it hurts to be here, what am I gonna do?

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Uma das piores partes talvez fosse estar perdendo a noção do tempo. Trancada no quarto escuro, Helô já não sabia mais se era dia ou noite, não tinha noção das horas ou de tempo e espaço. Seu rosto doía com os machucados, os braços ainda machucados depois de tanto tempo presos um ao outro. O corpo dava sinais de que já não podia aguentar muito tempo.

Mas ela precisava.

No momento ser forte e aguentar o máximo possível era o que ela precisava fazer para proteger as pessoas que ela amava. Para que a polícia pudesse agir, tivesse tempo para isso. Ela não fazia ideia do estado em que haviam deixado a casa dela, mas sabia que Yone deveria ter achado estranho ela não aparecer no encontro marcado delas. Deveria ter ido até a casa, encontrado tudo quebrado. Ela havia tentado deixar o maior número possível de marcas de luta, tentou arrancar sangue de Pilar e Montez que pudesse deixar alguma pista.

Havia feito tudo que podia nas circunstâncias em que se encontrava. Agora, ela precisava confiar e torcer pelo melhor.

A mente trabalhando a mil, tentando projetar os diferentes cenários de como isso poderia terminar, estavam a deixando exausta. Havia recebido apenas um pão e um copo d'água horas (teriam sido horas?) atrás, mas seguia com fome. A carta que havia escrito para Stenio repousava debaixo do colchão, dobrada.

Ela não queria que aquelas coisas tivessem sido ditas escritas num papel em um cativeiro qualquer, mas ela nunca teve coragem de dizer tudo olhando para ele e agora, mais do que nunca, se arrependia disso. Ele devia estar desesperado, assim como ela ficou quando ele foi sequestrado. Mas sabia que para ele era pior, já que ela estava à frente das investigações na época, sabendo de cada avanço no caminho e ele deveria estar as cegas.

Eles nem tiveram tempo de se despedir. Os últimos momentos deles juntos haviam sido uma grande confusão de sentimentos, com ele duvidando que ela pudesse enxergar qualquer coisa boa na relação deles.

E ele não poderia estar mais errado, mas ela havia falhado em demonstrar isso tudo para ele.

Helô levou um susto com a porta se abrindo com um barulho forte, mas não tentou se esconder ou fugir do que ela sabia que era inevitável. Eram três homens ali e ela sabia que não adiantaria lutar. Ficou observando quando um deles levou a mão até arma presa na cintura como um aviso e o outro amarrou suas mãos novamente atrás das costas, colocando o saco preto em sua cabeça.

Ela respirou fundo, mesmo se sentindo claustrofóbica. Ela sabia que passaria por aquilo de novo, mas eles estavam realmente desesperados para fazer tudo tão rápido assim.

Sentiu o corpo sendo puxado e ficou em pé, seguindo os passos indicados pelos sequestradores.

Era isso. Era agora.

Quando chegaram ao destino, novamente a obrigaram a ficar de joelhos. Ser privada de um sentido ampliava todos os outros. O olfato sentindo o cheiro forte que o galpão exalava, a audição sentindo cada passo se aproximando dela, lentos...calmos.

O silêncio contrastava com desespero que ela sentia dentro dela. Sentiu uma presença perto dela, o cheiro de perfume adocicado invadindo seu nariz.

Pilar.

­- Tá pronta pra falar, delegada? – perguntou ela, em tom de desafio.

­- Eu morro antes de fazer isso. – respondeu Helô de maneira direta.

- Acho que você vai mudar de opinião. – A mafiosa respondeu sorrindo.

Se aproximando de Helô, ela retirou o pano preto que cobria o rosto da delegada, dando um passo para o lado, ela abriu espaço para que ela tivesse uma visão clara do galpão.

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