantar com os avós das crianças, e por isso às seis horas já é para vocês estarem prontos.

─ Vocês? ─ pergunto confusa erguendo a sobrancelha.

─ Você é babá, sabe como é, festas, viagens, ir no banheiro com as meninas, cortar comida, essas coisas...

─ Eu? Eu... eu... nem roupa adequada para isso eu tenho.

─ A Sra. Jauregui encomendou esse vestido para você.- ela abre uma caixa média, dentro, havia um vestido bem embrulhado e aparentemente de marca cara, ele exalava um perfume doce e enjoativo. ─ É bem caro e bonito...

Ela retira o vestido da caixa de papel e o estende, era longo, de mangas e bem justo, sua cor era salmão, ele era de renda e em um tecido macio e liso. O vestido era lindo,
confesso, mas não usaria aquilo, eu era babá e não uma acompanhante. Olho para Ally que está enrolada com o celular e suspiro lhe entregando a caixa de volta.

─ Desculpa, não posso aceitar e usar isso, devolva, por favor peço gentilmente.

─ Aí está o problema, não posso devolve, ela é minha chefe, quer que eu chega e diga: "ela não quer o vestido, pegue de volta, sua mandona chata que não me dá folga."- ela
fala meio exasperada e divertida, é a primeira vez que a vejo solta. ─ Espera... você realmente acabou de recusar essa vestido?

─ Sim, eu sou uma babá, não uma acompanhante ─ pego as caixas com as devidas roupas das crianças.- Devo me vestir
como tal, pode deixar que eu vou me virar.

─ Tá bom, essas são as roupas das crianças, e aqui suas instruções anotadas por mim ─ ela me entrega um envelope.

─ As seis, não se esqueça.

─ Pode deixar ─ dou um sorrisinho de lado.- Não se preocupe.

Ela acena e sai dali apressada, me viro pegando as caixas e noto os olhares de nojo das empregadas em cima de mim.

─ Essa daí a Sra. Jauregui com certeza já comeu... ─ ouço um comentário baixo seguido de um sorrisinho.

─ Como todas! Não demora muito e ela será demitida.

─ Normal, Maria ─ elas gargalham.

Fecho meus punhos controlando a raiva, quem elas pensam que eu era? Uma vadia qualquer que dá para chefe? Eu me prezo. Não tenho culpa se a Jauregui acolhe essa
reputação de dormir com as babás dos filhos, mas comigo mesmo ela não faria isso, ela acha que eu era quem?

A Juíza •Intersexual•Onde histórias criam vida. Descubra agora