Escadaria (Angel)

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Temas: ex-namorados, friozinho de madrugada.
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Estava bem frio, a chegada do inverno era sempre assim. Seus ossos doíam tanto que precisou sair de dentro do seu apartamento.
Para alguns essa opção poderia parecer a mais plena burrice, mas a real era que o seu aquecedor particular estava com problemas desde a estação passada e nunca que dava de alguém vir ajeitar já que você precisava estar presente, e o isolamento térmico natural do prédio funcionava muito bem na escadaria, que nunca era utilizada, todos preferiam elevadores.

Encostada na barra de proteção da escada, quarto andar, ali não seria incomodada por ninguém, ao menos era isso que esperava, seus olhos pesavam com a chegada do sono, abraçava os joelhos na direção do peito, não porque estava com o mesmo frio de antes, simplesmente precisava daquilo.

-Espero que tenha uma boa explicação para isso- Você escutou a voz dele.

Terminar um relacionamento já era difícil, mas você ainda morava no mesmo prédio que ele, sorte que não no mesmo andar, ele morava no quinto, e nunca usava escadas.

-senti o cheiro do seu sangue- ele explicou
-Estou bem- você responde

Ainda não tinha tomado coragem para olhar para trás, para olhar para ele, será que confiança o mesmo? Teria deixado o cabelo crescer mais? Ou será que o cortou? Ele sempre era tão imprevisível.

-Certeza? Sabe, você não se daria ao trabalho de vir pra escadaria de madrugada

-E você não viria na escadaria em horário nenhum, estou bem, é sério- respondeu.

Não podia vacilar, sabia o quão infantil você podia parecer tratando ele daquele jeito, mas simplesmente não podia ser de outra forma.

-Ainda está brava comigo?- Ele sentou ao seu lado.

O cabelo estava um pouco mais longo, oh sim, você se lembrou, era você que repicava as pontas do cabelo dele.

-Não

-Certo, se não está olhe pra mim agora
Mordeu os lábios, sentia o corpo dele muito perto do seu, qualquer outro ser humano estaria entrando em pânico, mas seu contrato com um certo demônio te fazia incapaz de morrer até certo ponto, então o Anjo era incapaz de absorver seu tempo de vida.

-O que foi? Pode voltar pro seu apartamento, você odeia o lado de fora- você deu de cara com aquele olhos dele.

Engoliu seco quando ele piscou duas vezes, mas não desviou o olhar do seu.

-Não quero voltar lá pra dentro, não quero ficar sozinho

-Você sempre gostou de ficar sozinho- o provocou

-Sempre gostei de passar o tempo com você- ele respondeu sua provocação.

Sua mão direita segurava a barra de proteção com força, a ponto das pontas de seus dedos ficarem esbranquiçadas pela falta de circulação de sangue, sua mão direita estava entre vocês dois, no chão, e a mão dele estava encima da sua esquerda.

O toque dele sempre foi diferente de qualquer outro toque, as pessoas no geral seguram as mãos umas das outras como um ato natural, algo cotidiano, mas ele sempre segurou com força, como se não quisesse nunca soltar.

Você suspirou de raiva, ainda estava apaixonada por ele, queria ser como suas amigas e xingar seu ex por ser um babaca na hora do término.

"Não somos feitos um pro outro, é melhor que termine aqui e agora" essas foram as palavras dele.

Você se sentia mal por gostar dele, se sentia pior ainda quando percebia que ele ainda te olhava, que ele ainda gostava de você.

-Não fique tão perto de mim- você conseguiu dizer depois de um tempo.

-Algum motivo específico?

-Terminou comigo porque não queria ficar perto de mim- Você estreitou os olhos.

Sabia que ele estava mentindo quando disse a maior parte das coisas na última conversa de vocês, mas não entendia o porque da sequência de mentiras, era como se ele tivesse sido obrigado, mas ninguém termina porque é obrigado, ao menos era isso que você achava.

-Não quero que fique aqui, volte para seu apartamento- Ele quase exigiu

-Não, lá está frio, muito frio, sinto que vou congelar lá dentro.

-Pode ir pro meu então, eu não me importo- Ele propôs.

-Mas nem fodendo

-certeza?- o tom adocicado que ele usou te pegou de surpresa.

-Angel!- Você reclamou.

Ele soltou uma risadinha curta e entrelaçou os dedos dele aos seus, você imediatamente pensou "céus, ele me enlouquece, que vontade de estrangula-lo!"

-Já que não quer ir a lugar nenhum eu fico aqui com você- Ele deu um sorriso pequeno.

Ele não é naturalmente expressivo, muitas vezes comparado sentimentalmente a uma porta, ele era incapaz de ensaie sentimentos, estava sendo sincero.

-Eu odeio essas suas dúvidas, primeiro termina comigo, diz que não podemos mais ficar juntos, próximos ou sei lá o que, agora está aqui todo manso, só não te expulso daqui porque sou trouxa!- você reclamou.

Ele sabia que um pedido de desculpas seria inútil, e sabia que por mais que você gostasse dele, se ele te pedisse pra voltar, não voltaria, pelo menos não facilmente.

-Tudo bem, tudo bem, apenas quero passar a madrugada aqui na escadaria com você, parece uma boa forma de passar o tempo, e subir essas escadas de novo me mataria.

"Mataria de preguiça"

O polegar dele acariciou sua mão, a esquerda dele tocou seu rosto frio, virando lentamente para ele.

-Minha garota é bonita- ele não tinha esse direito.

Você queria jogar tantas coisas na cara dele, queria dizer que ele era um estupido bipolar, mas sabe quando as palavras ficam na língua e não saem de lá? Elas simplesmente estão na sua mente mas se recusam a sair pela boca, o carinho que ele fazia no seu queixo era tão bom que sentia o estômago formigar e as bochechas esquentarem, era vergonha? Não sabia explicar a si mesma o que sentia.

Sentiu a testa dele encostar na sua devagar, a sensação de deja-vu era tão forte que você imediatamente mirou os olhos dele, e pronto, não conseguia mais ficar com raiva.

Tinha esquecido como era a sensação de beijar ele, se sentia uma adolescente tímida cada vez que ele sugava seu lábio inferior ou sua língua, sabia que provavelmente depois que acabasse a vontade de matá-lo voltaria, mas por hora, quem sabe não seria bom ignorar?

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Autora postou e saiu correndo, esse capítulo é baseado em uma situação beeeeeeem real, fica o resto que pode ter acontecido na imaginação de vocês.

Imagines, Preferences(Chainsaw man) Onde histórias criam vida. Descubra agora