8. Antônio

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Naquela manhã eu não a encontrei por acaso, eu estava saindo para correr quando vi o story que ela postou e resolvi procurá-la pela orla, a encontrei na praia chorando e, o meu coração que já estava partido em mil pedaços, se esfarelou inteiro.

Era difícil imaginar que se eu não tivesse feito aquela burrada dez anos atrás, a nossa vida teria sido diferente e ela não teria passado por nada disso.

Ajudá-la a esvaziar o quarto da Oli, foi duplamente doloroso, o sofrimento estava enraizado na alma dela e eu sabia que talvez em nenhum milhão de vidas ela conseguiria superar aquilo.

Tivemos uma manhã agradável e foi quase como uma bandeira branca levantada entre nós dois, eu estava feliz por esse pequeno passo.

A minha semana passou voando, com mil e um compromissos e os tratamentos da Anna que demandava tempo, quando percebi já era sábado e eu estava sendo carregado pelos meus amigos pra uma boate.

Eu já estava de saco cheio do João e do Bruno, bêbados e falando asneiras, queria muito ir embora, mas em uma ida ao banheiro, acabei a encontrando.

Ela estava linda, mais do que o normal, na fila do banheiro, parecendo entediada enquanto esperava.

-Você por aqui?  - perguntei enquanto caminhei até ela e a cumprimentei com dois beijos e um abraço.

- Pois é - falou retribuindo o abraço.

- Está sozinha? - perguntei.

- Não - respondeu direta.

A convidei para se juntar ao meu grupo, mas ela recusou rapidamente, como se apenas pensar nisso causasse dor. Se despediu e entrou no banheiro, eu voltei pra minha mesa.

Eu notei a hora que ela saiu do banheiro e se juntou ao Vinicius, o melhor amigo dela, eles curtiam como se não houvesse amanhã, dançando loucamente, bebendo muito e cantando todas as músicas. A vibe deles era surreal.

Eu sabia que estava encarando demais, mas pouco me importava, tudo nela me prendia, me fascinava, eu me sentia quase como um alcoólatra, esperando por uma única gota de bebida que conseguisse.

- Você está babando - falou Bruno.

- Já falei pra ele esquecer ela, mas ele não me ouve - João falou.

- Amor é amor, e eu ainda acredito que eles vão ficar juntos - disse o Júnior.

- Depois de tudo que eu fiz, se eles ficarem juntos é de foder - falou João  extremamente bêbado.

- O que você fez? - perguntei tentando manter a calma.

- Ah, você sabe cara, a puta na sua cama, você não é ingênuo assim - ele falou se embolando nas palavras.

- Você só pode estar brincando comigo - falei dando um tapa na mesa que derrubou metade das garrafas e taças.

Eu sentia meu coração acelerado, minhas veias do pescoço pulsando, eu ia ter um colapso.

- Calma, não é pra tanto, olha tudo o que você conquistou, graças a mim - falou se gabando.

Eu não pensei em mais nada, a minha mão voou em cheio no meio do nariz dele, que caiu no mesmo instante, eu agachei e dei outro murro bem dado na cara dele, mas quando eu tentei continuar vários braços me envolveram e começaram a me puxar tentando evitar o pior.

Eu estava louco da vida, eu nunca tinha sentido tanta raiva, tanta vontade de socar alguém. E se não tivessem várias pessoas me segurando, o João com certeza sairia dali morto.

- Você não tinha esse direito, seu fodido filha da puta, quem você pensa que é? - gritei enquanto tentava me desvenciliar das mãos que me prendiam.

O João estava tão bêbado que ele apenas continuava lá caído e com a mão no rosto, tentando entender o que havia acontecido. O Caio e o Fabrício, rapidamente o levantaram e saíram com ele pra algum canto da boate, eles sabiam que se eu me soltasse, eu não ia deixar aquilo que eu escutei barato.

