Hoje a Oli estaria completando seis anos. E mensurar a dor que eu sentia ao me lembrar que eu nunca mais a teria, era como contar os grãos de areia da praia.
Eu estava deitada na cama afundada na minha autopiedade, perdida na dor dilacerante que rasgava a minha alma e me enfiava em uma enorme crise existencial.
Quando eu pensava nela eu sempre lembrava nas leis que regem o universo, e nada fazia sentido, por que a ordem natural da vida tinha sido completamente invertida no meu caso.
Lidar com a partida dela era um lento e contínuo processo, que me puxava e me empurrava da beira de um precipício.
Eu conseguia seguir firme na maioria dos meus dias. Mas sempre existiam dias e dias difíceis. E hoje, era um dos piores.
Ontem quando saí do plantão já tarde, eu acabei dispensando o convite do Antônio e vindo para o meu apartamento. A névoa da tristeza já tinha pairado sobre mim durante o dia inteiro e eu já sabia que eu precisava apenas ficar um pouco sozinha.
Já eram quase dez da manhã e meu celular permanecia desligado. Eu apenas queria passar esse dia esquecida, me dando ao direito de sentir um pouco toda a tristeza que representava aquele dia.
Eu vesti um short jeans, uma camiseta preta, calcei um chinelo de dedo e fui caminhar na praia. Levei meu celular mas resolvi mantê-lo desligado.
Eu passei o dia na praia, apenas observando o quebrar das ondas e rezando por mim e por ela. Eu sabia que ela estava em paz e eu buscava essa mesma paz para tranquilizar meu coração nos dias mais aflitos.
Liguei meu celular e jorraram notificações de mensagens e ligações, eu apenas ignorei, entrei na galeria e procurei uma foto, dela, ali naquele que era seu lugar favorito.
"Desde o meu ventre a praia sempre foi o seu lugar favorito. Você fazia uma festa na minha barriga sempre que estava em frente ao mar. Hoje, pensando bem, talvez seja pela imensidão, pela imensidão da criança que você era, pela imensidão de bons sentimentos que você trouxe pra minha vida ou pela imensidão que qualquer momento seu aqui representou. Oli, hoje você estaria completando seis anos meu amor. E a dor que atravessa meu peito é tão grande que eu me pergunto se um dia eu conseguirei apenas lembrar dos bons momentos sem chorar e sentir tanto. Eu tento seguir mas não é fácil, não te ter aqui é muito mais difícil do que eu poderia descrever em um livro inteiro. Mas eu escrevo, por que não tenho mais voz para falar, não tenho mais lágrimas para chorar. Os meus sonhos com você tem se tornado mais raros, e cada vez mais preciosos, por que eu sinto que não são mais apenas sonhos, sao reencontros. Sua ausência cada vez mais, vai dando lugar ao entendimento, a aceitação e a saudade. Mas meu coração ainda clama por piedade e justiça, por que você foi arrancada de mim muito precocemente, e eu não fui capaz de testemunhar a revolução que você seria capaz de causar no mundo, por que Oli, você era um verdadeiro furacão, de amor, de resiliência, e de bondade. Eu sigo aqui, te sentindo em cada pequeno passo, cada pequena escolha, ou cada pequeno gesto, com a certeza que você será eterna no coração de cada pessoa que passou por você. Com amor da sua mamãe 💓".
VOCÊ ESTÁ LENDO
DocShoe - Sempre sua
FanfictionAmanda Meirelles tem 34 anos e é médica intensivista, chefe de UTI no maior hospital particular do Rio de Janeiro. Renomada e reconhecida na sua área, a vida seguia nos eixos até que uma tragédia promove o reencontro com Antônio, dez anos depois. An...