IX

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Ele chegou era por volta das três da tarde. A mãe tinha ido visitar a amiga Clarice. Eu fiquei ansiosa. Mistura também de nervosismo. Com uma pitada de desespero. Lembrava do meu sonho regularmente. Caramba, por que diabo sonho um sonho como um desses? Sonhar é um tipo de magia que o ser-humano tem. Mas se não entende essa magia, de nada adianta. Prefiro focar na realidade então. Talvez Freud...

Matheus escorrega e quase cai, fazendo-me paralisar. Olho para ele e seu cabelo balança. Diz que trouxe um disco. Vejo a sacola da sua mão. O que será? É novíssimo o material que carrega, comprou agora pouco numa loja. A loja do Roger, frequentamos lá, tem uns toca-discos maravilhosos, comprei todos os discos do Roberto lá. Será agora um novo disco do Roberto? Ele lançou novo álbum e eu não estou sabendo? Deve estar agora mais romântico nas letras. Ei, o que você tem aí? Ele me responde para irmos para o quarto descobrirmos. Aceito a ideia. Nos locomovemos para o quarto. Ele coloca a mão esquerda na minha cintura enquanto atravessemos o corredor. O corredor onde tem umas formigas passando aqui e ali. O quarto está todo iluminado pela luz natural. Brilha muito isso aqui, dói até os olhos, uma beleza. Esse verão de final de ano, uma quentura em que nós vivemos. Tudo é quente. Matheus conversa comigo; fala sobre os pais, o irmãozinho que não para quieto em casa e a mãe indo pro salão de beleza. A mãe do Matheus tem um cabelereiro só para ela. Eles têm mesmo dinheiro que é uma beleza. Ontem estava gastando comigo no cinema; agora um disco novo. Se eu tivesse um profissional para a minha cabeleira iria ser a mais mulher mais feliz do mundo. Fico imaginando assim eu numa casa num closet grandão só pra mim, um dia de beleza só pra mim. Uma delícia! E eu precisando de umas roupas novas. Quero mesmo aquele vestido cor de rosa que eu vi, ah que droga, por que não tenho o que quero? Quero ficar com Matheus então. Nesse momento só me cubra de beijos... Desejo.

Sento na minha cama. "Ali", digo e aponto com o dedo para o toca-discos, dando autorização para ele mexer. Ele manuseia o aparelho de som e coloca o vinil para tocar. Que coisa bonita é o disco de vinil. Grande. A música começa. Um som de guitarra elétrica distorcida. Ai não! Começou aqueles rocks barulhentos do Matheus. Ele se senta ao meu lado, com a capa na mão.

- Quem é, hein?

- Jimi Hendrix, Sara.

E olho melhor a capa e lá está a cara do guitarrista. Ele me conta como adora Hendrix, fala que tem um sentido espiritual no seu jeito de tocar guitarra. Vejo nada disso. Era um drogado. E eu achando que ia ser algo mais romântico, que nada. Bem que Matheus poderia compor uma música amorosa, seria lindo. Já me derreto toda, putz. Seu corpo perto do meu. Coloco minha mão no ombro dele.

- Você é um maníaco musical, sabia? – digo maliciosamente e olho nos olhos dele.

- Sou, é? E você é muito sensual...

Nos aproximamos e começamos a nos beijar. Eu fecho a boca dele por inteiro. Delícia. Seus lábios me deixam no céu. É tão indescritível, tão sublime. Espera um minuto. Intervenho:

- Vou trocar de música – levanto rapidamente e pego meu disco tão desejado –, colocar a nossa música.

Ele assente com a cabeça. Troco de disco então. Boto pra tocar Leno e Lilian. Perfeito. Nosso momento perfeito. Lindo. Volto e caio nos braços de Matheus. Mas se tiver, devolva-me... Como tal música me impacta tanto? O amor é a finalidade pelo qual o homem almeja e, para qualquer bom amante, entende tal sentimento como divino. Sinto... Coloco minhas mãos em Matheus e subo nele. Ele me envolve e assim trocamos uma carícia voluptuosa. Quero arrancar a sua camisa. Ai... O pescoço... Eu me deliro nessa chama que há no amor. Uma energia que revigora todo o meu ser. Me sinto viva. Percebo que ele também move suas mãos para tentar despir-me. O toque de suas mãos na minha pele. Ele levanta-me e sussurra no meu ouvido. Me arrepio.

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