XVI

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Estávamos bem tranquilos para acordar. Despertei numa lentidão. Me espreguicei. Olivia estava mais acelerada do que eu, pude perceber. Certamente estava ansiosa para a ceia. Era então o grande dia, a véspera e iriamos celebrar naquela noite. Ela espreguiçou-se enquanto eu bocejava, virava para o canto com meu jeito fadigado e disse bom dia para ela.

- Bom dia.

Levantou-se da cama. Foi para o banheiro e pude ouvir o barulho da descarga da privada. Depois ouvi os ruídos dela manuseando a escova para a limpeza de seus dentes. Olhei a janela. A boa lembrança da noite passada me deixava extasiado. Tão bom que é o amor. Nos amamos e parecia que nós dois estávamos bem por fim. O dia era quente, porém tinha nuvens no céu agora. Que horas deveriam ser? Dormi a noite inteira? Não interrompi nada? Como eu me sentia bem. Contemplei o céu com nuvens. As nuvens formavam seus desenhos no céu, pude ver rostos, animais nelas; elas formavam sua paisagem. Deus, O Criador, estava formulando sua obra. Desviei meus olhos da janela. Eu ouvi o chuveiro sendo aberto e ela começando a tomar banho. Descansei brevemente na cama. Olivia saiu do banheiro e começou a vestir sua roupa casual. Apanhou o perfume e esguichou no seu pescoço. Estava bonita e com um cheiro tão bom. Aquele cheiro tão característico dela. Quase cinquenta anos, mas ainda assim era tão atraente com os olhos brilhantes. Me retirei da cama também e fui até ela.

- Talvez eu já devesse pensar no que fazer para hoje. Vamos deixar a carne assando depois. Temos refrigerante, mas estou pensando em fazer um suco, por que não? E farei o arroz...

- Você não ia fazer macarronada?

- Verdade... – se olhou no espelho e arrumou a sobrancelha – Bem lembrado. Faço a macarronada, mais gostoso, não acha?

- Sim... Pode deixar que a carne eu asso. Estou tão feliz com o Natal. Será um ótimo Natal.

Ela voltou para o espelho. Ela se olho novamente e mexeu no rosto. Só que parecia que não havia coisa alguma para retocar. Observei-a. O sol já radiava o quarto. Eu estava contente por tudo. De alguma forma me sentia feliz. Me sentia mais leve. Estava dentro de mim mesmo.

- Não acha que está muito simples, Carlos? Não está?

- De novo isso, meu bem? Já disse e repito, para nós três está ótimo. Basta.

- Eu sei, mas é que... Tudo bem. Será ótimo.

- Tudo bem?

- Tudo bem.

Dei um beijo na bochecha dela. Vi soltar um sorrisinho. Olivia era uma figura inacreditável na minha vida. Juntos há tanto tempo, cada coisa que passamos e ainda assim tenho sempre aquela sensação. Insegurança? Não insegurança de mim, propriamente, mas talvez uma certa insegurança com a vida. Um dia ainda haverá somente paz e a graça de Deus ficará nas nossas cabeças.

Olivia saiu do quarto e eu fui me arrumar. Fui no banheiro e tomei um rápido banho e escovei os dentes. Estava ansioso, afinal era o grande dia. Pensei em Olivia na cozinha começando a vislumbrar como seria a ceia. Sara logo iria acordar e colocar suas canções melosas. O Natal estava próximo. Pedi a Deus que ficasse comigo. Rezei. Vesti minha roupa e saí daquele quarto. O calor ainda habitava dentro da gente. Estava pronto para o começo do dia.



- Não dá pra ser outra hora, não? – resmungou da cozinha. Deveria ser por volta das três horas da tarde. Fitei-a. Por que se incomodava tanto com música? Mesmo secular, detestava tudo que era tipo de música. Não podia ser Chopin ou muito menos Beethoven, não, tinha que ser a música sacra senão não seria nada. Olivia terminou de lavar a louça. Por ela nunca haveria outra hora para colocar o toca-discos para tocar. Sara mexeu no aparelho, pegou o disco de vinil e pôs no prato.

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