Capítulo 11

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- A vida é um paradoxo - Lena suspirou. Seu indicador circulava a borda do copo, desviou seus olhos para lá por uma fração de segundos e voltou a encarar Kara.

Suas palavras estavam certas. Elas sempre estavam certas. Não era por acaso que para Kara, Lena parecia ter tanta segurança de tudo o que dizia. Tinha tanta certeza ao dizer que apaixonar-se não cabia a si, assim como tinha tanta certeza ao dizer que a vida era um paradoxo.

Recordar aquela noite em que deixou suas próprias verdades serem mostradas à Kara se tornou um hábito.

Kara não derrubou seus muros, eles permaneciam intactos.

Kara ultrapassou-os.

Conheceu mais sobre si mesma em meio ao que estava sentindo por Kara nos últimos meses, descobriu que havia criado diversas verdades, aquelas que eram só suas, e tinha certeza de que elas a protegeriam de quaisquer pessoas que chamassem sua atenção e elas cumpriam essa função com êxito. Ao mesmo tempo que vê-las sendo deixadas para trás lhe trazia insegurança, era bom. Era bom porque Kara era a responsável por distanciá-las.

Ainda sentia medo. Medo de sentir demais.

Ao sair machucada depois de ter amado alguém que não pôde corresponder os sentimentos à altura, que a levou até o ponto mais alto e a fez despencar sem aviso prévio, criar defesas era inevitável. Ainda se sentia vulnerável sob efeito desses sentimentos, mesmo que o tempo tivesse cicatrizado a sua ferida, não estava pronta para abrir outra, mas Kara havia lhe virado do avesso e estava novamente exposta a riscos, porém, por ela estava disposta a se arriscar.

Sentia medo de Kara voltar a ficar do lado de fora dessas verdades criadas e empilhadas que formavam uma barreira. No entanto, ela sempre findava esse seu medo mesmo que fosse durante minutos ou horas.

Kara era a causa e a solução.

Haviam passado quarenta e dois dias desde o pedido feito antes de um beijo na testa e a bolha cor de rosa que criavam quando estavam juntas seguia impenetrável.

A paciência havia dado as mãos à pressa. Os sinais de reciprocidade, por vezes, eram nítidos e mantê-los sem a certeza desse significado era um jogo gostoso sobre não saber, porém tinham sede de ir além, de demonstrar mais e esses sinais pareciam não ser o suficiente. Lena tinha uma imensa vontade de gritar aos quatro ventos que estava perdidamente apaixonada e o faria se tivesse de coragem o tanto que tinha de vontade.

Sua cadeira estava virada para o vidro da sua sala, observava o céu começando a ganhar tons mais escuros e tinha prazer no silêncio. O silêncio lembrava como o timbre da voz de Kara era tão prazeroso quanto ele.

Fazia questão do seu silêncio.

Fazia questão de que Kara o interrompesse.

Estava aguardando por isso enquanto sentia o relevo do título do livro sob seus dedos.

O primeiro livro estava em suas mãos.

Havia perdido as contas de quantas vezes analisou cada detalhe para ter certeza de que estava como Kara queria e, de fato, estava impecável.

Inconstant era tão dela, tão ela.

Apreciava nas palavras o fato de elas ficarem. Independente do tempo, elas ficavam. Kara se deixara nelas naquele livro.

Kara havia ficado também. Ficado em si.

Kara era as palavras que se um dia não pudesse ler mais, teria guardadas em um lugar inacessível. Lugar que agora só Kara habitava.

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"Tarde demais para vir até aqui?"

Kara franziu o cenho ao ler a mensagem aleatória em meio  ao assunto, porém em segundos sorriu com a ideia.

Paradoxo (SuperCorp)Onde histórias criam vida. Descubra agora