Stenio ainda se impressionava como as dores que ele sentia no próprio corpo não doíam tanto, mas talvez fosse apenas porque o foco de seu pensamento estava em outro lugar, estava em outra pessoa. Ele seguia anestesiado para todo o restante desde que se deparou com Helô deitada naquela cama de hospital.
Flashs das palavras ditas por ela deitada no colo dele, ainda naquele galpão, ecoavam pela cabeça do advogado. Ele gostava de pensar que conseguia obedecer a delegada na maior parte do tempo, mas ultimamente ele se pegou achando essa missão mais difícil.
Tentava não se culpar, mas os anos de Heloísa Sampaio falando em seu ouvido sobre a defesa de clientes indefensáveis ainda pegava ainda desprevenido. É claro que ele não sabia que Hernandez tinha relações com a máfia, mas isso agora era irrelevante. No fim, todos os passos haviam culminado neste momento, com Helô deitada desacordada numa cama de hospital e a incerteza de como a vida seguiria a partir daqui.
O que restava de contrato era a carta ainda em sua mão.
Ele não a largava desde que a tinha lido. Agora, deitado ali sozinho em seu quarto, aguardando a ronda médica da manhã, ele a segurava firme contra o peito como se isso tornasse mais real cada palavra contida ali. Cada declaração e cada pedido. Heloísa não era do tipo que verbalizava sentimentos de maneira fácil, e era desesperador pensar em tudo que passou pela cabeça nela naquele momento para que o ela o fizesse de maneira tão forte.
Seus pensamentos foram interrompidos pelos médicos entrando no quarto.
- Bom dia, Stenio – cumprimentou Dra. Vanessa – Como está se sentindo?
- Não tão mal quanto achei que estaria, já não dói tanto – ele disse rapidamente, perguntando em seguida – Você tem alguma novidade da Helô?
A médica sorriu para ele. Era sempre assim, Stenio falava rapidamente sobre si e tentava em seguida conseguir informações sobre a delegada, como se aquilo fosse o que realmente importava.
- O quadro dela estabilizou e ela foi movida para um quarto – ela respondeu finalmente, observando a maneira como todas as feições do advogado pareceram suavizar – é um milagre você não ter quebrado nada ou não ter sofrido algo mais sério, Stenio. Você sabe disso, né?
- Eu sei sim – ele não tomava como algo leviano que estava bem, sem nada quebrado. Havia corrido um risco imenso, mas apenas de estar ali e saber que Helô estava melhorando, ele queria respirar aliviado.
- Você pode ir pra casa, Stenio. Não tem necessidade de passar mais tempo no hospital – a médica avisou a ele – Creusa já trouxe roupas pra você, Yone estava aqui para saber de Helô e foi avisada.
Ele acenou um sinal positivo com a cabeça, mas sentiu uma pontada estranha ao saber que iria embora. Desde ontem, depois de vê-la, aqui ele tinha informações quase em tempo real sobre Helô. Não queria ser privado disso.
Quando os médicos saíram e Creusa entrou no quarto, ela parecia animada com a perspectiva de o patrão voltar pra casa. Entregou as roupas para que ele pudesse se trocar. O advogado caminhou até o banheiro de maneira mecânica, sem saber ao certo o que fazer sem seguida.
Quando ele voltou ao encontro de Creusa no quarto, com o olhar perdido ele, ele confessou para ela.
- Eu não queria ir pra casa.
- Oxi, Dotô Stenio! – ela respondeu, parecendo indignada – e quem é que gosta de ficar no hospital?
- Eu queria ficar perto dela – ele se sentou na cama, só então reparou que ainda sentia cansaço fazendo as mais simples atividades – eu quero estar aqui quando ela acordar, não quero ela acordando sozinha aqui, Creusa.
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breathe again
FanfictionHelô estava absolutamente cansada das infinitas brigas com o advogado. Apesar de amá-lo precisava encarar a realidade de que eles não conseguiam levar o relacionamento deles à diante. Stenio, por outro lado, resolve entender e respeitar o pedido da...