9. Amanda

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- Eu perdi meu filho por causa daquele fodido - urrei com o coração rasgando de dor.

- Eu perdi dez anos com o amor da minha vida por causa daquele desgraçado, dez anos que não vão voltar como num passe de mágica, dez malditos anos - eu estava gritando desesperada e com o coração aflito.

Eu estava sentindo um turbilhão de sensações negativas. Não existia dor mais profunda e, ter que lidar com aquilo tudo de uma vez só, com todas as feridas ainda abertas e sangrando era difícil.

Nós passamos o que se pareceram horas abraçados e envoltos em um mar de lágrimas, a nossa dor por tudo que perdemos era enorme, e era difícil colocar em palavras o que significavam os dez anos perdidos.

Em determinado momento, o Vinicius acordou com os nossos gritos e com apenas um olhar ele entendeu que precisávamos ficar à sós por enquanto.

Quando eu me acalmei, o ódio começou a tomar conta de todo meu corpo, eu levantei correndo, peguei a chave do carro e saí pela porta.

O Antônio que até o momento estava me olhando veio disparado atrás de mim. Parou na frente do elevador bloqueando minha passagem e perguntou.

- Aonde você está indo?.

- Eu vou matar aquele filho da puta - gritei, enquanto ele com um simples toque nos meus ombros me imobilizava.

- Volta pra dentro Amanda, por favor - ele pediu.

- Não, eu vou caçar esse fofido e ele vai aprender a não brincar assim com a vida das pessoas - tentei gritar em meio ao choro estridente que saia da minha garganta, eu parecia estar sufocando.

- Você não vai, bom, nós não vamos, por que essa é minha vontade desde o minuto que eu ouvi toda a história, e se eu o ver agora na minha frente o próximo lugar que eu vou estar vai ser na cadeia - ele falou e eu percebi o quanto ele estava se controlando pra não surtar, as veias do pescoço dele estavam tão saltadas que pareciam que iam estourar a qualquer momento.

- Ele estragou a nossa vida, a gente ia se casar, em um dia, a gente ia se casar Antônio... - eu não aguentava mais e desabei de joelhos no chão.

- Pequena, eu também sinto a mesma coisa que você está sentindo, e se os caras não tivessem me segurando na hora da briga, o João estaria no mínimo em estado grave num leito de hospital. Eu também quero matá-lo, eu estou desejando tantas coisas ruins que eu não quero estar dentro da minha própria mente - ele falou ajoelhado na minha frente.

A dor era tão latente que ele começou a falar comigo mas eu já não ouvia mais nada, a cabeça não conseguia processar e eu entrei em um estado de torpor generalizado.

Eu entrei em choque, eu tinha noção do meu corpo, mas a minha consciência o levou para um modo de pausa.

Ele me segurou no colo e conversava comigo tentando me trazer de volta mas eu não conseguia responder, ele me deitou na cama e saiu desesperado atrás do Vinicius, os dois voltaram pro quarto e tentaram me fazer esboçar alguma reação que eu apenas não conseguia executar naquele momento.

O Vini também era médico e sabendo que era apenas um estado momentâneo, colocou uma quantidade generosa de um ansiolitico na minha língua e pediu pra eu tentar engolir com calma.

Eu agradeci à Deus quando o cansaço bateu e eu adormeci.

E eu sonhei com a Oli, na verdade não era um sonho, era uma das últimas lembranças que eu tinha dela.

Estávamos na praia, o seu lugar favorito, num final de tarde ensolarado e eu estava passando protetor no corpo dela quando ela se virou pra mim e abriu aquele sorriso cheio de pequenos dentinhos.

DocShoe - Sempre suaOnde histórias criam vida. Descubra agora