Quando eu voltei a raciocinar, um misto de sentimentos tomou conta de mim e eu já estava chorando por que agora ao mesmo tempo que eu sabia que a culpa não era minha, a ficha caiu que os dez anos que perdemos não voltariam.

- Eu não acredito que esse filho da puta fez o que eu tô pensando que ele fez - Chay comentou com raiva.

- Ele fez, e eu confiava nele, eu confiei tudo à ele, ele sabia que ela era a minha vida e mesmo assim escolheu destruir tudo em troca de um contrato - falei me sentindo derrotado.

Eu não sabia o que fazer, era difícil imaginar que tudo seria diferente, se a oportunidade não tivesse sido arrancada das nossas mãos.

- Você não pode recuperar os dez anos que perdeu, mas você pode ter uma vida maravilhosa daqui pra frente irmão - me incentivou Chay.

Eu fui pra casa e me afundei nos inúmeros sentimentos que pareciam querer me afogar, o meu desespero era palpável e eu chorei tanto, tanto. Por mim, por ela, por nós, pela nossa história, eu nunca ia perdoá-lo por isso.

Eu precisava falar com ela, ela precisava saber, ela tinha que entender que eu fui tão vítima quando ela.

Sai de casa desesperado, e desorientado fui correndo treze quarteirões até o prédio dela.

Os meus pulmões não tinham mais uma gota de ar, era difícil respirar, era difícil raciocinar. Porra, eu estava destruído.

Cheguei no prédio dela e não tinha ninguém na portaria, esperei alguém sair e antes que o portão fechasse eu fui entrando.

Eu fiquei em frente à porta dela longos minutos me acalmando, até que resolvi tocar a campainha.

Ela demorou um pouco e quando atendeu  vendo a minha situação ela me deu um longo abraço que eu aceitei imediatamente, mais do que nunca eu precisava daquilo, enfiei o rosto nos cabelos dela e chorei, até que comecei a soluçar.

Ela me puxou pra dentro, fechou a porta e me guiou até o sofá. Me abraçou novamente e deixou eu chorar por longos minutos até que eu me acalmasse.

Quando eu já estava melhor, ela se levantou, voltou com um copo de água e um comprimido e mandou eu tomar.

Fiz o que ela mandou, e alguns minutos depois eu já conseguia falar.

- Quer me contar o que aconteceu? - perguntou.

- Eu não fiquei com aquela mulher, há dez anos atrás, eu não fiquei com aquela mulher - falei.

- Eu vi vocês Antônio, vocês estavam nus, na cama, os dois - ela falou e torceu o rosto, como se aquilo trouxesse dor à ela.

- O João armou tudo, ele me contou essa noite - falei, já chorando novamente.

- Como assim? - perguntou já se alterando, ficou de pé e começou a balançar o corpo como se estivesse em um tique nervoso.

Eu então expliquei toda a história, a briga que tivemos na boate e as revelações que o João fez.

Ela terminou de ouvir tudo e desabou sobre o sofá, permaneceu calada e pensativa. Minutos depois ela de levantou em um salto.

- Quem aquele filho da puta desgraçado pensa que é pra brincar assim com a vida das pessoas? - ela gritou  mais para si do que qualquer coisa.

Eu fiquei surpreso por ela acreditar em mim sem questionar.

- Ele destruiu nossos planos, nossas vidas, nosso amor, ele jogou com a gente como se não valessemos nada - ela desabafou tão desolada quanto eu.

Estávamos inconformados, era difícil aceitar aquilo.

- Eu perdi meu filho por causa daquele fodido - ela gritou.

Éramos apenas dor, os dois gritando e tentando consolar um ao outro, tentando entender como a vida tinha pregado uma peça tão grande em nós dois.

Comentem e engajem muito o capítulo pra eu trazer o próximo pra vocês. Escrevi esse rapidinho a pedidos, espero que gostem.

Amanhã tem mais 💓

DocShoe - Sempre suaOnde histórias criam vida. Descubra agora