III

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Acordo sozinha na minha cama. Não, não é isso. Espera... Hm... Ah, espreguiço com preguiça. Começo do dia sempre preguiçoso. Não devemos ser preguiçosos, sei disso, um pecado mortal, mas... O que estou pensando? Não há mais o Carlos aqui. Preguiça de levantar. Deve ser umas oito horas. Provavelmente está terminando de se arrumar. Passo um café? Eu queria mesmo dormir... Tem as coisas para fazer, a louça de ontem, o almoço... Tenho que deixar o feijão de molho... Ah, esqueço rapidamente.

Vou para trás e deito mais um pouco. Só mais cinco minutinhos, pode ser? Perfeito. Adormeço.

Tum! Me levanto com o susto. Que barulho! Ai meu Pai. O que foi agora? É Carlos batendo a porta do quarto e voltando a deitar-se. Cai na cama. Olho com os olhos desejando fechá-los. Que sensação angustiante. Ainda não está vestido para o serviço. Ai, que horas deve ser? Sei lá. Já está assoalhado lá fora. O sol até começa iluminar o nosso quarto aqui pelas janelas. Os dias quentes veranicos continuam fortemente na cidade. Quantos graus deve estar? Acho que quase 30 – e nem é meio-dia. Não é meio-dia ainda, né? Que horas são, meu Deus? Ai Carlos, levanta querido.

- Carlos, que horas são?

- Umas nove...

- Nove!? – congelo. Dou um pulo e levanto-me, saindo dos lençóis, os amáveis lençóis. Vou para a cozinha e vejo o relógio. Oito e trinta e sete. Me acalmo. E a menina também não acordou ainda. Ainda! Oh, preguiçosa também. Ela e aquelas suas amigas são. E aquela Natalia? Prefiro nem lembrar. Mas ainda assim é hora de o dia começar. Tenho que preparar o café da manhã depressa. Só eu para cuidar dessa família e manter a ordem. Às vezes acredito que se eu não existisse isso aqui sairia do lugar. O meu amor é o zelo. Manter a ordem, manter a tradição. Que família poderia haver sem uma mulher que fizesse as tarefas do dia a dia? Mulheres que falam da emancipação feminina dizem que isso é uma escravidão. Discordo, sabe por que? Porque é o nosso papel, está naturalmente em nós, damos à luz para os filhos para criar e manter a ordem. É necessário. Está certo que fica cansativo alguns momentos – mas que trabalho não tem seus momentos de estresse? E essas bichas aí que ficam falando de casamento e tal. Quero distância. Homem casar com homem? Nem pensar; uma ideia tão absurda. Eles têm tanto seus problemas com seu homossexualismo desenfreado que querem distorcer a sociedade. Burrice. Não só burrice, é a falta do ser humano se encontrar verdadeiramente com Deus. Mas vai dizer isso aí pra essas maricas que elas logo se contorcem. Queimam-se. Queimam de pecar. Um pecado danado e não saem dessa vida. Mas cada alma tem seu destino é o que importa. Bem, desse jeito que as coisas vão, eu me sinto como se fosse uma espécie de arquivista, é sim. Pois tenho que lembrar e reafirmar a todos que organização dessa família, tenho que preservar suas histórias, as memórias, o cuidado para conservar a nós. É como se fosse os nossos documentos que nos identificam. E a nossa família é a nossa história. Que histórias iremos narrar? A destruição da família? Eu não. Ficaremos firme. O amor da/pela família é mais forte que qualquer ameaça. Ai Carlos, eu te amo, mas faz um esforço para levantar-se, por favor? Você tem que trabalhar. Oh São Lourenço, assim como foi perseguido, nós (a família) estamos sendo perseguidos. E se eu...

- Olivia. – Ouço-o me chamar quando passo pela porta do quarto. Me aproximo dele. Faço um carinho na cabeça dele, mexendo os cabelos – Não sei.

- Não sabe o quê?

- Não quero ir, Olivia. De verdade.

- Você dormiu?

Ele demorou a responder. Removi a minha mão do cabelo dele. Sentei na cama ao lado dele. Pousei ali por um minuto. Olhei para ele, o corpo dele parecia que ia sossegar agora. Adormecer. Ai não. Precisamos ir. Pergunto de novo, dessa vez em voz mais alta para despertá-lo:

O Mundo em Casa - História de uma FamíliaOnde histórias criam vida. Descubra agora