Epílogo

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— Jay, agora que eu percebi: Niki não foi punido daquela primeira vez.

Jay não respondeu. Desde seu último grito avisando Niki e Eun que não seria necessário esperar por nós, ele se mantinha em um silêncio contínuo, que pela primeira vez em todo o tempo desde que nos conhecemos, era desconfortável.

Subimos as escadas até o andar onde ficam os quartos e ele me levou ao seu.

Eu procurava por algo que explicasse o porquê de eu estar aqui, com ele. Talvez eu tenha exagerado quando fiz o desafio. Existem coisas que levam tempo para serem feitas. Mas é que... Eu só queria ajudá-lo.

Jay é alguém brilhante, e eu soube disso desde a primeiro dia em que me atentei aos seus olhos. Eles carregam uma galáxia inteira dentro deles.

Conheci ele desde o seu primeiro dia na escola. Antes da primeira aula, Jay esbarrou em mim na porta de forma meio desastrada, logo pedindo desculpas. Eu estava num mau dia e agi de forma grosseira. Ele pensou que eu o odiava.

Foi quando eu descobri que Jay não é do tipo que tem medo. Ele começou a forçar uma aproximação entre nós para descobrir o porquê do meu "ódio" por ele. É engraçado lembrar, porque não foi assim que finalmente começamos a conversar.

Certo dia no parque eu dei um voto de confiança a Maeumi e ele resolveu me trair. Fui comprar um sorvete e o deixei na grama; quando voltei, ele tinha sumido.

Procurei pelo parque inteiro desesperado e o encontrei nos braços de Jay, que se surpreendeu ao me ver ali. Maeumi e Jay se apaixonaram um pelo outro, e isso fez com que Jay sempre conseguisse ficar perto de mim, agora de verdade. Eu sempre gosto de quem gosta de Maeumi.

Ele é alguém interessante e divertido, mas em algum momento eu comecei a carregar um sentimento que ia além da amizade. Felizmente ele também, o que resultou em nós dois se beijando no sofá da minha sala no dia que tínhamos de fazer um trabalho escolar. O que somos agora? Essa já é outra história.

A questão é que com todos esses acontecimentos eu me aproximei mais ainda de Jay, passando a conhecer um novo lado da vida dele, um lado que ele também desconhecia.

Jay me contou sobre o motivo de ter vindo para os Estados Unidos, e eu acompanhei de perto as consequências.

Senhor Park nunca se importou com família, principalmente Jay. Foi exatamente por isso que ele passou tantos anos longe de seus pais morando na Coreia. Mas então senhor Park percebeu seus colegas de trabalho trazerem seus filhos para reuniões de trabalho, além de incluí-los nos negócios. Esses mesmos colegas passaram a ter uma fama melhor (como eu sei disso? Meus pais também são empresários bem sucedidos. A única diferença é que eles são humanos). O pai de Jay percebeu que essa manobra era algo inteligente a se fazer, então ele fez.

Jay foi trazido para cá e agora é obrigado a ir em várias reuniões chatas, viagens, palestras, ler livros enormes sobre administração, dentre muitas outras loucuras. No começo era uma rotina normal, mas agora se tornou doentio. Perdi a conta de quantas vezes Jay fugiu para minha casa para não ir com seu pai para mais um dia de trabalho escravo. O pior é que eu sei que na volta ele sempre tinha problemas por isso.

Está tão grave que Jay nem mesmo teve coragem de contar para Niki, que é seu melhor amigo. A desculpa que ele usa é que Niki é impulsivo e é capaz de qualquer coisa.

Mesmo toda essa situação sendo uma grande merda, pra tudo existe uma solução. Só que, as vezes, as soluções nos custam caro, caro até demais.

Eu já conversei sobre com Jay, e aconselhei que ele tentasse conversar com sua mãe e principalmente seu pai. Que eles começassem do zero, como uma família, tentando melhorar, se ajustar, se amar... Mas não funcionou. Jay chegou a conclusão que ele só poderia ficar bem se estivesse longe deles — sim, o próprio Jay disse.

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