open up next to you and my secrets become your truth

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Stenio seguiu o rastro de sangue com os olhos, observando de onde ele vinha. Quando seus olhos repousaram em Helô ali, deitada ainda de lado no chão, com sangue escorrendo dela, ele teve certeza de que sentiu o coração parar de bater.

Não existiam mais barulhos ao redor, era como se ele não ouvisse nada, não enxergasse nada. Tentou se levantar do chão, mas percebeu o equilíbrio cedendo, precisou se abaixar novamente. Não havia um raciocínio lógico, ele só queria chegar até ela, tocar nela. Como se o simples toque movido pelo desespero pudesse fazer a bala recuar, o sangue voltar, ela ficar bem.

Sabia que era ilusão, mas também sabia que não podia perder Helô. No reino de coisas impossíveis, a vida sem ela era a maior impossibilidade de todas. Quem seria ele sem Heloísa Sampaio?

Se aproximando agora mais rapidamente, ou mais rapidamente que seus próprios ferimentos permitiam, ele puxou a mulher para o seu colo, aninhando-a de maneira desajeitada em seus braços.

­ - Vai ficar tudo bem, me ouviu?­ – ele passava a mão pelo rosto dela sem parar, tentando fazer a delegada abrir os olhos que seguiam fechados - Helô, fala comigo, por favor, abre o olho.... por favor... por favor, me xinga por ter vindo, me manda embora, me diz qualquer coisa...por favor.

Ele chorava encostando a cabeça na dela, revezando entre carinhos no rosto e beijos espalhados por cada canto que ele podia alcançar. Sentiu, mais do que ouviu um leve suspiro vindo dela, e se afastou apenas o suficiente para ver ela abrindo os olhos, de maneira leve, fraca. Não tinha forças para muito mais do que isso.

Foi só então que ele se deu conta que ela ainda tinha as mãos presas às costas. Na intenção de procurar algo para livrá-la daquilo, ele tentou colocá-la de lado, mas percebeu a delegada tentando falar algo.

- Que foi? – ele se aproximou dela de novamente, tentando entender ­Consegue repetir pra mim? Helô...

- fi...- teve um acesso de tosse fraco, mas que pareceu tirar todo o seu ar, até que ela conseguiu murmurar novamente – fica.

­ - Eu preciso procurar algo pra te soltar – ele tentou fazer ela entender, mas ela apenas balançou a cabeça de forma negativa.

- Fica – parecia ser a única coisa que ela conseguia dizer. Talvez o braço já nem fosse um incomodo tão grande, ela deveria estar sentindo dores piores no momento. Dores que ele não conseguiria ajudar.

- Tá bem, eu fico...vai ficar tudo bem – ele já não sabia que falava para ela ou para si mesmo, tentando se convencer que tudo ficaria bem. Mesmo com o sangue escorrendo e ela ficando cada vez mais pálida em seus braços ­ - AJUDA AQUI, POR FAVOR, AJUDA!! – gritou ele desesperado, recebendo olhares dos policiais ao redor que, finalmente entendendo o que estava acontecendo, correram para pedir que os paramédicos entrassem.

- Stenio... – a voz dela era fraca, ele precisava fazer um esforço imenso para entender – eu me lembro...

Ele olhou para ela confuso, sem entender ao certo o que ela queria dizer, buscando na memória algo que ela pudesse querer se lembrar agora. Ela parecia entender a confusão que ele trazia no olhar.

- Com carinho. Eu me lembro da gente com carinho – completou ela, olhando para ele, tentando, mesmo no meio do caos, sorrir. Como se fosse natural para ela tentar acalmá-lo, mesmo com tudo desabando.

Ele fechou os olhos e sentiu o coração apertando. Se lembrou da discussão que eles tiveram na porta do apartamento dela, ele se lembrava de perguntar se ela ainda conseguia se lembrar deles com carinho, mas não havia dado brecha para ela responder. Na época teve medo da reposta. Agora, com ela aqui em seus braços, se arrependia da pergunta. Helô estava desfalecendo em seus braços, mas o respondia agora. Ele nunca deveria ter duvidado.

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