6. Antônio

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Quando eu conheci a Amanda, dezesseis anos atrás, logo de cara eu sabia que ela era a mulher da minha vida.

Para mim foi muito difícil aceitar que eu havia feito aquilo com ela, eu me punia diariamente e, mais ainda por não lembrar de nada que aconteceu naquela noite que nos separou para sempre, dez anos atrás.

Eu tomei a decisão de ir pra Miami, depois de perceber que nada mais me prendia e me motivava à ficar no Brasil, a mulher que eu amava me odiava, com razão, minha família estava magoada comigo por tudo que eu causei, e eu estava com vergonha de ter que enfrentar meus amigos, que me viam como uma pessoa incapaz de fazer aquilo.

Ir pra Miami me doeu, e nos primeiros anos era como se eu vivesse sem um pedaço de mim, um pedaço importante do qual eu me lembrava toda hora.

Eu tinha um relógio com uma inscrição que a Amanda havia me dado assim que começamos a namorar, era de uma marca renomada, com pulseira de couro preta, e a máquina de platina com o fundo preto . Era o meu amuleto da sorte e eu sempre usava em dias e momentos importantes. Não usava no dia a dia por que tinha medo de acabar estragando e perdendo-o.

Eu estava sentado no sofá, segurando o relógio entre os dedos quando a campainha tocou, coloquei-o sobre o rack e fui atender.

Era a minha mãe, ela iria levar a Anna pra tomar um sorvete com a Roberta e as crianças pra aproveitar que hoje era sábado. Autorizei a subida e fui abrir a porta para ela.

- Oi mãe - a cumprimentei com um beijo e um abraço.

- Oi filho, como estão as coisas? - perguntou, e já engatamos uma pequena conversa enquanto a indicava o sofá.

Quando ela estava se sentando o olho dela bateu no relógio.

- Você ainda o tem? - perguntou surpresa.

- Sim - falei baixo.

- Você ainda a ama? - ela perguntou já sabendo a resposta.

- Como se eu nunca tivesse a perdido mãe, e dói muito, todos os dias - falei segurando as lágrimas.

- E qual foi a sensação de revê-la? - ela quis saber.

- A mesma sensação de dez anos atrás, eu ainda a amo, mais do que imaginei, mas eu também sei o quanto a magoei, eu vi a mesma decepção no olhar dela que eu vi naquele dia, e eu senti vergonha - confessei.

Não era fácil falar sobre isso. Remexia coisas muito dolorosas e profundas dentro de mim. Porque na vida que eu tanto idealizei, nós dois hoje estaríamos casados, na nossa casa, com os nossos filhos e sendo tanto ou mais felizes do que éramos.

- Sempre há tempo pro perdão e quem sabe algo mais - minha mãe falou e já se levantou indo buscar a Anna.

Ela entrou no quarto e ficou lá um longo tempo enquanto eu estava segurando o relógio na minha autocomiseração, me martirizado como eu fiz todos os dias nos últimos dez anos.

Minha mãe veio empurrando a cadeira da Anna enquanto a minha filha perguntou.

- Vovó, será que nós podemos chamar a titia Amanda pra ir com a gente? - pediu.

- Claro meu amor, vamos ligar pra ela no meio do caminho e perguntar se ela está livre - minha mãe falou e já saiu empurrando a cadeira e me dando tchau.

Se minha família precisasse me chutar pra receber a Amanda, eles fariam, eu achava incrível por que em alguns momentos a minha opinião pouco importava.

Mas ao mesmo tempo eu ficava feliz por ela, ela era digna de todo aquele amor, ela conquistou aquilo com o jeitinho único dela.

O João chegou logo em seguida, íamos tomar alguns drinks e conversar sobre algumas propostas que ele havia recebido como meu empresário.

DocShoe - Sempre suaOnde histórias criam vida. Descubra agora