02. ESCONDA-ME O SEGREDO

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Com seu corpo suado em agonia, Mei impulsionou para frente de modo rápido e duro que vergou as costas bruscamente de maneira que doesse. O suar de um sonho conturbado escorria sobre sua face esbelta e fina, parecendo que pingos de água escorreram durante a noite nos vãos de seu rosto. Olhou de um lado a outro tentando habituar-se à sua real situação, vendo que, novamente, apenas um sonho lhe sucedeu, suspirou em alívio forte de que apenas foi um sonho mal cometido que lhe acordou de modo tão exasperado que lhe tirasse o sossego por um tempo. Buscou com a mão na cabeceira sua garrafa de água para arrancar a secura de sua garganta, tomou em grandes goladas e respirou novamente em alívio por conta de sua saciação.

Mei olhava para o breu de seu quarto nada surpresa pelo que lhe ocorreu, já era de se esperar um sonho horrendo como este, talvez nem tenha sido um dos piores, mas mesmo assim, era um de arrepiar os pelos. Suspirou por último e levantou-se para que despistar-se os seus pensamentos em volta de seu mais um sonho, andou até a grande cortina azulada e abriu, para que a luz do sol que brilhava lá fora entrasse e levasse toda maleficência que o sonho lhe deixou.

Olhando atordoada às horas, viu que o dia mais uma vez começava estranho, constatou por fim que ali marcava mais um dia que era acordada na mesma hora, os mesmos números cinco e cinquenta e sete dos dias anteriores, marcava na caixa digital fazendo Mei se atentar de que para ela não haveria saída de seu círculo vicioso de superstições, já que já era lá pelo décimo dia que seu sonho terminava e lhe acordava neste mesmo tempo — tempo esse que continha os mesmos números que sempre lhe perseguia, sendo em horários, livros ou em apenas observações que fazia ao longo do dia — e que mais uma vez apenas teria que ter aceitação.

Dispensando novamente os pensamentos conturbados que vinham, Mei não esperou que os pressentimentos lhe dessem folga, tomou um banho que relaxasse a inquietude de seu corpo e correu para o penúltimo quarto que continha na parte superior da casa, abriu a porta e antes que entrasse, espiou pela brecha da última porta de cor roxa e viu que a luz do sol já se punha em todo o lugar. Sorriu de forma estreita, sabia que seu pai era quem estava ali, o homem de cinquenta anos deveria estar de cabeça borbulhante ao ponto de nem dormir para se enfurnar lá, pensou até em lhe dar um "oi", mas preferiu deixar que ele vagasse por mais uns tempos de ensejos.

Entrou então pela porta que abriu e em sua mão pôs dois incensos e ajoelhou em frente a uma pintura de uma jovem moça, colocou um incenso em cada canto e depois dobrou a sua mão em forma de oração fechada, olhou para a pintura da linda mulher que exibia uma rica beleza que reslumbrava seus longos cabelos negros de mechas azuis que pareciam dançar com o vento, e orou para que ela lhe iluminasse naquela manhã nada gentil. A moça não era uma deusa ou algo parecido — mesmo que sua beleza lhe indicasse ser —, ela era apenas um ente querido que andava pelo vale dos protetores celestiais, que apenas era dito sobre sua passagem pela vida em lendas e histórias contadas por seu pai.

Tempos de sua reza, Mei apenas agradeceu a todos aqueles que viviam no mundo dos céus, acendeu algumas velas e saiu pela porta que a instante acabara de entrar. Desceu pelas escadas que eram cobertas por um finaria de lã sem muita pluma e direcionou-se para a grande sala com luz inerente do brilhar do sol encontrando uma jovem senhora de cabelos longos e mais cacheados que o seu, que por nada, parecia perceber a presença de Mei. A senhora de uns quarenta e poucos anos estava de costas distribuindo iguarias na mesa quadrada de vidro, cantava uma canção em forma de vibrar pela garganta enquanto exalava a sua doce aura elegante e macia. Assim que percebeu terminar sua função, a cacheada mais velha se preparou para virar e chamar o resto da casa, mas se surpreendeu ao encontrar a filha já a sua frente.

— O que faz tão acanhada desse jeito? Pensando no que aprontar hoje?

— Eu? Nunca pensei em tal coisa! Estava apenas admirando minha graciosa majestade, é claro! Aquela sendo a mais bela flor de um jardim!

Alchemy Of A Villain ( Volume 01)Onde histórias criam vida. Descubra agora