A Juíza •Intersexual•

Capítulo 10

Lauren Jauregui Point of View

"Preciso do passado dela, tudo que você puder achar sobre ela será de se aproveitar, preciso disso o quanto antes...", escrevo para meu, digamos que, detetive particular. Precisava
saber do passado dela, de saber que ela escondia coisas eu já sabia, mas não sabia o quê e isso estava me matando por dentro, eu estava com a curiosidade aguçada.

Deixo o celular em qualquer canto e passo as mãos pelos meus cabelos, não consigo pregar os olhos, não consigo dormir de forma alguma, apenas pensando nos olhos assustados e medrosos que ela possuía ontem. O que havia acontecido?

Ando por um lado e por outro, olho a paisagem pela janela, sinto a brisa gelada, mas nada me acalma, absolutamente nada, sinto uma energia dentro de mim que não me faz ficar quieta.

Me deito na enorme cama mas é em vão, não tenho calma. Essa crise já era minha, a insônia, a ansiedade, tudo causado por uma só pessoa de olhos castanhos... Não ela em si, mas o enigma que se encontrava nela, não conseguia decifrar, isso me agoniava, eu sempre conseguia decifrar qualquer pessoa
que fosse.

Madrugo, fico acordada encarando o nada até o amanhecer, fico apenas pensando e pensando, acumulando uma montanha de pensamentos em minha mente, alguns
questionários e supostas conclusões que nem sabia se era verdade ou não. Mas algo era certo, Camila não queria nada comigo, era perceptível isso, ela não era como as outras que me olhavam com desejo, que se insinuavam, ainda mais sabendo da minha condição e minha intersexualidade, ela
sempre queria distância, sempre estava bem vestida se cobrindo o máximo possível, sempre me encarava mas não com outras intenções no olhar. Ela não me desejava.

Mas isso não era um problema, acredite, não sou tão infantil ao ponto de demitir ela por conta disso, meus filhos gostavam dela, em especial Isabela, e ela gostava deles da mesma maneira e não era falsidade, era puro, assim como o olhar dela e o sorriso. Mulher para mim nunca foi um problema, tinha varias ao meu redor, e tudo que eu queria era apenas uma noite e elas me davam com prazer.

Não era porque dormia com várias mulheres que eu sentia algo, desde a morte de Martina eu tenho um vazio imenso dentro de mim, mulheres é apenas uma distração, não tem intensidade, não tem sintonia, não tem nada apenas de um prazer passageiro. Eu sei iludir, eu sei conquistar em belas palavras, eu posso levar para cama em questão de segundos.

Mas eu sei que com ela não é assim.

Agora eu a observo, conversar animadamente com Isabela enquanto beberica seu café e come o bolo de chocolate, Grace e Christian, mesmo sendo crianças fechadas, lançavam
olhares para Camila na qual eu nunca tinha visto. Ela não me encara, não me olha, e abaixa a cabeça, nunca tinha visto dessa forma, geralmente ela está sempre de cabeça erguida. Ela estava com vergonha de mim, será?

Meu celular apita, é uma mensagem do meu detetive.

"Não há muita coisa, Sra. Tudo que achei sobre Camila Cabello está na pasta que estou mandando para Sra, se quiser uma investigação mais profunda posso mandar uma equipe investigar a vida dela."

"Faça isso, Sérgio. Obrigada", respondo em imediato, em seguida ergo meus olhos encarando os brilhosos olhos de Camila em minha direção, mas ela desvia, como se me ver fosse a pior coisa do mundo.

Volto meus olhos para pasta sobre Camila que acabara de chegar pelo e-mail. Abro a mesma lendo o conteúdo nela obtida.

Karla Camila Cabello Estrabao, vinte anos, naturalidade de São Paulo, registrada somente no nome da mãe, cursou o ensino médio completo e trabalhou durante anos na casa de algum pessoal rico, seu filho tem quase quatro anos, é registrado somente no nome dela. Pietro Cabello, nascido no Rio de Janeiro, um mistério atrás de outro mistério. Perguntas agora circulavam minha cabeça: por que ela não quis visitar os parentes dela? Por que o pai de Pietro não o registrou? Vi
que ela também viajou pro Rio de janeiro grávida, aos dezessete anos, e foi morar com Dinah Jane Milika Ilaisaane Hansen Amasio, que é mais velha e trabalha num escritório de advocacia, e também vi a foto do lugar onde eles moravam... isso é... Se pudesse chamar aquilo de lugar.

─ Mãe? ─ Tiram minha atenção da tela do celular, é Christian. ─ Podemos voltar pro quarto?

─ Claro ─ respondo os observando me deixar e pedir o elevador rumo ao andar do quarto deles.

Eu iria descobrir tudo sobre ela, eu tinha esse poder e faria isso.

Queria saber quem era Karla Camila Cabello Estrabao.