Capítulo 17

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Lauren Jauregui Point Of View

Eu sento, mesmo desconfortávelmente, eu me sento. E ela se vira, fecha as pálpebras e não as abre mais. É notável que adormeceu e durante muito tempo a observo, seu peito descia e subia de forma lenta, sua expressão era suave.

Eu suspiro, mal conseguia controlar toda aquela raiva que me consumia, uma raiva que parecia corromper cada artéria minha, cada pedacinho do meu corpo, tudo, literalmente. Então esse era o grande mistério escondido por trás dos olhos dela, o mistério que me foi enfim revelado. Eu preferia não saber.

Estupro. Ela foi estuprada. Pietro era filho do estuprador. Como assimilar tudo isso, meu Deus? Eu estava cheia, minha cabeça latejava e eu sabia bem que naquela noite eu não pregaria os olhos. Não conseguia acreditar nisso, simplesmente não engolia que havia ocorrido isso com ela. Logo com ela... tão pura, tão inocente, uma pessoa cuja alma
era maravilhosa e que ela fazia questão de transbordar isso.

Estuprada.

Me levanto, me sinto sufocada, não consigo ficar mais ali, encarando-a dormir, sabendo que havia passado por tudo isso... sozinha. Minha mente tenta brincar comigo, tenta criar cenas da situação, exatamente de como ela me descreveu, é como uma tortura, é como se me torturassem aos poucos. Massageio minhas têmporas. Tento não imaginar seus olhos perfeitos apavorados, tampouco as lágrimas se formando nos mesmos. Tento não imaginar seu desespero, seus gritos, e sua situação naquele momento. Eu falho. Muito machucada, muito machucada pela vida.

Deslizo meu dedo por seu rosto sereno, é maravilhoso sentir sua pele macia roçar a ponta do meu dedo. Era inacreditável, simplesmente inacreditável pensar na possibilidade de Camila já ter passado por isso. Puxo o cobertor pelo seu corpo a cobrindo e mais uma vez toco delicadamente a lateral de seu rosto, minha maior vontade era de deitar ali, sentir o calor de seu corpo, inalar seu cheiro doce, apertar seu corpo contra o meu, mas não consigo. Deixo o quarto de Camila após a olhar por mais alguns minutos, era como ver um anjo adormecido.

Fecho a porta com cuidado e vou até o meu. Já que sei que não dormirei essa noite, apenas tiro minha roupa e me deito na cama, encarando o teto, pensativa. Pensei por um momento quem faria tal ato contra ela, justo contra ela. Meu Deus, meus pensamentos estavam me matando, a raiva estava me consumindo, sentia uma vontade imensa de pegar o desgraçado e o socar até a morte.

Eu protegeria Camila, a protegeria até quando pudesse. Não sei bem o que era aquilo que sentia, sendo que só havia sentido uma vez, e há muito tempo, dessa vez eu sentia com tudo, com uma intensidade incrível. Só queria a proteger, fazer ela poder viver bem. Eu sabia que era difícil viver com isso na mente, mas ela sabia esconder isso tão bem que me deixava admirada, seus olhos eram felizes e tristes ao mesmo tempo, algo difícil de compreender. Camila, mesmo eu não querendo, já fazia parte de mim e da vida dos meus filhos.

E também queria descobrir quem fez isso com ela. Dói saber que ela tinha que passar por esse sofrimento, de reviver isso na mente, mas ela era forte e eu estava disposta a estar ao lado dela.

Pego meu celular e suspiro, mandando uma mensagem pro meu detetive. ''Preciso de um serviço, com urgência.''

Eu investigaria, seria difícil, mas vasculharia toda aquela São Paulo, eu o acharia e iria fazer o mesmo pagar com minhas próprias mãos.

Ah, ele não sabia do que era capaz.

E só de pensar já me bateu um ódio que jamais senti, e esse ódio corria por minhas veias.

Ele pagaria.Com a pior moeda existente.

Camila Cabello Point Of View

Desperto sentindo minha cabeça pesar, meus olhos ardem e por um momento não consigo levantar. Me sento na cama e esfrego meus olhos, com toda certeza estavam inchados, e logo ao me recobrar que só ficava assim quando chorava, meus pensamentos de ontem a noite me atingem. Me lembro de ter contado a Lauren sobre meu
passado, me lembro de sua reação e de tudo que passamos após eu desvendar meu passado. É possível sentir meu coração batendo rápido, meu Deus, não acredito que havia dito tudo isso para ela, justo a ela. Fiquei pensando, estava arrependida de ter dito tudo, não sabia do que ela era capaz, não queria que ela fizesse nada, já pensou se ela leva isso na justiça? Se vai atrás do desgraçado? Era meu maior medo, eu não queria ser exposta.

A Juíza •Intersexual•Onde histórias criam vida. Descubra agora