Capítulo 18

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O amor rompe o equilíbrio.

Faz o mundo girar descontrolado, ora calmo, ora apressado.

Faz o errado parecer correto.

Faz existir a sensação de um coração que não bate num ponto alto de vida.

E rompe o equilíbrio de duas almas que quando embaladas pelo sentimento, dançam juntas em sincronia a uma melodia que soa somente para os ouvidos de quem o sente. Desequilibradamente. Há meses, havia duas almas cujos corpos habitavam Nova York, que dançavam ao som da própria música, em passos não ensaiados, mas desequilibrados por conta do amor.

Amor esse que proporcionou às duas a quebra de barreiras extremamente equilibradas ao redor dos corações.

Era sobre isso que Kara escrevia.

Essa era uma das coisas que nem ela e nem Lena mudaram.

Na verdade, havia mudado algo. Passara a escrivaninha, onde passava as noites em claro escrevendo, para baixo da janela do quarto.

Havia uma cidade que não dormia lá fora, assim como ela, e era um desperdício não deixá-la participar das suas noites regadas a bebidas quentes e palavras que mostravam e escondiam tanto sobre tudo e, principalmente, sobre si.

Aprendeu sobre a vida, sobre ela, sobre Lena, junta e separadamente, sobre escrever e sobre o mundo, nas viagens que fizera para sessões de autógrafos do livro.

Tinha ido longe, levando em conta que aquele era seu livro de estreia, uma viagem ao Canadá e outra à Inglaterra, já era muito a ser considerado, além dos outros estados do seu próprio país.

Em cada chão que pisou, em cada abraço que recebeu e em cada momento que deu as mãos à mulher que amava, se sentiu ainda mais cheia e dona de si. Dona de cada passo que estava dando, por mais que alguns tivessem sido com certos empurrões. E essa era uma das coisas que havia aprendido. Era responsável por tudo que acontecia e isso não descartava a participação de outras pessoas, muito pelo contrário, elas eram extremamente importantes, pois ninguém andava em caminhos escuros sem ao menos buscar a ajuda de uma luz.

E diria com o coração em paz que seus caminhos foram muito bem iluminados, até mesmo quando precisou ser a sua própria estrela guia e demorou a conseguir.

Deveria dizer que sua estrela favorita era ela mesma, com todos os degraus que havia subido para entender tanta coisa sobre o universo particular que era. Porém, seria uma completa mentira dizer que a sua estrela guia favorita não era a mulher que todos os dias a fazia dormir com o peito carregando um coração descompassado, às vezes, com o corpo encaixado no seu como se tivessem sido desenhados para não desgrudar.

A luz que mais brilhava em uma estrada escura e tortuosa, era a sua junto a da mulher que entrelaçava seus dedos aos dela e lhe passava a segurança de um mundo calmo e seguro, que só existia entre suas peles coladas.

Aprendeu que cada vida era uma história. Cada ser, um protagonista.

A história que estava prestes a terminar ali, tinha duas protagonistas.

Não era uma simples história.

Era uma história de duas histórias cruzadas.

O barulho das teclas se misturava à música Every Breaking Wave, que estava em um volume baixo devido ao horário. Parou de digitar por um momento e levou à caneca branca com um resto de chá, ainda morno, à boca e levantou a cabeça para observar os prédios a frente.

Embora tivesse desvendado tanta coisa em tão pouco tempo, reconhecia em si a sua própria essência. Felizmente, não era o título de autora que recebera, não era a indicação a um prêmio, não era o seu pequeno sucesso e a quantidade de pessoas que esperavam por um autógrafo e uma foto em uma fila, que determinava quem era desde quando essas coisas foram acrescentadas. A Kara que conhecia, que sentiu ser moldada a cada dor e alegria que sentiu, a cada palavra que deixava em um programa de computador ou em folhas enquanto na sua alma eram como tatuagens, era aquela Kara que estava sentada no seu quarto, com a porta fechada, com a melhor irmã - que andava estranhamente alegre demais nos últimos dias - dormindo no quarto ao lado e com o relógio marcando um horário que deveria estar dormindo, se levasse a sério que as pessoas precisam de, pelo menos, oito horas de sono.

Paradoxo (SuperCorp)Onde histórias criam vida. Descubra agora