4. Olhos de Obsidiana

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DEPOIS DA escola, vou direto para o hospital. Essa é minha rotina desde que a vovó Liz voltou para lá. Escola, hospital, casa.

Sinceramente, eu não me importo nenhum um pouco. Gosto de ficar com ela, apesar de todas as memórias dolorosas que o ambiente me traz, estar lá com ela faz valer a pena.

Vovó Liz foi uma das pessoas que me ajudaram quando mamãe morreu.

Emily e papai estavam muito machucados para me carregarem nas costas. Então, além da tia Emma, que fazia questão de me ligar todas as noites, a vovó conversava comigo por horas em vídeo chamada mesmo sem saber como mexer no celular muito bem. Todos os dias eu recebia milhares de fotos dos melhores pontos de toda a Europa. Agora, tudo o que quero é que ela melhore para irmos juntas no próximo verão, depois que eu me formar no e.m. Quase como Emily e Rory Gilmore.

Minhas divagações se interrompem assim que as portas brancas se abrem e Beatriz, a enfermeira chefe desse andar, me recebe com um sorriso.

Sorrio de volta quando ela passa por mim, mas não paramos para conversar antes que eu entre no elevador e aperte o botão para o terceiro andar.

Procuro pelos corredores branco gelo, pela plaquinha de número 305 que indica o quarto que Elizabeth está internada. Mas, quando finalmente encontro me assusto ao ver que ele está vazio. As coisas dela ainda estão aqui, mas a cama está desarrumada e meu coração acelerado. Tento me convencer de que não aconteceu nada demais e que papai me avisaria se tivesse sido algo preocupante.

Volto a fechar a porta e por sorte Aline, uma das enfermeiras dessa sala, passa por mim no exato momento.

— Aline, oi — a chamo. Ela se vira para mim e abre um sorriso estonteante que chega até os olhos verdes

— Erin, oi. Procurando a Eliza? Ela está no quarto 310 — Aline informa, antes de voltar a andar.

Franzo as sobrancelhas, sozinha, no corredor mal iluminado, perguntando-me o motivo para isso. Mesmo assim, vou até lá sem hesitar.

A porta está entreaberta e ouço a risada calorosa de Elizabeth. Passo pela entrada do quarto, devagar, com um "boa tarde" tímido.

Vejo a vovó sentada ao lado da maca, onde uma senhora de cabelos grisalhos e ruivos está deitada com um sorriso agradável enfeitando o rosto rechonchudo.

— Erin? — a voz familiar me surpreende, viro o rosto para o outro lado do quarto e me deparo com Mike Cobbard, o deus grego de Michelangelo.

Meu coração está batendo muito, muito rápido e tenho medo de que ele consiga escutá-lo.

— Você a conhece? — Vovó Liz pergunta.
Ele olha para mim com um sorriso tímido. Perco o fôlego.

— Estamos na mesma turma.

— Ela é aquela garota bonita que você me falou? — a senhora na cama questiona, o sorriso ganhando um tom esperançoso.

Mike arregala os olhos negros, o raio de sol que atravessa a janela beijando seu rosto.

— Nana!
Uma risada ecoa pelo quarto, enquanto sinto meu pescoço congelar.

— É claro que é!

Meu rosto esquenta e sei que devo estar ficando muito, muito corada.
Vovó Liz gargalha e aperto os olhos, tentando fugir do constrangimento. Tenho completa noção de que os olhos de Mike estão sobre mim.

— Você e sua irmã ainda ficam tão vermelhas como Eleanor. — Abro os olhos ao ouvir minha avó. — Erin, essa é a Annalise e o Michael você já conhece.

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